O técnico Tite optou por não “bater continência” para o ex-deputado federal e hoje presidente da Republica Jair Bolsonaro após a conquista da Copa América pelo Brasil ontem à noite ao vencer o Peru por 3 x 1 no Estádio do Maracanã quando foram entregues as medalhas aos jogadores. Demonstrando contrariedade, o técnico fez o possível para evitar qualquer interação com o capitão reformado.
Na coletiva após o jogo Tite foi questionado se tinha ficado constrangido por receber a medalha das mãos de Bolsonaro. Ele fugiu do tema novamente: “Não quero falar disso. É futebol. Por favor, vamos falar de futebol”.
Ponto, a recusa do treinador foi o suficiente para desencadear a já conhecida pistolagens ou milícia virtual que quase que imediatamente entrou em ação, seja de corpo presente ou através dos disparos via robôs para fritar o atual treinador da Seleção Brasileira, aliás, se mantido os procedimentos pode até perder o cargo como aconteceu com jornalistas que não rezam na mesma cartilha dos eleitores do atual presidente.
Neste momento, a hashtag #ForaTite e está entre as mais comentadas do país. Até o início da tarde desta segunda, mais de 12 mil menções sobre o tema constavam na rede social de apoiadores de Bolsonaro e ai vale tudo de ofensas pessoais até os ataques a dignidade.
No entanto, houve quem apoiasse a decisão não tão somente do técnico como também do zagueiro Marquinho, é o caso do jornalista Paulo Moreira Leite que garante que gestos dessa natureza são raros em qualquer país, ainda mais numa conjuntura política carregada de incertezas. Expõem indivíduos, podem gerar perseguição e até coisa maior. Basta pensar na promiscuidade reinante entre os cartolas da CBF e o governo federal para reconhecer o valor dessa atitude.
Numa conjuntura como a atual, o gesto de Tite e Marquinhos tem o valor único das atitudes que confortam a cidadania, reafirmam valores de um povo e mostram a importância de manter-se de pé quando o estímulo para ficar de cocoras está em toda parte.
Tite e Marquinhos deixaram claro que ali, naquele gramado do Maracanã, havia uma linha que separa a dignidade e a indecência e decidiu que não iriam atravessá-la. Fizeram muito bem.