O atual presidente Ivã de Almeida, recém eleito, tem sido alvo de criticas não tão somente da torcida do Esporte Clube Vitória como dos conselheiros e pessoas ditas como influentes. As motivação são diversas, no entanto, o inicio do Campeonato Brasileiro onde é o ultimo colocado é onde mora, reside e veraneia as maiores contestações.
Neste sábado o presidente em entrevista concedida a jornalista Fernanda Varela no jornal Correio da Bahia, o abortou diversas questões da sua administração e garante que não existe chance de renuncia. Tece criticas ao ex-presidente Paulo Carneiro que segundo ele, já faliu o Vitória por duas vezes.
Garante que a ameaça de impeachment não lhe tira do prumo. Chamou para a si a responsabilidade da contratação do técnico Alexandre Gallo e garante: Os reforços vão chegar e que não está preocupado com rebaixamento, afinal, são 38 jogos e apenas 5 foram disputados.
Veja a entrevista
Vamos direto ao ponto: existe chance de você renunciar?
Eu não vou renunciar. Nunca. Isso não passa em minha cabeça, porque seria compactuar com esse movimento ilegítimo e patrocinado por alguém que já passou pelo time e já faliu o clube duas vezes.
De quem você está falando?
Hoje, estamos recebendo passivos ocultos. São despesas contraídas lá atrás. Por exemplo, Edinho Nazaré emprestou US$ 500 mil a Paulo Carneiro. Ele nunca pagou. Edinho entrou na Justiça em 2003, depois de ser técnico do clube, e Paulo fez um reconhecimento dessa dívida anos depois. A ação foi ajuizada em 2008, mas essa dívida só estourou agora. A Justiça deu ganho de causa para Edinho e, no primeiro cálculo, já chegou a R$ 8 milhões. Procuramos esses documentos e ninguém tem. Ele (Paulo Carneiro) diz que está por aí. Ele leva todo mundo na conversa, no bico.
Você foi eleito pelo Conselho Deliberativo. Agora, parte do Conselho pede seu impeachment. Isso mexe com você?
Claro que mexe. Mas não me tira do prumo, nem me desequilibra. Nossa chapa foi composta por seis ou sete grupos. Alguém desse grupo saiu e virou oposição. Essa pessoa está lá, cutucando essa turma. Mas é uma minoria. O Conselho, no geral, tem feito o trabalho dele. São vozes pequenas.
Então não tem medo de ser retirado do cargo?
Eu nunca tive medo de nada. Minha vida sempre foi traçada dentro de um padrão com desafios. Para mim é normal enfrentar desafios. A própria eleição foi um desafio. Tínhamos uma chapa que não tinha nem a relação do colégio eleitoral e as outras tinham. Foi muito difícil.
Você tem uma carreira bem-sucedida como professor e empresário. Se arrepende de ter entrado no futebol?
Nunca. Muito pelo contrário. Para mim é um orgulho grande estar aqui. É uma satisfação na minha vida ser presidente. O Vitória sempre representou muito pra mim e sou grato por fazer parte da vida dele. Sou conselheiro há 20 anos e me sinto muito à vontade de estar aqui. Não estou estressado, mas estou com mais trabalho. Nosso diretor de futebol (Petkovic) tem participação mais intensa no centro de inteligência, mas o presidente define em conjunto. Coisas de maior importância, como um afastamento de técnico, cabe ao presidente, não ao diretor. Eu demiti Argel. Em seguida, houve pressão e Sinval pediu desligamento e eu aceitei.
Sentiu-se desamparado após a saída de Sinval?
Exatamente. Mas, depois disso, fiz correções.
Você se arrependeu de contratar Gallo após ver a repercussão negativa com a escolha do nome?
Não. Gallo foi uma escolha. Fizemos uma lista de vários nomes – mais de 30 – e ficaram quatro ou cinco. Ele estava nesse grupo. Estamos no caminho certo. É um técnico preparado, que já passou por grandes equipes do futebol brasileiro.
Uma lista com 30 nomes não é demais? Vocês atiraram para todos os lados, sem procurar um perfil específico?
