Após vencer o vício em cocaína, ex-zagueiro do São Paulo sonha voltar a jogar

Após vencer o vício em cocaína, ex-zagueiro do São Paulo sonha voltar a jogar

Flávio Donizete foi campeão mundial pelo São Paulo em 2005

Após vencer o vício em cocaína, ex-zagueiro do São Paulo sonha voltar a jogar

Após ser campeão do mundo pelo São Paulo em 2005, na época aos 21 anos, o ex-zagueiro Flávio Donizete se afundou no mundo das drogas e perdeu todo o dinheiro que conquistou no futebol. O vício em cocaína o fez até vender o símbolo daquele título, a medalha do Mundial, que foi recuperada com ajuda do programa do Geraldo Luis, da TV Record. Pela equipe paulista, foi campeão paulista, do Campeonato Brasileiro, da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2005, colocando seu nome na história do clube. Ele teve uma breve passagem pelo futebol baiano em 2008 quando vestiu a camisa do Atlético de Alagoinhas. Jogou ainda na Portuguesa, América-SP e Nacional-AM.

 

Hoje, aos 36 anos, ele vive em Americana, no interior de São Paulo, e conseguiu cumprir a promessa que fez à filha: parar de usar drogas. Ainda sonha poder jogar profissionalmente, mas está feliz trabalhando como jardineiro. Em entrevista ao site Globoesporte, Flávio Donizete faz relatos fortes e tristes do período em que viveu mergulhado nas drogas. Ele revelou que começou a usar em 2010.

“Eu quero voltar a jogar, nem que seja a A3, a A2, eu quero jogar ainda um ano, dois anos, só para mim… Deus fez uma promessa na minha vida e eu quero que ela se cumpra. Eu falei que só ia parar quando Ele falasse: “Não, você não vai jogar mais”. Como Deus tem falado comigo que dá para jogar mais dois anos, um ano que seja, seja a A2, A3, eu ainda quero jogar. Depois não sei o que vou fazer.”

“Eu usava igual louco. Aí quando eu vendi (a medalha), chegou o dinheiro e torrei quase tudo na cocaína. Na primeira pancada foi mil reais de cocaína. E eu usei em dois dias. Deu ataque, coisa no coração… O vício falava mais alto, mais forte. Quanto mais dinheiro eu tinha, mais queria. Cheguei a vender uma camiseta minha do São Paulo e a medalha. O carro eu não cheguei a vender, o carro perdi porque eu não conseguia pagar. Estava financiado e o dinheiro que eu tinha pra pagar o financiamento do carro ia pegando em cocaína”

“Tinha meu carro, até reformei a casa da minha mãe toda, então eu falei: “Vou dar um tempo, porque eu preciso descansar”. Em alguns momentos, eu estava treinando muito, não parava. Eu não tinha férias para nada, era treinar, treinar, treinar… E queria curtir um pouco o momento. E foi nessa fase que comecei a frequentar a balada, comecei a conhecer a cachaça, e foi aí que entrei no vício da cocaína. Depois que conheci a cocaína, eu perdi demais. Porque até então eu usava ela moderadamente. Até que ela ficou mais forte na minha vida, comecei a perder tudo o que eu tinha. O dinheiro guardado usei para comprar droga todo dia. Eu não ficava sem droga por nada. Manhã, tarde e noite tinha que usar cocaína. E nessa o dinheiro que tinha na conta, as coisas que tinha, comecei a perder.”

“Perdi tudo, tudo, tudo. Só não perdi a minha esposa, minhas filhas e minha família, que está comigo até hoje. Em termos de amigo e pessoas que eu ajudei, ninguém mais conversava comigo, ninguém me ajudava mais, porque não confiavam mais, porque sabiam que se me ajudassem a primeira coisa que eu ia fazer era parar em uma biqueira (ponto para comprar drogas).”

