Se fosse o ilustre e saudoso torcedor Jotinha que tomasse conhecimento de tão pobres e fuleiras ambições do gestor do Bahia para o Brasileirão, expressas em um cartaz esquecido nos vestiários do estádio Roberto Santos, teria ficado “virado nos seiscento”. Como o baixinho já se encontra em outro plano, seu espírito deve está protestando e esperneando de acordo com as permissões existentes no além, enquanto se o Boris Casoy ainda estivesse na ativa e fosse torcedor do Bahia, ao divulgar uma notícia dessa, com certeza, dispararia o seu famoso jargão: “Isto é uma vergonha” e em seguida diria: “Vamos passar esse clube a limpo”.
Já esse modesto escriba, ao tomar conhecimento da tão mesquinha meta, ficou revoltado, irritado e indignado ou, no melhor baianês, “virado no estopô”, porque isso não é nada mais e nem nada menos do que o tal “Complexo de vira-lata”, que se instalou na cabeça do presidente do Bahia, que só o tem apequenado, querendo transformar esse gigantesco clube num arremedo de clube em estado de gigantismo. Para quem não sabe, a expressão “complexo de vira-lata” é de autoria do saudoso dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, criada após o trauma da Seleção Brasileira por ter perdido para o Uruguai no Maracanã, o título da Copa do Mundo de 1950.
Infelizmente, essa é a realidade do futebol do Bahia, só que eu pensava que esse complexo do “viralatismo”, era imposto ou articulado pelo próprio elenco, quando cheguei à salientar aqui, em comentário anterior que, era imperativa a vinda de um treinador que fosse capaz de mudar a mentalidade dos atletas, por entender a falta de comprometimento e de empenho do time para vencer os jogos, no entanto, após o achado desse cartaz esquecido nos vestiários, anunciando meta tão bizarra e bisonha, pude chegar a conclusão de que a ordem para frouxidão do time vem de cima, ou seja, uma expressa determinação da diretoria, naturalmente, objetivando o time só se preocupar em jogar, apenas, para atingir a conta do chá, leia-se, à mera permanência na Série A.
Imagino que esse tal complexo, já vem existindo desde outros carnavais, com a gestão que antecedeu a atual. Lembro-me, muito bem, do Brasileirão de 2017 quando na reta final, o Bahia alimentou as expectativas do torcedor dando à falsa impressão de que conseguiria “beliscar” uma vaga na Pré-Libertadores, num ano atípico em que o G-6, se transformou em G-9. O fato foi que, quando chegou na 36ª rodada o Bahia somava 49 pontos e a Chapecoense 48 pontos, com um confronto na Arena Fonte Nova na 37ª rodada, onde o Bahia deu a costumeira caruara, perdeu de 1×0, foi ultrapassado pelo concorrente e na 38ª rodada, a Chape venceu o Coritiba por 2×1 e o Bahia ficou no empate de 1×1 com o São Paulo, que não aspirava mais nada. Resumo da ópera: a Chape obteve a vaga em 8⁰ lugar com 54 pontos e o time do Bahia amargou a 12ª colocação com 50 pontos, frustrando e irritando o seu torcedor.
Já em 2018, primeiro ano da gestão Bellintani, mais de 45.000 torcedores na Fonte Nova, presenciaram o trágico empate de Bahia 0x0 Sampaio Corrêa, resultado que deu ao time maranhense o primeiro e único título da Copa do Nordeste, com o Bahia tendo como treinador, Enderson Moreira, que após o vexame permaneceu, de boa, no comando do time. No ano subsequente, foi a vez do Bahia ser eliminado logo no jogo de estreia da Copa do Brasil, diante do modesto River do Piauí, sendo derrotado por 1×0 e, consequentemente, sendo eliminado precocemente da competição, com o time sendo comandado por Roger Machado, treinador que na sequência da temporada, causou outros dissabores à torcida, levou passeio do Ceará nas finais da Copa do Nordeste, até que o presidente resolver demiti-lo, quando a vaca já estava descendo para o brejo.
Mas o que me deixa mais revoltado ainda, é a cumplicidade ou a passividade do gestor do clube em aceitar os reveses e fracassos do time com a maior tranquilidade, como se o Bahia fosse um clube de meia dúzia de torcedores, sem nenhuma ambição pela conquista de títulos. É preciso que os gestores tenham ciência e consciência de que se trata de um clube que possui uma legião de torcedores fiel e apaixonada, muito bem denominada por Paulo Maracajá como Nação Tricolor, formada por milhões de adeptos e apaixonados corações, habituados e viciados à grandes conquistas de títulos, não havendo em suas fileiras nenhum torcedor masoquista para gostar de sofrer, como vem sofrendo nas últimas temporadas, talvez, haja uma exceção: um “pau mandado” ou ASPONE que não torce pelo clube, defende e puxa o sado do presidente.
Na minha modesta opinião, para se estabelecer metas de qualquer natureza, tem que prognosticar números e resultados suficientes e não necessários, principalmente, em se falando de futebol onde os números tem que falar mais alto. Se o clube vai jogar uma competição de 38 jogos e estão em jogo 114 pontos a disputar, seu gestor tem que iniciar o campeonato com ações cognitivas, elaborando mini metas tipo, em 6 jogos, conquistar 12 pontos, o que equivaleria à uma média de 2 pontos por jogo que no final da competição, somadas e cumpridas as mini metas, atingiria a meta de uma pontuação de 76 pontos, número que se não for suficiente para conquistar o título, é o ideal para uma vaga na Libertadores.
O que não pode acontecer, é essa pobreza de espírito em estabelecer uma pontuação tão pífia, apenas e tão somente, para livrar o time do rebaixamento, uma mediocridade que além de apequenar o clube, induz e incentiva o jogador a não se esforçar dentro de campo para buscar resultados que correspondam aos anseios do torcedor, porque em 15 pontos disputados, se conformar com 6 ganhos, ou seja, 40% de aproveitamento, torna-se uma piada de péssimo gosto para um clube da grandeza e da pujança do Esporte Clube Bahia.
Vamos passar esse clube a limpo.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.