Há de fato independência no jornalismo?

“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”. Joseph Pulitzer:

Já escrevi, por aqui, algumas vezes sobre a imprensa que divulga o futebol, com alguns elogios e na maioria das vezes, apontando os seus desacertos, principalmente, no que concerne às emissoras de rádio.

Hoje, para se ler, ouvir ou ver, o consumidor de informações tem que conhecer o patrão e seus funcionários, para se realizar uma verdadeira assepsia de eventual e predatória formação, cujos comentários e críticas podem esconder desejo contrariado ou resultado de prévia venda de interesses comerciais.

Não devamos, por protesto, fechar as páginas ou desligar aparelhos eletrônicos, pois se partirmos das desconfianças não iríamos ler mais nada, pois até politicamente quase todos estão ligados a pensamentos preconcebidos da direita à esquerda e de um capital selvagem.

Recentemente, critiquei a Rádio Sociedade, com muito constrangimento. Confesso que pessoalmente tenho um carinho especial, pela referida emissora, talvez a maioria absoluta de minha geração. Lembro-me ainda quando criança, no Interior do Estado, única maneira gratuitamente e mais rápida de sabermos notícias de parentes hospitalizados na Capital era através da referida emissora, PRA-4, pois só existia telefone em Salvador.

A Rádio Sociedade desempenhou um gigantesco trabalho social. Hoje está diferente. À noite predominam programas da Universal. Recentemente, cometeram uma bobagem, na venda de horário nobre para diretoria de clube de futebol. No caso, para o Bahia, às 18 horas. e já se anunciam, também para o Vitória. Não sei se nesta emissora ou em alguma co-irmã. Já escrevi aqui neste blog, pois acho que esta “venda” retira a independência crítica de uma emissora e causa perseguição aos clubes, pelas emissoras restantes, que não tiveram esta receita. O mesmo efeito do jabá.

Poderiam até indagar, será que não temos TV, Canais por assinatura, etc? Sim, mas quando você se encontra em locomoção diário, nos grandes engarrafamentos, é a emissora de rádio que atenua o nosso “stress”. Assim ocorre nas grandes metrópoles do mundo.

Perdoem-nos mas fiz esta longa introdução, para destacar o que significa uma imprensa livre e o contrário que acaba de ocorrer com Osmani Simanca, do jornal A Tarde, que estavam a lhe proibir charges com políticos e ele dá exemplo. Vejam  (AQUI)

Não preciso dizer mais nada. Leiam:

“Nota de esclarecimento sobre a minha demissão do Jornal “A Tarde”

Serei sempre muito grato pela oportunidade que tive, quando há mais de 15 anos comecei a trabalhar em “A Tarde”, periódico com uma tradição jornalística de mais de 100 anos. Foi sem dúvida uma honra publicar, aprender e aperfeiçoar-me com meus caros colegas e amigos. Durante minha estadia no diário ganhei importantes prêmios nacionais e internacionais e meus desenhos publicados originalmente em “A Tarde” foram, frequentemente, reproduzidos por outros jornais e revistas ao redor do mundo.

Depois da penúltima mudança na direção do jornal comecei a ser questionado sobre o conteúdo das minhas charges, sendo algumas delas censuradas. Estes desenhos proibidos foram reproduzidos com grande sucesso em outras mídias. Havia muito tempo que textos e matérias completas dos meus colegas eram cortados, mas não a charge. A charge era um pequeno oásis num deserto de tesouras.

É difícil ter liberdade sem independência econômica. A maior parte da imprensa sempre dependeu da propaganda dos governos. Isto não seria problema caso estes governantes não pressionassem jornais e jornalistas, e se jornalistas e jornais democráticos não se deixassem pressionar para escrever elogios ou críticas desmerecidas. Nosso rumo deve ser sempre definido pela ética e pela virtude, coisas raras nestes tempos sombrios, cheios de ódio e intolerância. Dizia Joseph Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.

Com a última mudança na direção do jornal, as pressões aumentaram ao ponto que tive que explicar o que era uma charge, e qual era o papel da sátira política em uma sociedade democrática e na imprensa livre. Fui indagado sobre quem me dava as pautas ao que respondi que as pautas eram os fatos, os quais pesquisava em profundidade, consultando várias fontes e colocando minha opinião na forma do jornalismo gráfico, caracterizado pela charge ou caricatura política. Fui advertido para não mexer em determinados temas e personagens, uma tarefa impossível no meio da putrefação política e ética em que se encontra o Brasil.

Quero agradecer às demonstrações de solidariedade de meus colegas, amigos e leitores por referencia a minha demissão sem justa causa e cuja verdadeira causa, de maneira resumida, expliquei neste texto.

Termino aqui, com este pensamento de Eurípedes:

“Todo o céu é da águia o caminho,

Toda a terra é do homem nobre a pátria”

Osmani Simanca”

Atahualpa – Amigo e colaborador do BLOG 

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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