“Eu usava a droga e não ficava causando na rua, não ficava doido andando descalço. Eu ia, buscava minha droga e pronto. No começo, eu saía para beber, para ficar em posto de gasolina e usar a droga. Mas depois de um tempo comecei a buscar e ficar em casa. Aí eu arrumava a casa, desarrumava a casa… Em um dia, arrumava e desarrumava a casa umas 20 vezes (risos). Tudo por causa da droga. Eu usava igual louco. Aí quando vendi (a medalha), chegou o dinheiro e torrei quase tudo na cocaína. Na primeira pancada foi mil reais de cocaína. E eu usei em dois dias. Deu ataque, coisa no coração… O vício falava mais alto, mais forte. Quanto mais dinheiro eu tinha, mais queria (droga). Eu não queria que aquilo ali acabasse. Satisfazia no momento, né?”

OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA

Faltou comida em casa por conta disso?
– Faltou… Chegou um tempo que eu comecei a trabalhar com meu cunhado de pedreiro . Eu ganhava R$ 80 por dia e tinha vezes que não tinha nada dentro de casa. Tinha um pacotinho de arroz, um negocinho de feijão e às vezes buscava uma mistura no final de semana, quando pegava o dinheiro da semana, uns R$ 380, R$ 400… Sexta eu recebia às cinco da tarde e só chegava no sábado no meio-dia em casa, sem dinheiro, sem nada. Bêbado, mijado, com nariz cheio de farinha.

– A gente mora de aluguel, mas o pouco que eu tenho hoje dou valor, porque as minhas filhas já estão grandes, já entendem, mas a melhor coisa é ter um dinheiro digno, é chegar em casa, chamar sua mulher para ir lá fazer uma compra, a sua filha querer comer um chocolate e você poder comprar. Naquela época eu não via isso. Eu falava: “Amanhã eu consigo, amanhã eu consigo”. Mas tinha vezes que não conseguia, às vezes me humilhava para os outros para poder emprestar R$ 50, R$ 30 e eles não emprestavam por saber que eu ia usar droga.

Você chegou a pedir dinheiro. Como você sustentava esse vício quando chegou nesse ponto?
– Em Itapecerica eu sou conhecido por todo mundo (risos), e quando estava no São Paulo e tinha dinheiro, pagava para todo mundo as bebidas, pagava para geral, e a gente acaba pegando amizade. Eu não tinha e ia na casa de um, pedia R$ 20, ia na casa do outro pedia R$ 30, até juntar R$ 100, R$ 150, até conseguir. Ia na casa das minhas tias dizendo que estava passando necessidade dentro de casa. Minhas tias me davam o dinheiro e eu já ia para a biqueira buscar droga.

Você chegou ao ponto de roubar coisas da família?
– Meu irmão tinha um cofrinho de porquinho grandão e começou a juntar dinheiro porque ele queria trocar de carro, começou a juntar só nota de R$ 100. Quando todo mundo ia dormir, eu ia lá e todo dia pegava R$ 100. Eu pegava com a pinça e de manhã já acordava e ia para a biqueira. Eu chegava em casa umas seis, sete horas da noite porque o dinheiro já tinha acabado e às vezes nem dormia, porque tava na abstinência da droga. E roubava de novo. Quando meu irmão abriu, o cofrinho já não tinha mais nada de dinheiro.

Qual foi seu momento mais difícil com relação à cocaína?
– Quando as pessoas não acreditavam mais em mim. Quando a minha esposa já queria separar. Na verdade eu separei duas vezes. Separei naquelas… Fiquei uma semana separado (risos). Mas a coisa mais difícil é quando as pessoas não acreditam mais em você. Por mais que você esteja falando a verdade… Tinha momentos que eu estava falando a verdade e as pessoas não acreditavam, porque o tanto que você mente para conseguir algo, quando você fala uma verdade já não acreditam mais. Ninguém deixava uma carteira, uma bolsa perto de mim. Era complicado, porque desconfiavam de tudo. Tinham situações que aconteciam e as pessoas apontavam e diziam que era eu que tinha feito. Essa era a coisa mais difícil. Mas eu sabia que isso ia mudar. O caráter também diz tudo. Não adianta falar que vai mudar assim. Mas eu tinha certeza que Deus ia mudar minha história como ele tem mudado.

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Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Baiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com



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