Em tempos de Coronavírus e com receitas espremidas, está na mesa uma negociação capitaneada pelo presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, e dirigentes de outros clubes que estão a frente das negociações, cuja intenção é a venda da transmissão de jogos do Campeonato Brasileiro pelos próximos quatro anos. A proposta é de um pouco menos de US$ 40 milhões de dólares, na cotação atual em torno de R$ 209 milhões fixos pelo tempo total de acordo (até 2023). A maior parte deste valor vai ser destinado para os clubes da Série A. Não é um acordo definitivo, afinal, os clubes ainda tentam procurar aumentar os valores em contraproposta. Nesse contrato existem variáveis no valor conforme a empresa vencedora da concorrência interna comercializara para outras praças mundiais. O acordo envolve as três principais Séries do Futebol Brasileiro (A, B e C) que serão discutidos também nesse contrato.
Inicialmente, na Comissão Nacional de Clubes, o que se discute são os percentuais do fatiamento desse montante da seguinte forma: 75% divididos para clubes da Série A, 20% para a B (que pode ter a transmissão também em edições futuras) e 5% para a C. Além da venda dos direitos de transmissão, as apostas de jogo também serão outro produto negociado pelos clubes.
Em contraponto a esse acordo, apenas o Athletico-PR não tem interesse por discordar dos valores postos na mesa. Em linhas gerais, o valor inicial é considerado baixo, e realmente não é nenhuma fortuna quando dividido para todos os clubes, contudo a ideia dessa primeira movimentação é uma “degustação” para ofertar o produto em novas praças ainda não contempladas para atrair futuras parcerias de patrocínio e investimento, e ampliar as marcas brasileiras em nível mundial, para que quando o ciclo desse primeiro contrato se fechar, a próxima negociação com certeza será com valores mais robustos.
Naturalmente ainda vai existir resistência de alguns clubes que se acham mais importantes que os outros, mas, com sua destreza e visão futura, o perspicaz presidente do Esquadrão conseguiu demonstrar que a despeito dos valores iniciais não serem os pretendidos, tal como alega o Athletico-PR, o importante é a ampliação da visibilidade dos clubes fora do país.
Estima-se que no dia 17/04/2020, por videoconferência, será batido o martelo quanto a esse assunto, mas o que quero mostrar nesse texto são duas coisas conseguidas por Bellintani, primeiro é unir os clubes do Brasil em quase sua totalidade, coisa que há muito parecia impossível pelas vaidades existentes no pensar recorrente da “farinha pouca meu pirão primeiro”, aliado a isso essa negociação não tem como CBF interferir, pois cabe exclusivamente aos clubes.
Em segundo lugar mostrar o protagonismo que o Bahia tem assumido nessa seara dentro do futebol brasileiro e internacional, tirando o foco de dirigentes com vícios antigos de gestão e se aproveitando disso para colocar os clubes, independente de tamanho de torcida ou de receitas, em condições iguais de acesso aos valores que serão destinados a quem estiver em cada divisão, conseguindo um panorama quase impossível há tempos atrás.
O Brasil na sua falta de acordo tem um produto de excelência pouco valorizado e tratado como matéria prima barata em relação ao que se vende na Europa, Estados Unidos, Ásia e Oriente médio. Outra coisa que está sendo colocada em jogo, é a atração de investimentos estrangeiros para patrocínios mais robustos que os que são fechados com empresas brasileiras. Na Inglaterra, um claro exemplo é a grande captação de patrocínios de casas de apostas e com grande apelo internacional de suas transmissões, patrocínios estampados na camisa das equipes escritos em chinês ou japonês, por exemplo.
Por fim, vejo como importante essa ampliação da visibilidade dos clubes do Brasil, em especial clubes fora do nicho que capitaliza a maior parte das receitas de maneira descomunal, em face de uma equiparação ainda que seja nessa área de venda internacional, tornando mais justa essa divisão. O marketing como ferramenta é fundamental para a expansão do clube e a profissionalização dos setores ainda mais, para que num plano futuro, cada vez mais, nos aproximemos de maiores voos e negócios mais vantajosos quanto a venda de jogadores e da imagem do clube fora do Brasil.
Diego Campos, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.