Futebol Brasileiro anda para trás

O jornalista britânico Tim Vickery é um estudioso do futebol sulamericano, ele cobre campeonatos do continente como correspondente internacional da emissora de TV britânica BBC e escreve também para revistas e sites especializados em futebol. Recentemente, Tim escreveu uma matéria sobre a “jogada” da CBF em conjunto com as federações estaduais para barrar o avanço dos clubes sobre o comando dos destinos do futebol nacional para o site WorldSoccer, especializado em futebol. No texto, Tim faz uma breve explanação do modelo anacrônico de governança do futebol brasileiro onde os clubes grandes são penalizados e as federações estaduais dominam a politica da bola se utilizando dos clubes pequenos como voto de cabresto para mandar e desmandar.

“No mesmo dia em que a Seleção Brasileira deu um grande passo a frente, o futebol brasileiro moveu-se em direção oposta.

Na quinta-feira passada(23 de março) os comandados de Tite aproximaram-se da qualificação para a Copa do Mundo da Russia com a sétima vitória consecutiva- e esta de virada para bater o Uruguai for a de casa por 4×1, o mais expressivo triunfo da caminhada

Mais cedo, no mesmo dia a Assembléia Geral da CBF, fez um movimento Machiavélico e optou por manter os campeonatos locais na idade das trevas.”

Ele segue descrevendo:

“Um dos maiores problemas do futebol brasileiro é a sua estrutura politica. O país é dividido em 27 estados. Cada estado conta com uma federação e o balanço de poder dentro da CBF se sustenta através das federações estaduais.No passado, num país de dimensões continentais esse arranjo fazia sentido, faz tempo que esse modelo já não tem mais lógica.”

O jornalista segue dizendo que o elemento principal do futebol brasileiro, os grandes clubes com os seus milhões de torcedores são mantidos subservientes as federações estaduais, elas mantém a sua base de poder manipulando os numerosos clubes pequenos, as federações segundo Vickery não representam o futebol nos seus estados, elas representam os próprios interesses.

Essa é a principal razão da continuação dos campeonatos estaduais que ocupam espaço no calendário de Janeiro a Maio e criam problemas para os grandes clubes, segundo o jornalista, em nenhum outro país os grandes clubes jogam tanto contra times pequenos como no Brasil devido aos ultrapassados estaduais e isso faz com que os grandes clube operem abaixo do seu potencial econômico, além de trazer poucos benefícios para os pequenos que de fato apenas jogam para valer durante 3 meses por ano, porém, esse sistema favorece as federações que lucram com participações nas vendas de ingressos(pouca grana) e direitos de TV(muito grana).

O congresso tentou intervir a favor dos clubes para mudar a legislação criando leis para que a admnistração do futebol se torne mais profissional, uma das mudanças mais significativas foi a o aumento do número de votos dos clubes nas assembléias da CBF garantindo votos para os clubes da serie A e também serie B, isso daria aos clubes a maioria dos votos nas assembléias, mas a CBF através de uma Assembleia Geral sem a participação dos clubes alterou o seu estatuto dando peso maior aos votos das federações, se o projeto parlamentar traduzia-se em 40 votos para os clubes e 27 para as federações, as alterações da assembleia deram peso 3 aos votos das federações, 2 aos clubes da serie A e 1 aos votos dos clubes da serie B, fazendo o placar virar para 81 x 60 em favor das federações, numa afronta ao projeto do congresso e demonstrando claramente que as federações e CBF jogam para sí e contra o futebol nacional.O deputado federal Otávio Leite autor do projeto comentou que o espírito da lei foi ofendido, o treinador Paulo Autuori disse não haver democracia no sistema, além disso, as mudancas tornaram ainda mais difícil um candidato favorável aos clubes ser eleito para a presidência da CBF pois agora será necessário o apoio de 8 federações e de pelo menos 5 clubes, oposição praticamente extinta nesse cenário.

O Jornal Lance chamou o acontecido de “farsa e de derrota da honestidade, transparência e profissionalismo do nosso futebol”

O presidente do Santos, Modesto Roma declarou que os clubes foram traídos.

Enquanto a seleção de Tite marcha em direção a Copa com tranquilidade, os clubes brasileiros seguem incapazes de se organizar e fundar uma liga própria de respeito devido a falta de cooperação entre sí e o medo de se separar da CBF, continuam as mínguas sem controle do próprio destino enquanto a CBF de cofre cheio joga contra eles e contra o futebol brasileiro.

Com a palavra o torcedor.

*Texto parcialmente traduzido de matéria de Tim Vickery para WorldSoccer.com.

Yvez Pineiro

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