Se eu afirmasse aqui que ainda vibro ou sofro, respectivamente, com as vitórias e fracassos da nossa suposta Seleção Brasileira, o outrora Escrete Canarinho, estaria mentindo ou blefando, porque, a bem da verdade, a última vez que ainda torci, acompanhei e vibrei, fervorosamente, com a nossa seleção, aconteceu na Copa do Mundo Coréia/Japão, quando o Brasil conquistou o Penta, com os brasileiros varando madrugadas para assistir os jogos, que por conta da grande diferença de fuso-horário entre o Oriente e o Ocidente, eram realizados durante as madrugadas no Brasil.
A verdade é que, após a última conquista relevante da nossa seleção que foi o título da Copa do Mundo de 2002, a Seleção Brasileira, em termos de Copa do Mundo, saiu da condição de protagonista passando à situação de mera coadjuvante no campeonato mais importante do universo. Claro que após aquela histórica marca do Penta Mundial, o Brasil disputou cinco Copa das Confederações conquistando três títulos como, também, três conquistas em sete edições da Copa América Conmebol que, juntamente com Copa das Confederações, são importantes, mas, com graus de relevância muito menor que uma Copa do Mundo.
Não tenho a menor dúvida de que, quem não vivenciou o futebol-arte praticado no final dos anos 60 e início da década subsequente, não teve o privilégio e o prazer de assistir as “Feras do Saldanha” (Felix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu), nos jogos eliminatórios da Copa do México e na própria Copa, o timaço comandado por Zagalo (Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Tostão e Pelé), assim como o time de Saldanha que sobrou nas eliminatórias, vencendo e convencendo em todos os jogos, o time de Zagalo também venceu e encantou em todos os sete jogos da Copa de 1970, com Jairzinho marcando gols em todas as partidas, conquistando o Tricampeonato Mundial com todos os méritos. A única diferença entre as “duas” seleções estava no esquema de jogo, enquanto o Time de João Saldanha jogou no 4-2-4, o time do Zagalo jogou no 4-3-3, mas, em ambas, craque é que não faltava.
Muitos cronistas e analistas esportivos não se cansam de afirmar que a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos foi a de 1982 formada por Waldir Perez, Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho Chulapa e Eder, comandada por Telê Santana, timaço que sucumbiu na famigerada “tragédia de Sarriá”, quando o Brasil tomou 3×2 da Itália em jogo válido, ainda, pelas oitavas de final com Paolo Rossi marcando os três gols, eliminando a seleção da Copa, que pelo futebol bonito e competitivo que vinha jogando no decorrer da competição, já se tornara uma das grandes ou até, a principal favorita à conquista do título daquele Mundial. Discordo, por entender que o time comandado por Telê era excelente, mas, o de Zagalo em 1970 foi fora de série, além de ter sido campeão.
Sei que muitos desportistas, principalmente, os que não conviveram com à fase áurea do futebol brasileiro, pela realidade e o saudosismo exposto, já devem está me criticando ou me tachando de crige, isso não me incomoda, modéstia parte, tenho uma memória sóbria e seletiva que jamais permitirá esquecer de tantos craques de futebol do calibre de Gerson, Rivelino, Jairzinho, Tostão, Sócrates, Carlos Alberto e o maior e melhor futebolista do mundo de todos os tempos, o Rei Pelé, o “Deus de todos os estádios” como dizia o narrador Valdir Amaral na então Rádio Globo, para agora ter que “engolir” o futebol medíocre e sofrível que a seleção tem apresentado nas duas últimas décadas, com muito jogador pé duro ou meia-boca que desagregam mais do que agregam ao nosso outrora escrete canarinho.
Há quase vinte anos que o torcedor brasileiro tem que ter muita paciência e tolerância para assistir um jogo desses catadinhos “europeus” que ainda ousam em chamar de Seleção Brasileira. Qualquer treinador que que é contratado pela CBF, na hora da convocação, só requisita os brasileiros que jogam no futebol europeu, convocando um ou dois gatos pingados que atuam no futebol brasileiro, só para compor o banco de reservas, atletas que nem são aproveitados nos jogos, atitude que se caracteriza como um acinte ao nosso futebol e, o pior, não tem ninguém da cúpula da CBF que interceda nessa questão, os cartolas agem como verdadeiras “vacas de presépio'” sempre dizendo amém para os treinadores.
A “Fábrica” que produzia craques no Brasil já fechou há muito tempo, nos tempos de hoje no dicionário do futebol brasileiro, craque é uma palavra extinta, porque só dispomos de alguns jogadores acima da média. Dói na alma daqueles que viram os escretes canarinhos que já citei acima para ver, por exemplo, essa caricatura de time que jogou essa conturbada Copa América: Ederson, Danilo, Thiago Silva, Marquinhos e Renan Lodi; Casemiro, Fred e Lucas Paquetá; Neymar, Everton Cebolinha e Richarlyson! Na minha modesta opinião, nesse time só se salva Neymar que tenta carregar o time nas costas, com menções honrosas para Casemiro e Thiago Silva, o resto, é resto.
Como em quase tudo que é ruim ou negativo, a gente consegue extrair algo de bom, o ponto positivo que o torcedor brasileiro colheu com a derrota do Brasil para Argentina, foi não ter a tristeza de assistir o mais pernicioso e letal vírus da Covid-19 no Brasil fazer a entrega da Taça ao Capitão da nossa seleção, caso o Brasil tivesse vencido o jogo, mas, a conquista do título pela Argentina, trouxe alegria e vibração ao Papa Francisco que se convalesce de uma cirurgia, consolidadas no domingo com o título da Eurocopa conquistado, brilhantemente, pela seleção Italiana.
O Brasil vai bem, obrigado, nas eliminatórias para disputar a Copa do Mundo 2022 no Qatar, são seis jogos, dezoito pontos, 100% de aproveitamento e só se acontecer uma tragédia grega para não se classificar. Só que, estamos enfrentando os adversários da América Latina, e na Copa do Mundo, tem os gigantes europeus e, pelo futebol que tem praticado as seleções da Europa, se esse timeco de Tite for enfrentar algumas delas, sei não, mas, poderemos ter o replay de Alemanha 7×1 Brasil da Copa do Mundo de 2018.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.