Pela enésima vez na gestão Bellintani e pela segunda vez na presente temporada, após perder Rildo no mês passado para o futebol português, o Bahia quase perde o “menino da vovó” para o futebol russo, um jovem atleta que, infelizmente, o treinador demorou muito para perceber sua evolução e desenvoltura no time e teve que ser pressionado tanto pela imprensa como pelo torcedor, para se conscientizar de que o citado jogador não poderia continuar no banco de reservas por ser a principal peça do sistema ofensivo do time, fator que já o tornou artilheiro da equipe na Série B.
Imagino que a modalidade de empréstimo de jogador que vem sendo praticada pelo clube, seja na base do custo zero, mais conhecido como de graça, estratégia que impele o Bahia aceitar uma cláusula contratual especificando que, se o clube que estar cedendo o jogador receber proposta do exterior e o tricolor não tiver condições de equipará-la, o atleta será negociado, com o “cliente” sendo compensado por um determinado percentual sobre o valor da venda, denominado de “Taxa de Vitrine”, ou seja, um “cala boca” por ter perdido o atleta, sem falar do desgaste moral da Instituição que fica com a pecha de “barriga de aluguel” ou de “pastagem de engorda”.
Já passamos por tais apuros em 2019 quando o Bahia tinha, a título de empréstimo, o volante Douglas Augusto e o meia-atacante Artur Victor; o primeiro, cedido pelo Corinthians, titular absoluto do time, mas, quando a janela abriu, muito antes de encerrar o contrato de empréstimo do atleta, surgiu a proposta de um clube da Bélgica e o jogador foi embora, deixando uma grande lacuna na sua posição.
Já o Artur Victor foi emprestado pelo Palmeiras e também, titular absoluto do time, fazedor de gols e de boas assistências, excepcionalmente, cumpriu o contrato de empréstimo e no final da temporada, como o Bahia não tinha os € 6 milhões para adquirir em definitivo o atleta, o Bragantino o adquiriu, mas, pelo menos, o jogador atuou até o final do seu empréstimo, não desfalcando o time no decorrer da temporada.
Houve uma trégua em 2020, até porque, foi uma temporada atípica em função do primeiro ano da Pandemia, mas, nos anos subsequentes, o Bahia voltou a ser prejudicado com esse tipo de empréstimo: no ano passado, perdeu Thaciano que estava emprestado pelo Grêmio, um bom jogador e um dos principais responsáveis pela conquista do título da Copa do Nordeste, enquanto que nessa temporada o time já perdeu Rildo, um jogador que com sua saída, simultaneamente, causou um grande prejuízo técnico ao Bahia e, por ironia do destino, beneficiou o tricolor gaúcho por ser, também, um dos concorrentes ao acesso.
Na semana passada, mais uma vez, o torcedor do Bahia foi pego de surpresa com mais uma possível baixa decorrente dessa modalidade de empréstimo e a bola da vez foi o Matheus Davó, o jogador mais importante do time na atualidade, e o próprio presidente Bellintani chegou a declarar que o clube não reunia condições financeiras para igualar a proposta do time russo que, segundo o noticiário, girava em torno de 8 milhões de Reais, sem falar da estupenda valorização salarial do atleta, o qual, contrariando todas às expectativas dos torcedores e da imprensa que já davam como certa sua saída do clube, o profissional resolveu recuar, recusando a aparente irrecusável oferta do time russo.
Por conseguinte, após inúmeras perdas de jogadores no decorrer de várias temporadas por conta dessa modalidade de empréstimo, tenho plena certeza que mesmo sem o time do Bahia ter entrado em campo no final de semana, a grande notícia para o torcedor foi, sem sombras de dúvidas, o “Dia do Fico” do atacante Davó que deve ter parafraseado à célebre frase proferida, há duzentos anos, pelo então Regente do Brasil, Dom Pedro I: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação [Tricolor], diga ao povo que fico”!
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.