Geralmente, antes da largada das grandes competições, principalmente do Brasileirão, o mais importante e difícil campeonato do futebol nacional, torcedores e cronistas esportivos fazem avaliações ou pré-avaliações acerca dos times que podem ou devem brigar pelo título; os que podem disputar posições secundárias ou ainda, aqueles considerados “patinhos feios”, ou seja, os meros coadjuvantes que entram com o objetivo de permanecer na elite do futebol brasileiro, porque, só pelo fato de escapar do rebaixamento à Série B, já se torna uma grande conquista.
Fiz esse preâmbulo por entender que, se o Fortaleza fosse um dos grandes clubes do futebol brasileiro sediados nas regiões Sul ou Sudeste do País que estivesse compondo o G-4, com frequência, chegando a 15ª rodada do Brasileirão em 3º lugar, juntinho do Atlético Mineiro e Palmeiras que estão ocupando, respectivamente, primeira e segunda colocação da competição ou, até mesmo, se fosse um Corinthians, São Paulo, Flamengo ou outro gigante do nosso futebol, estaria tudo normal nas “bolsas de apostas”, mas, é um clube genuinamente nordestino do estado do Ceará, um dos estados mais pobres da sofrida Região Nordeste, um time que antes do início da competição era tido como um dos “patinhos feios” do Brasileirão, vem fazendo uma excelente e notável campanha, jogando um bom futebol, goleando grandes equipes e desbancando adversários fortes como o Palmeiras, é intragável para os sulistas, muito bom para o futebol brasileiro e ótimo para o futebol nordestino.
Sabemos que nem o imediatismo e nem a varinha de condão funcionam no futebol para que as coisas possam acontecer da noite para o dia. Mesmo o futebol sendo definido como uma “caixa de surpresas”, para que um clube tenha êxito em sua trajetória, independentemente da sorte que faz parte do jogo para superar o azar, é preciso muito planejamento, muito trabalho e muita dedicação de gestores que estão no comando do clube para a curto, médio ou longo prazo, colher os frutos do trabalho.
Lembro-me, muito bem, da difícil situação vivida pelo Fortaleza no período de 2007 a 2017 quando o clube deve ter experimentado o pior período de sua existência, época em que a instituição passou por diversas temporadas inserida na Série C, numa situação muito parecida com a do Bahia no amargo período de 2004 a 2010, só que, enquanto o Bahia passou cinco anos na Série B (2004 a 2005 e 2008 a 2010) e dois anos na Série C (2006/2007), o castigo do Fortaleza foi mais severo, o time jogou Série B de 2007 a 2009 e padeceu na Série C no longo período de 2010 a 2017.
QUE TAL, O PRESIDENTE DO BAHIA FAZER UM ESTÁGIO DE GESTÃO DE FUTEBOL COM O SEU CONFRADE DO FORTALEZA?
Ao contrário do presidente do Bahia Guilherme Bellintani que foi eleito para o triênio 2018/2020 recebendo um clube com dívidas, mas, com uma boa estrutura organizacional, foi reeleito para o triênio 2021/2023 prometendo uma profunda reformulação no departamento de futebol do clube objetivando bater metas importantes, o presidente do Fortaleza Marcelo Paz começou seu trabalho no Leão do Pici em 2015 atuando como Diretor de Futebol, no auge da crise do clube mergulhado na Série C, mas, com a renúncia do presidente Eduardo Girão em 2017, Marcelo assumiu um mandato-tampão de presidente, sendo reeleito no final de 2018 para o triênio 2019/2021.
Uma vitoriosa trajetória do gestor no clube cearense, trabalho que culminou com o acesso à Série B de 2018, sendo campeão no acesso da B para A de 2019, ano que conquistou seu primeiro título da Copa do Nordeste, enquanto que no ano subsequente disputava sua primeira Copa Sul-Americana, já está disputando o terceiro ano consecutivo de Brasileirão, fazendo uma imponente campanha, ocupando uma invejável 3ª posição na tábua de classificação, sem esquecer que o time já está habilitado à disputar as quartas de finais da milionária Copa do Brasil, competição que o Bahia já foi eliminado, ainda nas oitavas de final. Então, pela rápida ascensão técnica e competitiva do Fortaleza dentro das quatro linhas nos últimos quatro anos, o sugerido estágio seria proveitoso para o gestor do Bahia.
O ORÇAMENTO DO BAHIA É QUASE 30% MAIOR QUE O ORÇAMENTO DO FORTALEZA
Pelo pouco ou nada que entendo de Administração de Empresas, imagino que o orçamento de um clube de futebol, não é nada mais ou nada menos do que uma estimativa ou previsão de despesas e receitas realizáveis ou aleatórias previstas para o próximo ano fiscal da instituição, sendo que o orçamento do Esporte Clube Bahia para o presente exercício é de R$ 171.000,00 (cento e setenta e hum milhões de reais), enquanto que o orçamento do Fortaleza gira em torno de R$ 133.000.000,00 (cento e trinta e três milhões de reais), ou seja, teoricamente, o Fortaleza tem “parcos” 38 milhões de reais a menos que o Bahia para gastar nesse ano.
Veio à tona esse detalhe de orçamento em função de já ter ouvido o presidente do Bahia atrelar rendimento do time dentro de campo aos baixos valores dos orçamentos dos clubes nordestinos, que estão muito aquém dos orçamentos dos clubes sediados nas regiões Sul e Sudeste do País. E agora José, ou melhor, Guilherme Bellintani, o que é que o Fortaleza tem, que o Bahia não tem? Como se justifica o Fortaleza com esse orçamento tão inferior ao do Bahia, vem sendo a sensação do Brasileirão, praticando um futebol de primeira categoria, ocupando o G-4 em todas as rodadas e, atualmente, estando em 3º lugar, sem falar do Ceará e do Atlético Goianiense, este com o menor orçamento dos clubes da Série A, mas estão com times melhores e com maiores pontuações que o Bahia?
É bom registrar que o presidente quando optou pela reeleição, reconheceu sua “dívida” esportiva nos três primeiros anos de mandato para com o torcedor do Bahia o que lhe motivou pleitear um segundo mandato, supostamente, objetivando realizar o que não foi realizado no primeiro mandato, o que começou bem com a conquista do título da Copa do Nordeste, entretanto, começo a perceber que o clube voltou a enfrentar os mesmos problemas da temporada passada, principalmente, no nível das contratações que não tem suprido as carências do elenco como, também, a peneira que voltou ser a defesa.
Sei que essa pandemia que já perdura por um ano e tanto tem comprometido, excessivamente, o cumprimento das metas orçamentárias dos clubes, entretanto, o castigo é coletivo, é de A a Z e o Bahia não é exceção. Agora, se o clube é cooptado ou influenciado por empresários, se não dispõe de dinheiro para fazer boas contratações, se as despesas são maiores que as receitas, gerando déficit no final de cada mês, fatores que convergem em crise, o torcedor não é o culpado, que o presidente procure retirar o “S” da crise e crie ou, copie os modelos de gestão de quem é criativo e aplique-os no clube porque, o torcedor do Bahia é movido por títulos ou boas temporadas do time e isso tem sido muito escasso nas últimas administrações do clube.
To be or not to be, that is the question.
Ser ou não ser, eis a questão.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.