O desânimo toma conta da torcida do Bahia e a procura por culpados continua. Eu vi na minha vida times com orçamentos extraordinários e fracassos retumbantes. Vi o Santa de Pernambuco com um orçamento 5 vezes menor que o Sport ser o campeão da atual década. Assim, não há uma correlação absoluta entre dinheiro para investir e bons campeonatos, assim como não é possível culpar um único responsável pelas poucas conquistas na atual administração.
Se formos analisar o time de Sérgio Soares, tivemos resultados bons no primeiro ano de gestão de Marcelo Santana com um time bem montado e que fez uma campanha em 3 campeonatos muito boas. O desenrolar das últimas rodadas da série “B”, contudo, houve alguns desacertos que precipitou o time para o fracasso.
A questão da razão dessa baixa produtividade na fase final da Copa do Brasil do time de Sérgio Soares no Bahia é um caso em que não sabemos todos os contornos dessa desclassificação, mas ouso dizer que Sérgio Soares teve uma maior responsabilidade por causa de sua cisma com Pitoni e os jogadores mais experientes, inclusive Max Bianchuti.
O segundo ano do Bahia na gestão de Marcelo Santana começou muito mal, mas coma a chegada de Guto o time reagiu na competição e se classificou para a série “A”. O imponderável, o acaso ou a sorte, agiu muito bem de modo a favorecer o time de Guto. Tivemos jogos em que o tricolor sobreviveu por obra mesmo do montinho artilheiro. Lembro especialmente num jogo contra o Vila Nova em Goiás em que o time goiano perdeu gols de frente para o travessão. Nesse jogo quase vai embora a classificação e talvez o sucesso efêmero de Guto no Bahia.
A presença do acaso, sorte e detalhes no futebol são muito maiores que o lado racional dos números em investimento e estrutura do time. E é isso que faz com que o futebol seja um esporte maravilhoso. Tivemos, o Bahia, times que ganharam de times superiores do Vitória na década de 70, estabelecemos uma distância para o rival impressionante com um heptacampeonato, mas a verdade é que isso se deveu muito mais aos detalhes do futebol que consagram times e seleções que propriamente a competência da diretoria do Bahia.
Hoje, por obra dos canais de tevê, temos mais dados racionais que simulam aspectos pós-jogo com explicações sobre números que tentam explicar o jogo. O problema é que se nossos comentaristas fossem totalmente sinceros eles perderiam o emprego. O fator sorte ou aleatoriedade é muito mais determinante para o resultado de um jogo de futebol que muitos outros aspectos racionalizáveis que podemos supor.
O futebol se assemelha algumas vezes a um jogo de azar onde sabemos que existem probabilidades de as coisas darem certo, mas que o imponderável é que vai decidir.
O mau-humor da torcida do Bahia ao meu ver tem dois componentes: o mau-humos dos apostadores que perdem, como também o momento político do país.
A vida política do país é tão desesperadamente contagiosa que o futebol repercute esses sintomas. Sim, nosso momento político nacional contribui para aumentar nosso desânimo em acreditar na participação política do clube e projetos. O torcedor do Bahia não se torna sócio do clube, ao contrário do time do Inter que quando rebaixado a torcida se associou em massa.
O futebol está dentro de uma válvula de escape para as frustrações e tensões no dia a dia, mas o Bahia é hoje a antítese da fantasia que apaziguava ânimos. O Bahia se transformou numa extensão da desigualdade e das dificuldades da democracia para resolver conflitos, assim o torcedor sente-se vazio e angustiado.
Para chegar a um estágio de um novo ciclo de desenvolvimento e nos projetarmos no clube com as fantasias identidárias de antes teremos nos deslocarmos para um passado enferrujado. Não é do passado que virá nossa força.
O futebol tem apostadores fiéis que dificilmente admitirão minhas assertivas, mas que a aleatoriedade e o acaso tem uma presença preponderante no futebol é algo impressionantes e é algo objeto de grandes livros. Galileu Galilei e outros já se debruçaram para estudar a aleatoriedade, e sempre teremos surpresas quando analisamos dados e estatísticas que só se mostrarão confiáveis a partir do estudo uma grande passagem de tempo. Não é à toa que a evolução é fruto do acaso, pois se seguisse fatores racionais fracassaria.