SAF: Socorro Administrações Fracassadas – Por Jorge Machado

O povo Brasileiro tem Mestrado e Doutorado em saber que “Não há nada tão ruim que não possa piorar”

Foto: Divulgação/Futebol Bahiano
Foto: Futebol Bahiano

A paixão dos torcedores pelos seus Clubes de Futebol é algo que vai muito além de uma explicação racional, é imensurável, a história recente do Bahia e de alguns clubes tiveram muita luta direta e decisiva da sua torcida pela democratização do seu clube. Maracajá comandou por mais de trinta anos e não admitia modernizar o estatuto, até ser impedido por força da Lei de exercer dois cargos paralelos, Procurador do Tribunal de Contas do Município e Presidente do Bahia, ele passou a delegar seus amigos a presidência do clube sob sua total supervisão, até ele levar a Família Guimarães para revezar o poder com seus amigos, onde sofreu um golpe da divisão ficando com a minoria de conselheiros que alternavam o poder, tendo definitivamente agora com um só dono, os Guimarães, assim foi construída a história recente de Democratização do Bahia.

 

Foram várias carreatas, e uma passeata monstruosa com cem mil participantes (participei de todas), e quem legitimou todo esse processo de Democratização do clube foi a participação em massa da sua fanática torcida, e o único protesto que fracassou foi de público zero onde a apaixonada torcida não aderiu, isso jamais, diziam eles ao ser interpelados na porta da bilheteria, como deixar arquibancadas vazias se sempre fomos a maior força do nosso time? (ironicamente o presidente optou por isso no jogo contra Doce Mel). Basicamente as carreatas e passeatas eram pedindo a saída dos donos do clube, e modernização do estatuto para permitir seu sócio torcedor decidir os destinos do clube.

A maneira como foi conseguida depois de várias lutas inglórias foi de uma forma inusitada, depois da passeata gigantesca, alguns membros solicitaram a primeira dama, Fátima Mendonça, torcedora ferrenha do Bahia, que seu marido intercedesse pela Democratização do clube. A pessoa com o cargo mais importante do estado na época (Governador Wagner), deu uma entrevista se dizendo favorável a democratização do clube, e no dia seguinte um repórter (não lembro quem) perguntou ao presidente o que ele achava da declaração do Governador, e o presidente do Bahia no alto de sua arrogância além de ser seu inimigo político, declarou: “ele na verdade tem cuidar o que sua mulher anda fazendo”. Uma insinuação que ganhou as manchetes dos jornais, o ingrediente necessário para os milhares de torcedores vissem todo nosso sonho quase impossível se tornar realidade, com a intervenção e afastamento dos “donos do clube”. O Bahia modernizou seu estatuto deixando de ter donos.

Fiz este preâmbulo para dizer que justamente todos os grupos que organizavam estas carreatas e passeatas, eram unânimes em dizer que o Bahia não podia ter donos, pertencia a uma apaixonada torcida, soa até como ironia e um tiro no pé de certa forma admitir que não exista competência dos atuais Gestores para reverterem a situação, ao ler que conselheiros, muitos que fizeram parte dessa luta pela democratização, se reunirem para formar uma comissão para o Bahia se tornar uma SAF (Sociedade Anônima de Futebol).

Vale ressaltar que os clubes brasileiros que estão desesperadamente optando por esse modelo, são clubes em estado de calamidade financeira em função de administrações desastrosas e tenebrosas, e que não exista nenhuma perspectiva a curto e médio prazo de recuperação. Virar um clube-empresa não garante necessariamente o sucesso de um time, é fundamental que o empresário ou empresa responsável saibam gerir e administrar bem, não seja iguais aos que levaram o clube a esta situação.