É muito nome, mas pensei: “quero um técnico”. Colocamos numa planilha todos que interessavam. Observamos e, a partir daí, foi muito tranquilo.
Na hora de definir o nome, o próprio Conselho Diretor consultou outros conselheiros, mas foi uma consulta informal, para saber a opinião. A partir dali, acompanhei todo o processo e tomei a minha decisão por Gallo. Eu estava no Rio de Janeiro e conversei quatro, cinco horas com ele e me convenci que ele tinha o perfil que precisávamos. A partir do meu convencimento eu disse: “Pet, pode anunciar. O treinador é esse aqui”. Pet esteve presente também, mas a decisão foi do presidente.
Acha o Vitória um clube organizado?
Muito organizado. O que tem acontecido é que, nas redes sociais, existem grupos que tentam nos desestabilizar, mas o Vitória tem consciência que a gestão é tranquila. As partes financeira e administrativa funcionam. A única coisa que não chegou ainda foi o resultado em campo. Quanto ao resto, não tem problema. Temos um centro de inteligência onde toda contratação passa por ali e esgotamos todo tipo de pergunta. Temos diretor de futebol, técnico, assessorias. Então, não há problema.
Pet mudou de cargo três vezes em menos de um mês. Não é desorganização? Foi planejado?
Não. Mas isso tudo ocorreu dentro do departamento de futebol. É comum. Em qualquer empresa pode ocorrer, dentro de um departamento, um fato dessa natureza.
Acha isso comum?
O estranho seria ele sair do administrativo ou do financeiro e vir para o futebol. Mas ele mudou dentro do departamento. Ele tem credencial pra ser técnico e gerente de futebol. Não vejo nada de errado.
Se ele tem credencial, por que saiu após quatro rodadas?
Outras equipes também passaram por isso. Paulo Autuori era gestor e técnico. Ficou sobrecarregado e contratou Eduardo Baptista. Tiramos Pet pela sobrecarga. Quando tinha Sinval, eles dividiam. Na hora que Sinval saiu, ficou uma sobrecarga muito grande e o próprio Pet apontou que o melhor caminho seria contratar um técnico que tivesse sincronia com ele e com a própria instituição, com o perfil do clube. Não acho nada de tão anormal nisso, mas poderia ser de outra forma. Criaram muito problema com isso nas redes sociais. Por exemplo, nós só conseguimos fazer ajustes na hora que blindamos o nome do treinador. Antes, qualquer nome que falássemos, era contestado. Chegaram a pedir um técnico sem saber que tinha multa de R$ 5 milhões e salário de R$ 760 mil (Levir Culpi). Não posso me comprometer e depois não poder honrar. Tenho responsabilidade pelas finanças do clube.
Falando agora do campo, o que está acontecendo com o time?
Eu sei que a torcida não está satisfeita. Eu também não estou. Existe uma indignação total de resultados. Nos últimos meses, esse elenco foi muito cobrado, participou de um excesso de partidas e isso afetou muito o condicionamento físico deles. Entramos no Brasileiro faltando quatro ou cinco titulares. Agora, nos sentimos na obrigação de fazer reposição com novas contratações e finalizar contrato daqueles que não foram aprovados não só no nosso período, como no anterior. Precisa ter paciência. Não tínhamos elenco e fizemos contratações em um ritmo acelerado. A gente já previa que uns 30% não vingassem. Agora, é seguir com calma e critério. Os reforços vão chegar.
Como blindar seus atletas?
O mundo hoje é diferente de 15, 20 anos atrás. Por mais que você queira blindar o atleta, existe rede social. Pedimos a eles que evitem rede social. Pedimos também que parem de importunar nossos atletas. Isso afeta, mas não vão nos levar a uma condição de pânico. Estamos tranquilos, sabemos do que precisa ser feito. Agora temos um psicólogo para fazer frente a esse tipo de pressão.
Fala-se muito na filosofia do clube. Que filosofia é essa?
Buscar desenvolver as divisões de base de forma que possa suprir o profissional e trazer grandes talentos para poder mesclar com essa juventude. A dificuldade que tivemos é que pegamos um clube sem divisão de base. Só temos hoje aqueles que entraram com 17, 18 anos, mas ninguém desde menino. Não temos mais isso.
