Sempre escutei as pessoas dizerem que há coisas que não se escolhe, é muito comum ouvir essa sentença quando o assunto é uma queixa a respeito de um parente próximo, normalmente um tio, um primo, e na maioria absoluta das vezes, um cunhado. Aliás, sou obrigado a dizer que nunca vi uma categoria de parente mais esculachada que a dos cunhados, falo isso com uma certa propriedade, pois tenho dois irmãos e não foram poucas as vezes que tomei conhecimento de comentários queixosos, a maioria deles cobertos de fundamentos, que as suas esposas fizeram ao meu respeito depois de eu ter lhes feito alguma visita.
Fiz essa pequena introdução apenas para registrar que se há coisas que não podemos escolher, caso dos exemplos citados acima, existem outras que os aborrecimentos são causados integralmente por nossa responsabilidade, mesmo que a escolha tenha sido feita no momento de maior imaturidade emocional.
Lembro que em um certo dia do ano de 1988, o meu pai chegou em casa me perguntando se eu não queria ir para a Fonte Nova. Rapidamente fiz uma consulta aos meus irmãos mais velhos e eles me disseram que durante o jogo ele sempre comprava amendoins, pedaços de cana presos em um palito, cachorro quente, refrigerante, e se o time ganhasse, ainda tinha um sorvete em uma sorveteria no bairro da Barra.
Logo no estacionamento o meu pai encontrou com um grupo de amigos, eles faziam o meu velho parecer muito mais legal que a pessoa que eu via todos os dias lá em casa. Em determinado momento do jogo o assoprador de apito assinalou um pênalti a nosso favor e o zagueiro da camisa número quatro nos colocou em vantagem no placar, não lembro de ter recebido um abraço tão forte do meu pai e nem de te-lo visto sorrindo em nenhum outro dia antes deste. O time visitante empatou a partida, mas logo no início da segunda etapa outro pênalti foi marcado a nosso favor e mais uma vez o zagueiro uruguaio da camisa quatro nos botou em vantagem.
Ainda deu tempo para um ponta esquerda que carregava após o nome as iniciais de um famoso partido político, aquele mesmo da estrela vermelha, fazer o terceiro gol e o time visitante marcar o seu segundo. Lembro que a partida acabou em pancadaria e os amigos do meu pai gritavam que ganhamos na bola e no tapa. Fiquei muito feliz nesse dia e o meu velho pai mais ainda quando lhe pedi uma camisa vermelha e preta que um ambulante vendia estendida em um varal em frente ao estádio. Foi nesse Vitória e Portuguesa que decidi para qual time torceria, agora não adianta reclamar, pois como diz o título do texto, tem coisas que somos nós que escolhemos e agora não podemos reclamar.
Alex Oliveira, torcedor do Vitória e colaborador do Futebol Baiano.