ELITIZAÇÃO CAMINHA PARA MATAR O FUTEBOL

ELITIZAÇÃO CAMINHA PARA MATAR O FUTEBOL

A elitização do futebol é algo irrefreável, disse recentemente o amigo e tricolor Ramon, enquanto o não menos amigo, Lourival de Paula, acha que é um absurdo e por isto incansavelmente defende preços menores em determinado momento ou sempre, em determinado setor do estádio, com o único intuito de trazer novamente todos os segmentos do torcedor tricolor de forma indistinta. Em novas épocas, o torcedor quase se transformou em um fã de um bloco de carnaval, isto se desejar pagar preço ao menos justo, e assim então, com o passar dos tempos, os times podem até mudar, mas a torcida terá praticamente a mesma até na quantidade, já que o Bahia, por exemplo, não consegue impulsionar seu quadro de associado, aliás, algo comum no nosso estado que não tem a cultura da associação, seja nos blocos de carnaval que oferecem carnet já em abril e são ignorados pela grande maioria, seja até em entidades de classe, seja nos finados clubes sociais que mesmo oferecendo contrapartida não se sustentaram e fecharam as portas na sua grande maioria.

O improviso e a decisão de última hora fazem parte faz da cultura de todos nós, ou de quase todos nós, além do mais, não existe uma associação perfeita vinda de dentro do campo que justifique a fidelização especialmente nestes momentos de pouco dinheiro, e assim, o torcedor se mantém fiel a idéia de ser apenas torcedor ativo no momento que desejar, desprezando a proposta de se transformar em “cliente” do time que apreendeu a gostar a maiorias das vezes com com alguém da familia, MAS que para isto, necessitar de um cartão ou um crachá de torcedor tipo A ou tipo B.Essa semana o engenheiro e Blogueiro Luis Augusto Simon (Menon) no seu BLOG tratou do assunto numa visão paulista da questão, que se diga, não difere em absolutamente da realidade de nós os torcedores do Bahia e Vitória. Ele finaliza o texto com uma frase emblemática quando diz:Uma paixão popular não resiste se o povo não pode desfrutá-la, algo impossível de não concordar, agora digo eu

imagem mais antiga que tenho de mim, no fundo da minha memória, é de me ver, aos quatro anos, gordinho e arrumadinho pela mamãe, na sala dos meus avós maternos, rodeado por tios, avós, mãe e, incentivado pelo pai, declamar…o ataque do time de meu pai, recém campeão. E que é o meu, até hoje.

O amor por um time vem, na grande maioria dos casos, como uma herança dos pais. É algo a ser respeitado, transmitir uma tradição. Uma das coisas mais horríveis que acho, em termos de educação, é tentar romper esse caminho. O garoto é filho de palmeirenses e vai um tio e dá um uniforme do Corinthians? Na minha família, foi caso de briga. Meu irmão, o Passional, reagiu muito mal a um fato desses.

A paixão vem do pai e cresce nos campos de futebol. Como sou do interior, os jogos do meu time eram ouvidos muito mais do que vistos. No radinho, pela Bandeirantes, com Fiori e Mauro Pinheiro. Era ótimo, mas, quando meu pai organizava uma excursão até São Paulo, na kombi do meu avô, era muito melhor. Eram 20o quilômetros para vir e outro tanto para voltar. A lembrança do jogo era eterna, assim como a do sanduíche no Frango Assado, em Jundiaí.

A primeira ida ao estádio é um rito de passagem. Algo a se contar a amigos invejosos. E as outras, se constituem em um rito. Você vai e se junta aos seus contra os outros. Estou falando de cânticos, bandeiras, festa e não de assassinatos. Mas é, sim, como se fosse uma guerra. Você e sua turma incentivam seus jogadores contra os jogadores rivais e seus apoiadores. Isso faz nascer amizades, cria laços de companheirismo e solidariedade, forma caráter.

Os clubes brasileiros estão rompendo esse caminho herança familiar/presença nos estádios e isso vai acabar voltando-se contra eles. Os ingressos estão caríssimos e são um privilégio quase total dos sócios-torcedores. Quanto mais vão ao estádio, mais pontos ganham nos programas de fidelização. Então, os clubes estão sempre com as arenas lotadas, mas são sempre as mesmas pessoas, exagerando um pouco.

E que tipo de pessoas são? Pessoas ricas, que pagam caro pela presença. E ainda gastam com estacionamento e outros custos. Não há uma parte de estádio reservado para os que não tem dinheiro. A Coreia no Beira Rio, as arquibancadas e gerais do Maracanã e de outros estádios que se modernizaram. Em nome do conforto, foram diminuídos os números de ingressos. E agora, todo mundo é obrigado a torcer sentado. Mas, o povo gosta de torcer sentado? Prefere pagar barato e ficar em pé, ou não poder ir ao jogo?

E, se não vai ao estádio, o que um garoto em fase de gostar de futebol, faz? Fica em casa, vendo televisão. E, convenhamos, a concorrência é enorme. Para que ele vai ver Lucas Pratto, Deyverson, Jô, Guerrero e outros, se o Neymar está a um clique. O Cristiano Ronaldo e o Messi também. Só com muito amor ao time. Só que o amor não está solidificado porque ele nunca viu seu time ao vivo. Não tem plata para tanto.

O fim dessa história é que torcer para o meu Chelsea, o meu Real, o meu Barça deixará de ser coisa de colonizado. Caminhamos para que toda camada da sociedade passe a ter um time estrangeiro como preferencial. E não como segunda opção. Então, vão correr atrás do prejuízos do crime cultural e esportivo que estão cometendo: a elitização forçada do futebol brasileiro. Uma paixão popular não resiste se o povo não pode desfrutá-la.

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Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com



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