Não é contraditório priorizar a base e negociar Marcelo, Ramon, Nickson?
O jogador da divisão da base deve não apenas suprir o profissional. Eles sobem em um grande grupo. Alguns servem de vitrine, aí eles retornam e a gente pode vender. Chegaram pedindo R$ 1 milhão por Marcelo e vendemos por quase R$ 5 milhões, por exemplo.
Mas não foram contratados jovens. A maioria é experiente. Isso não encaixa na filosofia.
Tem que alinhar as duas coisas. Contratar jogadores mais velhos, experientes, e mesclar com jovens. É que tivemos pouquíssimo tempo. Quase todos tinham contrato encerrando em dezembro. Em janeiro, tínhamos que ter time pra jogar três competições. Acabou que não coincidiu com a filosofia da gente. A filosofia está sendo implantada. Naquele momento, tínhamos um problema, que era formar um elenco. A partir dali, começamos a focar nessa filosofia.
Algum jogador desse elenco já pediu para ir embora?
Não. Mas teve atleta que o clube pediu de volta e ele disse que não, que queria ficar (Patric). Os atletas acreditam no clube, na administração do Vitória. O que incomoda eles é essa oposição de forma burra.
Os atletas te disseram isso? Ou é uma leitura sua?
Não, não falaram nesses termos, mas deixam entendido. Já ouvi atleta dizendo que o que a oposição está fazendo pode afetar o desempenho deles. Um deles percebeu isso e chamou atenção, falou que o ambiente que está sendo criado não é bom para eles (Willian Farias e Fernando Miguel falaram publicamente sobre o assunto).
Você acha que o torcedor está feliz com o seu trabalho?
Tenho cinco meses de gestão. Assumimos um clube com poucos atletas profissionais, construímos uma equipe, participamos de três competições. Fomos campeões baianos e mantivemos a hegemonia. Participamos da Copa do Nordeste e fomos às semifinais. Na Copa do Brasil, fizemos boa campanha e fomos até a quarta fase. Não tenho como achar que fui pior que os outros. O lado negativo até aqui foi o departamento de futebol. A forma que organizou a participação desses atletas não foi boa. Acabou que desgastou muito eles. Isso reflete em campo.
Não foi esta a pergunta.
Quando eu era torcedor, eu tinha essa postura e não imagino que, com eles, seja diferente. Além de estrutura sólida, a torcida quer que ganhe. Até um mês atrás, tínhamos ganho praticamente tudo, estava tudo maravilhoso. Mas entramos no Brasileirão, competição longa. Pode ter certeza que o torcedor que mais está chateado, sou eu. Estou inquieto, quero resultado. A torcida entra na rede social e vê muita notícia mentirosa, confunde a cabeça. Não fico chateado de falarem de mim. Eles têm direito a isso, sem problema nenhum. Mas vamos dar uma virada, não tenho dúvida disso. Ninguém tem o que dizer da minha honestidade, da minha dignidade. Não falam da minha gestão, mas da falta de resultados. Confundem uma coisa com a outra. A gestão não está desequilibrada. O que precisamos é concentração maior e reforços.
É cedo, mas você não teme um rebaixamento?
Não, não estou preocupado com rebaixamento. Nosso foco não é discutir rebaixamento. Estamos no início da competição e a preocupação é começar a pontuar forte. São 38 jogos e só disputamos cinco.
Qual o seu maior arrependimento como presidente?
Não tenho. Estou aqui para servir ao Vitória, à torcida, representar o clube. Mas me incomoda a forma de ataque da oposição. Fui oposição vários anos e sempre ajudei o Vitória no que foi preciso. Todas essas salas (prédio administrativo), eu que mobiliei. Por ser oposição, a pessoa não deve ser contra o Vitória. Até as paredes, eu que trouxe o pedreiro e paguei. Construí o prédio da base. Nunca contei isso e pouca gente sabe. Isso é ser torcedor. Meu maior orgulho é ser Vitória. Pode ser oposição, mas responsável. A instituição está acima de todos. Vamos passar e ela vai ficar.