Quando uma brincadeira vira ofensa? Quando um xingamento vira falta de respeito? Quando uma disputa vira uma guerra? Ontem, mais uma vez estive batendo o ponto no lugar fora da minha casa que eu mais me sinto confortável. Ontem, mais uma vez presenciei história ao ser expectador de uma das maiores vergonhas que o futebol baiano e brasileiro já viram.
Durante todo a noite de noite, comentando com amigos e em redes sociais apontei: não tem santo. Nem mesmo nós, torcedores, estamos livres da culpa.
A frase “o futebol está chato” ainda não apareceu, mas daqui a pouco ela mete as caras e cobre o verdadeiro motivo da selvageria que aconteceu ontem no Barradão: a falta de respeito. Desde quando xingar, prometer, e fazer gestos obscenos a um rival é provocação? Isso se chama falta de respeito e deve ser repudiada, pois do outro lado existem pais de família, trabalhadores e pessoas de bem que estão ali para um momento de lazer com os seus próximos.
O que o jogador Vinícius iniciou ontem tem nome e esse nome não é provocação. “Ah, mas essa é a comemoração dele, ele já fez em outros jogos”. Não justifica. Ele foi, sim, o protagonista e já vinha ensaiando isso há alguns dias nas redes sociais. Isso justifica a pancadaria? Não. Não há justificativas para atos selvagens feitos por humanos. Não tem santo na história, repito.
O futebol brasileiro está cansado de tanta falta de respeito, de jogos que mais parecem lutas selvagens, de xingamentos e discursos de falsos moralistas que seguem pregando a paz e por trás das câmeras arranjam sempre uma oportunidade de apimentar a coisa. O que eu vi ontem no meu estádio foi uma cena digna de pena, uma cena repudiada eternamente por mim e que nunca deve ser esquecida pelos gestores, pois vocês são os responsáveis diretos pelos seus atletas, inclusive pelo o que eles falam antes da partida.
Vão falar: e Neto Baiano, que chamou o Bahia de “sua cama”? E Júnior Diabo Loiro, que “enterrou” o tricolor diversas vezes? E Maxi, que chamou o Vitória de “vice”? E Ávine que já tirou inúmeros sarros dos rubro-negros? Estou até agora aqui procurando xingamentos e gestos obscenos. Essa é a grande diferença de provocação para falta de respeito.
E digo até mais: já vi comemorações em clássico que passaram, sim, do ponto, mas que graças a Deus não acabaram em guerra, como aconteceu ontem. Deixo bem claro que a falta de respeito vindo dos dois lados é repudiada.
A “provocação” do meia do Bahia gerou tanto impacto que os próprios torcedores tricolores entraram em confronto por reflexo do que estava acontecendo em campo. É assim que vocês querem se tornar ídolos?
Ídolo se faz jogando bola, conquistando títulos, defendendo a camisa como se fosse uma segunda pele. O jogador ruim, que não tem condições de nada disso, que apela para a safadeza da falta de respeito, pelas vias de fato.
Todos vocês (JOGADORES) devem desculpas ao Esporte Clube Vitória e ao Esporte Clube Bahia. Todos vocês foram peças do maior vexame que o futebol baiano já presenciou. Todos vocês são protagonistas da falta de exemplo dentro de campo em busca de tranqüilidade nas arquibancadas. Todos vocês, não tem santo.
Não há desculpas, mas há motivos, e esses para mim estão bem claros. A pancadaria não começou por nada. Ela já vinha sendo ensaiada há dias e após tudo isso ainda me deparo com declarações de, pasmem, EX-JOGADORES DAS ENVOLVIDAS AGREMIAÇÕES, prometendo alguns atletas. Este foi o caso de Fernandão e do goleiro Jean. Um está na Turquia e outro no São Paulo e os dois são ditos ídolos da torcida tricolor. Que papelão de vocês também hein, amigos? Vocês também são responsáveis pelo o que acontece fora das quatro linhas e pelas seguidas discussões de torcida mista nos estádios. O exemplo tem que partir de dentro e vocês, hoje, não fazem parte deste exemplo.
Espero que a “partida” de ontem sirva para muita coisa no futebol brasileiro. Falta de respeito nunca vai ser provocação, vexame nunca vai ser vergonha, amor nunca vai ser ódio, paz nunca vai ser guerra, mas futebol está a um passo de se tornar UFC.