Nunca é bom lembrar que no Brasil, Figueirense e Botafogo-SP têm o status de SAF, mas após más gestões esses clubes foram rebaixados para terceira divisão do Brasileiro de 2021. O desfecho de Fábio, goleiro e ídolo da torcida do Cruzeiro, retrata bem esse novo modelo de gestão. Foi demitido sumariamente pelo novo dono e ex-jogador do clube, Ronaldo, nem mesmo aceitando reduzir seu salário e de nada adiantou o protesto de sua torcida pela permanência, esse novo modelo de gestão não caberá mais à passionalidade, a relação é estritamente fria, profissional e financeira, o interesse do dono é soberano e prevalece quase sempre de forma antagônicas aos interesses de sua torcida.

A corrida desenfreada de investidores estrangeiros para tornar clubes brasileiros em SAF, é em função de o Brasil ser reconhecidamente um celeiro de craques, tornando uma maneira barata de formar captar e transferir jovens promessas por milhões de Euros para clubes da Europa. Para termos uma ideia, um jovem jogador Endrick do Palmeiras de apenas 15 anos que se destacou na Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano, existe um leilão entre Barcelona e Real Madrid, que já chega perto de 400 milhões de reais.

Outro exemplo é Danilo, meio campista do Palmeiras que foi dispensado das divisões de base do Bahia. O clube paulista já recebeu diversas ofertas de clubes da Europa, mas já deixou claro que o jogador não sairá por menos de 15 milhões de euros, que na cotação atual dá mais de 92 milhões de reais, ou seja, o Palmeiras que não tinha tradição de um clube formador, resolveu investir pesado com profissionais de primeira linha para suas divisões de base, conseguiu pela primeira vez um título da Copa São Paulo, e por ironia, grande parte desses profissionais, são baianos.

Isso mostra que o clube bem administrado tem que priorizar e capacitar suas divisões de base, com apenas pouquíssimas propostas de vendas recusadas pelo clube de revelações, já ultrapassa todo valor que foram adquiridos por clubes gigantes como Cruzeiro e Botafogo, para investidores estrangeiros é a maneira bem barata de formar e transferir jovens promessas por milhões, o clube poderá ser apenas uma barriga de aluguel, sem nenhuma preocupação com títulos e conquistas. A prioridade dos investidores por clubes de grande apelo popular é ideal para um retorno financeiro bem mais rápido, de bilheterias e compras do produtos do clube.

Vale lembrar que clubes com administrações competentes, que navegam em aguas financeiras tranquilas, essa discussão sequer é cogitada, esse mesmo modelo clubes chilenos e colombianos entraram na era de Sociedade Anônima há mais de dez anos, clubes que aderiram a esse modelo com um contexto bem parecido com o do Brasil, clubes endividados, mal administrados com discurso de um maior profissionalismo e transparência e com expectativa de crescimento e títulos por parte dos seus desavisados torcedores, foi completamente de frustação, apesar das contas de alguns desses clubes principalmente chilenos estarem regularizadas, o desempenho esportivo é pífio.

O Colo-Colom clube mais popular do Chile, o único chileno a conquistar o titulo da Copa Libertadores, e em 2021 esteve perto de ser rebaixado, mas venceu na repescagem a Universidad Concepcion por 1 a 0 e escapou do rebaixamento. Gostaria de lembrar a esses poucos conselheiros e sócios, números ínfimos em relação à Grande Nação que torce para este clube, precisamos dessa grande nação para consolidar todo processo de democratização, então toda decisão deve Democraticamente ouvir essa massa de pessoas modestas que não podem ter esse privilégio de pagar mensalidade, mas, deixa de comer para assistir seu clube do coração. Se não fizer isso não existirá legitimidade na decisão, e deixar um lembrete aos que precipitadamente podem estar tomando uma decisão completamente equivocada.

O povo Brasileiro tem Mestrado e Doutorado em saber que “Não há nada tão ruim que não possa piorar” e SAF para mim significa “Socorro Administrações Fracassadas”.

Jorge Machado, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.

 

Autor(a)

Redação Futebol Bahiano

Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

Deixe seu comentário