“As instituições sociais se encontram enfraquecidas, há muito questionamento, valores tradicionais são rompidos e novos surgem, muita gente vive em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados.” Desculpe-me, Durkheim, mas trouxe para o presente o seu pensamento.
Vivemos a era de um presidente que traiu sua companheira de chapa para implantar o plano de governo do candidato perdedor, com a ajuda de um deputado ladrão que está preso. O Congresso virou piada desde a votação do impeachment e segue sendo comprado, sem consequências, sempre que aparecem novas denúncias e provas contra o líder do Executivo. Um Judiciário, quando não, omisso e refém da mídia, seletivo e fazendo parte do grande acordo nacional, com o Supremo e com tudo, como profetizou Romero Jucá.
Mas que diabos tudo isso tem a ver com futebol bahiano? Tudo!
O futebol Baiano de 2018 é a cara dessa sociedade descrita como doente, pela sociologia. A Federação Baiana de Futebol virou uma piada. Seu campeonato foi tristemente comparado com o Campeonato Carioca, dos times pequenos, e perdeu. A dupla Bavi receberá, cada um, 850 mil reais para disputar o estadual, de cota de televisão. O time do Boavista, no Rio de Janeiro, receberá 4 milhões, da mesma cota. O Linense, em São Paulo, um dos clubes que menos receberá da televisão, embolsará meros 3,3 milhões. O Campeão Baiano ganhará apenas uma Taça, Medalhas, tapinhas nas costas, um ano pra brincar com o rival, mas nada de grana. Uma vergonha, mas é só início da série.
O bavi da primeira fase do Baiano foi uma sucessão de coisas vergonhosas. A começar pela briga das Torcidas Organizadas, fora do estádio. Seguido pelo público de menos de 20 pagantes para um clássico. Passando pela briga imbecil dos jogadores e culminando numa cena patética de um time fugindo de campo e forçando o fim da partida, contra o seu principal adversário, dentro dos seus domínios, sob os gritos de “Time de Guerreiros”, vindo da sua torcida. O episódio gerou a hashtag #FugaDasGalinhas, nas redes sociais, para imortalizar os “guerreiros”.
Como se não bastassem as cenas ridículas protagonizadas dentro de campo (porém, única coisa do campeonato que deu visibilidade internacional à competição), na coletiva o técnico do time que se retirou de campo, mentia copiosamente sobre não ter forçado o fim do jogo, e ainda desafiava os jornalistas a apresentarem as provas. Bem, as provas apareceram.
Então, vamos pro TJD-BA da FBF.
Lá, a vergonha prosseguiu. Os brigões pegaram penas brandas, entre 8 e 10 jogos do Baianão. O técnico Mancini, que ordenou o jogador a forçar o terceiro cartão amarelo, foi absolvido por falta de provas, com o TJD ignorando o trabalho de leitura labial solicitado pelo Bahia, que não pode entrar como 3º interessado no caso. O cara que forçou o fim da partida, também absolvido. E o time que ficou sem o número mínimo de jogadores em campo, foi punido apenas com multa pecuniária.
Como desgraça pouca é bobagem, os dois clubes que prometiam punir os brigões, que envergonharam ainda mais o ridículo Ednaldão, entraram com recurso para conseguir efeito suspensivo das penas. E pasmem, conseguiram. O TJD que puniu de forma “maternal”, agora deu uma de avó e liberou os jogadores do castigo. Quarta-feira eles voltarão ao Baiano.
O Bahia, até então, saia ileso da palhaçada. Mas ao pedir a suspensão da pena de Edson e Becão, mostrou-se conivente com a violência e “usuário da moral” apenas quando lhe convém. Lamentável, presidente Bellintani.
Triste, Bahia
O falido Campeonato Baiano é a cara do seu presidente, há décadas no poder. O TJD, que deveria moralizar a bagunça, mais uma vez mostrou-se fraco e sem credibilidade. Agora é esperar pra ver se esse “grande acordo” será com o Supremo e com tudo, quando chegar ao STJD.
O Vitória segue inimputável, como aquele dono do helicóptero com 400kg de cocaína. A aeronave pertence ao Senador, que é chefe do piloto e dono da fazenda onde a Polícia Federal o encontrou, mas ninguém sabe quem é o dono da droga.
E o Bahia… bem, o Bahia fez o que todo mundo faz, né? Usou as brechas da lei ao seu favor.
“Triste Bahia, oh, quão dessemelhante…”.
Por Erick Cerqueira