Eleito no primeiro turno o empresário Ricardo David é o novo presidente do Vitória. Uma nova cara e enormes esperanças que a situação política do clube se estabilize e o clube entre nos trilhos e volte oferecer alegrias aos seus torcedores que sofreram nos últimos dois campeonatos da 1º divisão, ainda que tenham conquistado o bicampeonato baiano. Antes de eleito prometeu manter os dois maiores destaques da equipe este ano, Tréllez e David. Após eleito já assegurou a presença do técnico Vagner Mancini e anunciou Erasmo Damiani como o homem forte do futebol do clube em 2018.
Hoje o novo presidente em entrevista concedida ao jornalista Vitor Villar do Correio da Bahia, traçou metas, revelou planos, mas foi, sobretudo cauteloso, não fez promessas mirabolantes ou mencionou sonhos impossíveis. Completamente com os pés no chão, apenas promete um time competitivo em busca do tricampeonato baiano e mais um titulo da Copa do Nordeste. Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro sabendo das dificuldades, admite apenas que irá até de fato onde o braço pode alcançar.
Veja a entrevista
C.O: Você contrariou as expectativas de segundo turno e venceu com 52% dos votos. Foi uma surpresa para você também? Qual é a sensação da vitória?
Ricardo David: A sensação é de objetivo alcançado. Não foi uma surpresa. Fomos eleitos no primeiro turno porque seguimos um planejamento ao longo dos últimos seis meses. Desde que Ivã de Almeida se licenciou pela primeira vez a gente percebeu que haveria uma nova eleição e nos preparamos. Trabalhamos confiando em vencer no primeiro turno. Fomos eleitos pelo sonho de presidir o Vitória, pela paixão que a gente sente e por acreditar que o nosso conhecimento de gestão será importante para mudar a história do nosso clube.
C: Este é o seu primeiro dia como presidente. Quais ações tomou até agora? Como será executada a transição entre diretorias?
RD: Fomos ao Barradão logo cedo, às 8h, reunimos as equipes e deliberamos as ações. O nosso vice-presidente Chico Salles ficou responsável pela transição financeira e está desde cedo reunido com Marcos Charastelli, atual CEO (executivo de planejamento) do Vitória. Nosso diretor de futebol Erasmo Damiani ficou encarregado de se reunir com Cleber Giglio (antecessor no cargo) para pegar as informações sobre o futebol. E Anderson Nunes, outro membro da nossa equipe de campanha, está reunido com as áreas de marketing e comunicação do clube. No final do dia, vamos ter uma reunião com toda essa equipe para consolidar as informações e traçar os passos
C: O processo de transição vai demorar? Pretende mudar muita coisa da última gestão, principalmente no pessoal?
RD: Não pretendo adotar a política de terra arrasada. Queremos agora entender como cada departamento do Vitória funciona e por quê. A gente conhece do futebol, mas para saber do financeiro, do jurídico, é preciso estar lá dentro. Nós temos um entendimento de como essas áreas devem funcionar. Então, o que vamos fazer é coletar as informações de cada departamento e compará-las com o nosso planejamento. O que estiver adequado, continuará. O que não estiver, realizaremos as medidas de ajuste em todos os sentidos.
C: Pelo que já conversou com Agenor Gordilho (ex-presidente interino), você vai encontrar os cofres do clube em boas condições para trabalhar?
RD: Estamos prontos para tudo. Quando você sabe a condição que vai encontrar e se planeja para ela, não há sobressalto. Claro que não me planejei para encontrar R$ 30 milhões no caixa do Vitória. A gente sabia o quanto houve de má gestão financeira e tínhamos a convicção de que encontraríamos o Vitória com as finanças apertadas. O que precisamos agora é medir o quanto. Nosso vice-presidente vai nos dar a correta dimensão do que teremos à disposição. Dependemos desse valor para fazer o planejamento pelo menos dos primeiros três meses. Vai nortear quantos jogadores poderemos contratar, com qual folha salarial vamos trabalhar.
C: O Vitória fechou 2018 com 32 jogadores no elenco. Destes, 19 têm contrato. Qual o tamanho do elenco com que você pretende trabalhar em 2018?
