O Esporte Clube Bahia, na gestão do atual presidente Guilherme Bellintani, tem usado as cores e a tradição do clube para defender e abraçar causas das minorias. Um fato novo na historia do clube. Inicialmente se pensou que se tratavam apenas ações políticas de uma suposta iniciação da carreira política partidária. Vale lembrar que até poucos dias atrás, o primeiro ministro tricolor era cotado como candidato do PT (se fosse teria meu voto) para disputar as eleições para prefeito de Salvador, fato que não se confirmou. Recusou o convite, mas deixou o seu nome circular no meio político por um logo tempo em banho maria.
Com isso, a ideia inicial foi morta, e as assertivas do tricolor ganharam uma conotação normal, digamos, sem ter por trás outros interesses pelo menos de imediato. No entanto, nem todos os torcedores Bahia comungam com o uso da imagem clube para a defesa disso ou aquilo, que, aliás, a recusa também é legítimo, diga-se. Muitos defendem que não é porque ele é o presidente do clube tem a prerrogativa de propagar campanhas sobre temas controversos e que não é unanimidade junto à torcida, algo que reflete apenas o seu e (dos seus) pontos de vista de certo ou errado, ou daquilo que precisa ser combatido ou não, especialmente quando se trata de algo que ultrapassa muitos quilômetros a fronteira do futebol, que é a matéria prima e princípio ativo principal para a existência do clube. A torcida do Bahia é imensa e como tal com variadas visões de vida e crenças.
O assunto é polêmico, e poucos se aventuram em questionar, e os “murchosos” são ainda silenciosos e tímidos, mas existem sim e em proporções respeitáveis, afinal, as iniciativas do tricolor tem sido alvo de elogios e tem incentivados outros clubes pela mesma via. No entanto, quando houver e se houver declínio técnico como o vexame de ontem na derrota para o fragilizado River do Piauí ainda na primeira fase da Copa do Brasil trazendo prejuízo financeiro e desamparo moral, o assunto será tratado de uma outra forma aparecendo do nada os descontentes.
Eu por exemplo, como torcedor do clube, acredito ser exagerada as continuadas campanhas contra homofobia que é um assunto sensível e comporta variadas formas de interpretações. Cada cabeça pensa diferente, não necessariamente segue a linha do que acredita ser o correto o sujeito eleito para governar o clube. No entanto, achei fantástica a camisa com óleo protestando contra os problemas que tivemos recentemente nas praias do Nordeste assim com o engajamento do técnico do Bahia contra o racismo, pois são comuns a todos. A campanha contra o violência doméstica, outra iniciativa ótima e que todos concordam, mas não podemos dizer o mesmo sobre o uso da camisa 24, numeral que já entrou no folclore das brincadeiras entre amigos e que ninguém liga e se importa, mas que foi transformada e ressuscitada para ser pano de fundo para defesa outras causas de forma sorrateira. O mundo GAY já tem seus portas vozes bem definido na sociedade de brasileira.
Enfim, creio que o Bahia deve fazer suas campanhas, porém de forma pontual, e não transformar o tricolor de aço em espécie de sucursal avançada para dar repercussão ou sair em defesa disso ou aquilo apesar das boas intenções. Ainda que simpático, ainda que agrade e atenda os interesses de marketing do clube, o torcedor está de fato disposto a valorizar o clube através das campanhas na Copa do Brasil (era), Copa do Nordeste e no Campeonato Brasileiro da Série A, ah sim, e na Copa Sul-Americana
O jornalista Rodrigo Matos, do site UOL, trata de deste assunto na visão dele. Reporta o tema após a zoação dos torcedores após a derrota, onde se questionou a falta da camisa 24, e condena a reação do torcedores (do próprio Bahia ou de outros clubes) que atacaram o Esquadrão pela internet se aproveitando da eliminação precoce na Copa do Brasil. Mas repito, o dito acima, era esperado, não tão somente a reação do torcedor, como também a fúria do jornalista.
VEJA ABAIXO O QUE PENSA RODRIGO MATOS:
“Faltou usar a camisa 24”, “Bem-feito, time da lacração e do treinador que posa de vítima da sociedade se f…”, “Muita lacração pouco futebol” Essas foram algumas das reações de torcedores de outros times e até do próprio Bahia no twitter à queda do time na primeira fase da Copa do Brasil, diante do River, do Piauí. Todas referências ao engajamento recente do clube em políticas afirmativas.
É absolutamente natural a zoação de torcedores a um time grande que cai precocemente em uma competição relevante contra um rival de menor expressão. Os memes, as piadas e as ironias dominam a internet nas horas e dias seguintes ao fiasco. E havia várias brincadeiras relacionadas ao time baiano que tinham o teor de sempre ligado ao campo.
Mas a reação de boa parte dos torcedores à queda do Bahia não tem nada a ver com isso: são pessoas que odeiam as pautas defendidas pelo clube e transferem isso para a agremiação. E quais são as ideias defendidas pelo Bahia?
O Bahia posicionou-se na luta contra o racismo em campanha que punha os nomes de homens e mulheres negros nos uniformes durante o mês da consciência negra. Manifestou-se contra o assédio a mulheres inclusive para facilitar o acesso de torcedoras ao estádio. Fez ações contra a homofobia, sendo a última delas instituindo o uso da camisa 24, número ligado do veado no jogo do bicho e por isso atribuído pejorativamente a homossexuais. E também se disse a favor da democracia no aniversário do golpe militar de 1964.
O treinador do time, Roger, que é negro, deu entrevistas falando sobre o racismo no futebol e na sociedade, revelando uma consciência rara no meio.
Ora, essas pautas são todas ligadas à defesa dos direitos humanos. É certo que, no Brasil, identifica-se mais essas bandeiras com correntes à esquerda. Mas, na realidade, nenhuma dessas manifestações têm ideologia: são defesas do ser-humano, de que todos sejam tratados iguais, de que tenham liberdade.
Será que pedir que um homossexual seja respeitado como qualquer um deveria ser visto como ideológico? Ou a luta contra o racismo deveria ser chamada de vitimização? E qual o problema com a defesa da democracia?
A conclusão óbvia é de que quem se incomoda com esse tipo de pauta quer o oposto: pancada em homossexuais, que o negro aceite um lugar inferior na sociedade sem se manifestar, que seja instalada uma ditadura, que mulheres possam ser assediadas sem punições. Ou então não teriam motivos para ironizar as campanhas do Bahia.
O ataque ao Bahia em seu momento ruim é uma forma de alvejar a luta por direitos humanos sem assumir essa posição em público porque pega mal dizer que “tem que bater em gay mesmo”. Pega mal não, é crime. Não deixa de ser notável que seja necessário esse tipo de covardia para atingir um clube que se mostrou tão corajoso nos últimos tempos. E isso não tem nada a ver com seu mau início de temporada.