1989. Ano do fim iminente da guerra fria, ditaduras se diluindo ao redor do mundo, com a queda do muro de Berlim, ato simbólico que decretou o encerramento de décadas de disputas econômicas, ideológicas e militares, e a expectativa de um novo rumo para a humanidade, a primeira eleição direta para presidente do Brasil. O massacre na Praça da Paz Celestial em Pequim.
Ano do centenário da Proclamação da República Brasileira, e também da nova lei do divórcio, sancionada por José Sarney. Ano em que a população se despedia do “Pai do Rock Brasileiro”, o cantor baiano Raul Seixas, e também do mestre Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”.
Em essência uma nação que, como dizia Caetano Veloso, “balança o chão da praça enquanto sua dor balança, balança o chão da praça”. Naquele ano, outra nação vivia seu momento histórico. A nação tricolor presenciava seu clube amado, novamente, à conquistar um título nacional, 30 anos após derrotar, nada mais nada menos, que o Santos de Pelé.
Um momento único para o sofrido povo nordestino, a superação de preconceitos e limitações financeiras e estruturais, em uma época aonde o futebol não era tão visado e tão pouco valorizado. Naqueles dias eu ainda não era nascido, mas meu pai presenciou a semifinal contra o Fluminense, aonde quase 120 mil pessoas em um delírio coletivo de felicidade vibravam com a classificação para final. A Fonte Nova, vestida de azul, vermelho e branco, tremia de pura emoção. Do lado de fora, uma multidão querendo entrar.
Após a virada histórica no primeiro jogo da final, o Brasil se preparava para o que seria o título “certo” do Internacional de Taffarel. A mídia debochava e ironizava o nome dos jogadores do Esquadrão de Aço, como o craque e eterno herói, Bobô, e a Bahia se unia em um misto de fé e esperança para vivenciar um momento que ficaria marcado para sempre.
E o que parecia um milagre, aconteceu. O Brasil se rendeu ao Esporte Clube Bahia. A mídia perplexa teve que reconhecer o talento daqueles jogadores, o “paredão” Ronaldo, a elegância sutil de Bobô, e a união de um time humilde, comandado por um mestre chamado Evaristo de Macedo, e empurrado por milhões de apaixonados. Quase quatro décadas já se passaram, e as lembranças daquele time permanecem e permanecerão vivas na memória de cada tricolor.