RD: O nosso plano a longo prazo é ter mais ou menos 33 atletas. São três por posição, mas para goleiro podemos ter um pouco mais. Queremos que 11 desses atletas, os “segundos reservas”, como eram conhecidos antigamente, sejam oriundos da base ou sejam sub-23 contratados após observação em outros mercados. Queremos ter sempre uma opção mais jovem no elenco, seguindo um protocolo de transição dos que saem das divisões de base para o profissional.
C: Há uma prática no Vitória de negociar atletas para se ter um orçamento melhor. Acha que terá que fazer isso nessa temporada? De repente, negociar David?
RD: Não é algo que me agrade. Você vende um jogador de qualidade para resolver um problema financeiro, mas depois tem que ir atrás de outro e pagar para fazer a reposição. Então para que fazer isso? Tem que se fazer de tudo para que o bom jogador fique. Acho que essa é uma prática antiga do futebol que pode ser substituída por uma nova. Como o Sport fez com Diego Souza. Você tem que ter maneiras de convencer o atleta a ficar. O Vitória é um clube com infraestrutura voltada para desenvolver o atleta. Acredito que essa gestão chega respaldada e pode interferir nessa ideia de que sempre que um jogador do Vitória se destaca, ele tem que ser vendido.
C: Kanu, Patric, Caíque Sá, Uillian Correia e André Lima tiveram bom rendimento com Mancini, mas chegaram ao fim dos seus contratos. Vai procurá-los para renovar?
RD: Acredito que os cinco interessam a Mancini. A gente só precisa ajustar isso. Hoje (quinta-feira, 14) à noite, devemos ter uma posição definitiva de Damiani e do técnico. Agora, obviamente que isso precisa ser contrastado com a nossa capacidade financeira. Esse planejamento terá que ser integrado com a equipe que cuida da transição financeira.
C: Cleiton Xavier e Kieza tiveram uma temporada ruim e possuem contrato com o Vitória para o ano que vem. Vai liberar esses jogadores para negociação?
RD: Os dois têm contrato e portanto vão iniciar a pré-temporada, salvo se houver por parte do nosso treinador a sinalização de que eles estão fora dos planos para 2018. Mancini não nos passou essa informação ainda. Damiani e ele iniciaram a conversa sobre esses detalhes e vão decidir. Mancini está no Rio de Janeiro (fazendo um curso para técnicos da CBF) e ontem à noite, quando saiu a minha vitória, já eram 23h lá… Obviamente que não era hora de tomar uma decisão importante como essa.
C: Hoje, o estatuto do Vitória permite contratação de executivos para todas as diretorias. Como pretende montar a sua?
RD: Nós teremos um diretor que cuidará de toda a área de mercado, marketing e comunicação. Esse setor buscará patrocínios, lidará com licenciamentos, fará nossas campanhas, cuidará das nossas mídias. Teremos ainda uma direção ligada às relações institucionais. Reunirá todo o relacionamento do Vitória com a CBF, FBF, Judiciário, tudo o que cuida da parte legal do clube. O setor jurídico estará nela. Gosto de formar equipes assim, mais enxutas, mas com profissionais capacitados. Tenho esse conceito de que assim a gente consegue um planejamento financeiro melhor e resultados melhores também.
C: Quais seus objetivos em campo para a próxima temporada?
RD: Em relação ao Baianão e à Copa do Nordeste, não há outro objetivo senão brigar pelos títulos. A Copa do Brasil, com esse formato que conta com a entrada os clubes da Libertadores, ficou muito diferente daquele do passado e a gente sabe do grau de dificuldade. Mas a gente quer ir o mais longe que puder nela. No Brasileiro, veja que, se o Flamengo tivesse ganhado a Sul-Americana, seriam nove clubes brasileiros na Libertadores. Entre os clubes classificados você acha uma Chapecoense, com orçamento menor que o nosso, um Vasco, clube que nas últimas temporadas ficou naquela de subir e cair para a Série B. Então, não é nada que não possa ser alcançado pelo Vitória. Nosso plano é montar uma equipe que brigue por essa parte de cima da tabela. Não sei se teremos a mesma sorte de ter nove indo para a Libertadores, mas buscaremos posições mais audaciosas do que o 16º lugar das duas últimas temporadas.
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