O torcedor do Bahia não tem culpa de nada em relação à formação dos atletas da divisão de base. O torcedor é a razão pela qual o futebol se tornou o maior esporte do planeta e se existe alguma grandiosidade no Esporte Clube Bahia, ela deriva da sua torcida. No futebol o torcedor é a alma, o espírito, a essência, sem o torcedor não existe público no futebol e sem público não há espetáculo. Como analogia, culpar o torcedor pela falha da base no seu intuito, é como culpar o cliente pela falência da empresa, como quase sugeriu o tricolor Henrique Ferreira em seu texto (veja aqui).
O Esporte Clube Bahia, como empresa, tem como produto o futebol, logo a razão de ser do Bahia seria promover bons jogos de futebol, para que os seus torcedores sejam agradados e tenham o retorno do seu investimento (ingresso; merchandising…). Pois bem, para promover os tais jogos, o Bahia conta com uma equipe de futebol. Essa equipe é formada por jogadores contratados para executar a tarefa de jogar futebol, com qualidade para entreter o torcedor.
Como se assegurar de que os jogadores contratados performem suas atividades com qualidade? Em todos os ramos e em todas as profissões, a única maneira de fazer os funcionários executarem suas atividades com qualidade é o binômio TREINAMENTO + PRÁTICA. Os indivíduos devem ser treinados para executar suas atividades e praticar a sua performance para que, com o tempo, estes executem as atividades treinadas com melhor eficiência. Futebol não é diferente, ou seja, para o indivíduo se tornar um bom jogador de futebol ele precisar ser? TREINADO, e para que ele execute esse treinamento com melhor qualidade e precisão o seu treinamento precisa ser? PRATICADO.
Existem apenas duas formas de adquirir jogadores para uma equipe, ou você os contrata FORMADOS (Treinados e com experiência), ou você os FORMA. Finalmente, chegando ao ponto da questão, o que é a BASE, para que ela serve e como ela é gerida? A BASE é uma das duas maneiras que um clube tem de adquirir jogadores, basicamente, a BASE é a formação de um atleta profissional de futebol, a sua escola, a sua universidade, a sua formatura. Jogadores podem aprender a jogar sem passar por uma base, no entanto, a BASE, teoricamente, oferece ao jogador não somente a teoria do futebol, mas a chance de pratica-lo no ambiente adequado e com todos os recursos disponíveis para tal. A BASE é uma ESCOLA DE FUTEBOL.
Nessa escola, o aluno (o jogador), só se torna de fato jogador quando se forma, ou seja, quando se torna PROFISSIONAL, até lá ele é um ASPIRANTE. Nessa escola, portanto, o ASPIRANTE deve ser treinado, aprender as boas praticas da posição (ou posições) que os seus treinadores percebam adequadas à sua qualidade inicial. Com o tempo, o ASPIRANTE vai desenvolver a sua habilidade, vai aprender a jogar melhor e com o tempo deveria chegar à idade de transição para os profissionais dotado das qualidades necessárias à prática do FUTEBOL, a nível PROFISSIONAL.
Mas, na realidade, o que acontece é que a grande maioria dos jogadores que chegam ao fim do percurso da BASE e às portas do profissionalismo, não tem qualidade suficiente para jogar em times profissionais, quiça, em times das divisões mais altas dos nossos campeonatos, POR QUÊ?
Ora bolas, está claro que existem falhas no processo de formação dos atletas, as tais BASES não atuam como formadores, elas, na verdade, atuam como FILTROS onde os jogadores são processados de acordo com o seu TALENTO natural e onde os clubes carregam a esperança de que, alguns, se revelem hábeis o suficiente para jogar profissionalmente, quando atingirem a idade para tal. Por essa razão, alguns colegas aqui comentaram sobre os antigos OLHEIROS, que eu realmente admito nem sei se ainda atuam. Os OLHEIROS seria profissionais dotados da capacidade de avaliar o potencial de garotos e jovens, e traze-los para a BASE de clubes.
Nesse modelo de FILTROS, o trabalho dos olheiros é o mais importante, porque trás para os clubes os aspirantes com maior potencial de sucesso. Porém, com as leis que hoje existem, a questão do passe é notória para muitos jogadores que passam pelas BASES Brasil afora, sem serem qualificados, mas porque possuem capacidade física e algum talento relativo, são abraçados por empresários gananciosos que vendem GATO por LEBRE e forçam os clubes a contratarem jogadores de baixa qualidade a peso de ouro, mesmo no nível da BASE.
Essa minha visão do panorama da BASE é bem simplória, mas explica o ponto que eu quero fazer no argumento. O problema da BASE do Bahia, e também da maioria dos clubes, não é a torcida exigente, o problema é o modelo de formação dos ASPIRANTES A JOGADOR PROFISSIONAL DE FUTEBOL, o modelo de filtro não é mais compatível com o nível necessário de atletas bem formados para competir em alto-nível, o que falta é uma formação de qualidade nas BASES dos clubes, verdadeiramente, ensinar futebol aos garotos, não somente como tocar na bola, atacar e defender, mas também como trabalhar em equipe, tática e o que significa fazer parte de uma empresa/equipe, ensinar o valor da instituição, valores para serem profissionais de qualidade.
Infelizmente, o mundo do futebol é arcaico em muitos aspectos, Coronéis da bola continuam com práticas atrasadas que não ajudam ao esporte e, especialmente, aos clubes que não são abastados, mas onde falta dinheiro deve-se trabalhar com criatividade e inteligência, a BASE tricolor é mal administrada, não forma jogadores, não os ensina a serem bons jogadores, ela é apenas um FILTRO, e por esse FILTRO tricolor existem profissionais de baixa qualidade avaliando os ASPIRANTES ou, então, o BAHIA está passando por uma fase de azar interminável, onde nenhum talento digno de nota passa pelos portões do FAZENDÃO.
Eu acredito que o problema da nossa BASE não está na torcida EXIGENTE e sim na incompetência de persistir com um modelo de BASE ultrapassado, que não produz JOGADORES PROFISSIONAIS e, ao invés disso, fica rezando para o Senhor do Bomfim que algum talento chegue até nós, mas para isso se utiliza de OLHEIROS CEGOS. Ou o Bahia moderniza a sua gestão da BASE e passa a formar os seus talentos, ou ele vai ficar no atraso eterno.
E para não dizer que sou cruel, como fase intermediária para isso, pois essa mudança pede investimento que talvez o clube não seja capaz de fazer no momento, que pelo menos contratem OLHEIROS que prestem. A torcida é EXIGENTE, sempre foi e sempre será, e isso nunca impediu o Bahia de revelar jogadores. Culpar o torcedor pela incompetência dos dirigentes, é apenas apontar dedos sem criar soluções para o problema. Ao invés de tentar mudar o torcedor, nós temos que mudar o BAHIA para que ele avance e produza os resultados que vão fazer o seu torcedor vibrar nas arquibancadas. O torcedor é a razão, o torcedor é a alma de um clube de futebol.
BBMP!
Cangaceiro – Torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Baiano.
