Paulo Virgílio Maracajá Pereira foi diretor de futebol desde minha infância, depois ficou como presidente até minha fase adulta, ou seja, desde que me entendo como torcedor do Bahia, ele era o dono do clube. Sua administração era centralizadora: Era Presidente, Diretor, Assessor de Imprensa, cuidava do Marketing, etc, etc.. Tanto do profissional como na base, mesmo depois de ter saído da presidência, ele exercia grande influência na administração do clube.
Maracajá era decantado pelas resenhas esportivas que diariamente ele falava, como “eterno presidente” quando foi indicado para o tribunal de contas e por incompatibilidade do cargo, teve que deixar a presidência do Bahia, aliás, cargo adquirido por indicação do cabeça branca que, segundo a imprensa da época, fazia parte do acordo para ele (contra sua vontade) votar a favor da entrada do Vitória para clube dos treze (era composto originariamente por Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Santos, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Internacional, Grêmio, Atlético-MG, Cruzeiro e Bahia) que passaria a ser clube dos vinte com as entradas (de Atlético-PR, Coritiba, Goiás, Guarani, Portuguesa, Sport e Vitória).
Como não poderia ser presidente oficialmente, Maracajá passou a indicar os presidentes com todo seu apoio e até decisões, diante de tanta incompetência e desastre das administrações dos seus amigos indicados, levou o clube a uma fase bastante crítica dando margem passar haver adversários políticos dentro do clube, quando saiu do poder o clube atravessava uma fase financeira difícil. Lembro-me que Bobô quando assumiu as divisões de base do clube falou do Estado calamitoso e vergonhoso que a Sede de Praia estava com vários vazamentos e, quando chovia, era impossível os meninos da base ficarem lá. Até colchões ele teve que pedir porque não tinha.
Quando uma família dizia que entraria para “salvar” o clube daquela situação, ele teve que ceder na condição de haver alternância no poder, ou seja, a cada administração da família era intercalado por uma pessoa da sua confiança, até haver uma rasteira pondo fim a esse acordo, o clube passou a ter outro dono, os conselheiros (eram indicados a dedo pelo presidente). Pessoas “responsáveis” por eleger o mandatário do clube e esses também a dedo escolhiam o conselho fiscal que aprovariam as contas do clube, era divido meio a meio, quando o novo dono do clube “renovou” o conselho com grande maioria só de seus amigos.
Em função dessa quebra de acordo, houve rompimento entre eles, os donos do clube ficando definitivamente para a família que ele colocou lá e teve grande culpa por toda essa era das trevas que envergonharam e jogaram toda história do clube na lata do lixo, inclusive, seus troféus importantes foram encontrados no início da intervenção literalmente no lixo, além das goleadas humilhantes do nosso rival devido a insatisfação dos atletas com constantes salários atrasados, culminando com nossa maior humilhação de todas, ser rebaixado para a Série C do Brasileirão.
Evidente que temos que ressaltar a importância dos ex-presidentes que de fato fizeram algo de positivo pelo clube, com conquista de títulos importantes, não só regional como até nacional, como foi o caso de Maracajá. Porém, ele poderia ter dado uma guinada fundamental no crescimento do clube quando fomos campeões brasileiros, venderam muito bem vendidos quase todas as estrelas daquela conquista, só ficou Paulo Rodrigues, Charles e Bobô. Foram considerados na época uma das maiores transações do futebol brasileiro.
Lembro-me de uma entrevista emblemática dele a um apresentador famoso da nossa imprensa que hoje faz jornalismo, mas antes fazia programas esportivos, depois do retorno do Bahia a uma excursão ao Gabão (o Bahia foi convidado depois de ganhar o título, iria receber uma fabulosa quantia em dólar, mas que tomou cano segundo o presidente). O jornalista o questionava o que ele tinha feito com o dinheiro da venda de Bobô, ele justificou que pagou várias coisas atrasadas do clube.
O repórter, então, perguntou: “E o dinheiro da venda de Charles?”. Eram tantas justificativas, que ele terminava e o repórter questionava: E o de Zé Carlos, e outros? Colocando-o literalmente na parede, até ele contra-golpear o repórter dizendo:“ Eu entendo sua revolta, sei que você queria ter ido a excursão ao Gabão, mas levamos outros colegas seus”, deixando o jornalista ao vivo completamente sem graça e encerrando completamente o assunto que era interessante para esclarecimento do torcedor. Não tenho nenhuma dúvida quanto a sua honestidade, sei que era eficiente em gerir problemas com elenco e contratar jogadores, mais foi o grande responsável por esse período negro do clube.
Outra grande questão, ele definitivamente não tinha nenhuma visão de futuro, e a prova disso é quando o Governo do Estado na época (João Durval) investiu pesado na construção do estádio do rival que viria a ter o nome do seu parente, e em contra-partida, o Bahia seria também beneficiado, ele solicitou que fizesse uma encosta na Sede de Praia para conter as ondas que no período de inverno invadiam lá. Quando questionado pelos jornalistas se o Bahia não almejava também ter um estádio, ele na sua visão tacanha ficou conhecido com uma famosa frase em resposta aos jornalistas: “O Bahia não precisava ter estádio porque onde ele jogava sua torcida será sempre maioria”.
Desculpe aqueles torcedores que pensam diferentes, respeito à opinião deles, mas, em minha modesta opinião ele foi um dos principais responsáveis por toda essa fase negra do clube por não permitir que houvesse democracia e crescimento do clube em todos os sentidos. O Bahia deu muito mais a ele que ele ao Bahia.