Muitas vezes vejo se acentuar as queixas e reclamações com relação à falta de voz e vez dos clubes que não se encontram no Eixo SUL/SUDESTE, tanto na área esportiva quanto na financeira no que tange à representatividade destes clubes no cenário nacional do futebol, inclusive nas decisões finais dentro do campo de jogo. Prima face, importante salientar que o papel da mídia de massa aplicada nos interiores dos estados do Norte, Nordeste e Centro Oeste, que na época do auge das Rádios, meados de 1950, era alcançado, em sua maioria, por redes de comunicação e rádio provenientes do Rio e São Paulo, o que explica o apelo e a exposição desses clubes de fora dos seus Estados, a ponto de colocar os clubes de suas próprias regiões como segunda opção ou até mesmo como inimigo, sendo comum escutar: “torço pro time do eixo e no meu estado pra o time tal”.
Esse seria o ponto inicial, pois a mídia mitificou alguns jogadores dessas equipes do SUL/SUDESTE, expandindo a marca dos clubes desses em detrimento dos clubes regionais, criando ídolos distantes e praticamente utópicos, que em nada tem haver com nossa região e não representam nenhum ganho direto para ela, sendo vetores de idolatria em nível nacional, mas que nunca ou quase nunca, jogavam aos nossos olhos reais, em nossos estádios.
Essa postura da mídia criou uma ilusão, pois os ídolos deles eram empurrados goela abaixo, enquanto as grandes redes de rádios existentes nas capitais buscavam trabalhar com o esporte local, enquanto as retransmissões passadas ao interior eram de supremacia das Rádios Globo e Tupy, ambas do Rio de janeiro.
Num segundo momento, importante salientar que a mudança do eixo econômico e financeiro para o Sudeste, esvaziou as regiões norte e nordeste em meados dos anos 1950 pra frente, fazendo com que uma migração em massa, . Em busca de melhor sorte nos estados mais ricos da união. Essa mudança culminou na diminuição ainda maior dos times da nossa região, afinal, nascidos nessas regiões, naturalmente torcem pra times locais, mesmo descendentes, preferem torcer pra times do sul e ainda criam preconceitos com os de outras regiões, marginalizando por muitas das vezes, nossas agremiações.
Um terceiro ponto a se abordar é a falta de planejamento dos clubes do Norte/Nordeste, em especial, os que são tradicionais e com grandes e apaixonadas torcidas. A maioria destes clubes não conseguiu, ao longo dos anos, se desvincularem de grupos políticos, que fizeram dos clubes verdadeiros currais de nepotismo e o caminho de enriquecimento de famílias de dirigentes, em detrimento das grandes instituições esportivas dos Estados, as enfraquecendo e as deixando com dívidas colossais.
Os clubes da Região Nordeste, ao invés de ter a maturidade e o entendimento que são somente adversários esportivos, preferem ter a ideia da “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Essa falta de inteligência deve ser posta de lado, pois falando especificamente do Norte/ Nordeste, é de pleno interesse da CBF que componham divisões menores, como as séries B, C e D para que as cotas de TV sejam mínimas e as distâncias sejam menores, polarizando os jogos no Eixo Sul/Sudeste, pois nos tratam como “estranhos no ninho”, sendo muito incomodo para eles os deslocamentos que fazem para vir pra nossa região, ao contrário não é nem comentado, como é o exemplo da Chapecoense, que tem um acesso péssimo, e pouco é falado, pois compõe o eixo Sul.
O fortalecimento do futebol Nordeste ainda deve passar por uma mudança de postura e do entendimento de torcedores e dirigentes que a desvinculação dos clubes da CBF e das federações é o começo de tudo. A desvinculação dos velhos ditames e a adoção de Estatutos transparentes e participativos, onde se permita aos sócios ter acesso direto no clube é outra parte importante parte desse desenvolvimento.
O profissionalismo de gestão é fundamental, afinal não há mais espaço para amadores em qualquer que seja a atividade. E, por fim, a criação de uma Liga gerida pelos clubes sem a ingerência da CBF ou das Federações estaduais, que são compradas pela CBF pra votar, que são cúmplices nas falcatruas, impedindo que as vozes dos clubes sejam ouvidas de fato. Afinal, federações, hoje servem apenas pra tirar a vez e a voz dos clubes, haja vista que se considerarmos que Federações como a Rondônia, Acre, Tocantins, Amapá, Amazonas, etc., embora não tenham tradição no cenário nacional acabam por serem 5 votos em eleições da CBF, ou seja, é endêmico e mantém o funcionamento do sistema existente .
A coragem para fortalecer ainda é distante e cogitar “peitar” a CBF e os gigantes dos meios de comunicação é praticamente impossível nesse modelo. Os clubes ainda aceitam migalhas da mal distribuída cota de TV e os clubes endividados e mal acostumados em receber receitas com o “pires na mão” e antecipá-las, metem os pés pelas mãos, nessa via “mais fácil”, e se tornam reféns.
Ao invés de procurar meios de se manter com seus próprios esforços, com planejamento atraente para captação de patrocínios e a concepção de planos de sócios de qualidade, tornando secundárias essas receitas, para assim depender cada vez menos desses recursos que condicionam os clubes a se manter onde estão.
Por fim, a união fortalece a região, pois hoje os clubes hoje se encontram com estatutos retrógrados e devem propor intervenção, assim como fez o E. C. Bahia que teve a coragem de sair desse visgo viciado e vicioso, tratando de forma moderna e profissional a gestão do clube, pensando de médio / longo prazo, para se estabelecer de vez enquanto potencia do futebol nacional. Por enquanto, hoje as equipes das Regiões Norte/ Nordeste vivem exclusivamente da suas apaixonadas e tradicionais torcidas e distantes conquistas de relevância nacional, conquistas essas, que cada vez mais se tornam menos prováveis de serem repetidas nos dias atuais.
Diego Campos, torcedor do Bahia, amigo e colaborador do Futebol Bahiano.