Sempre se posicionando na luta contra o racismo, o técnico do Esporte Clube Bahia, Roger Machado, financiou um projeto que pretende lançar 50 livros de autores negros e indígenas nos próximos cinco anos. De acordo com o portal UOL, serão publicados esse ano ainda 10 livros da coleção Diálogos da Diáspora que, graças ao financiamento do Projeto Canela Preta, de Roger, chegarão ao mercado com preço acessível para a parcela mais carente da população, formada em sua maioria por negros. Roger, que já tem desenhado o projeto de um instituto, o Tiaduca (homenagem à sua mãe de criação, que era conhecia assim, e referência à educação), tem planos para que a coleção se transforme, no futuro, em uma editora voltada à publicação de autores negros.
“Quando minhas filhas eram pequenas, eu procurava livros para elas, de literatura infanto-juvenil, com autores e personagens negros, e tinha dificuldade e encontrar. Essa inquietação cresceu quando li o livro da Chimamanda Adichie que fala do perigo da história única, como é prejudicial o país quando a história é contata só por um lado, o lado que detém os meios da produção do conhecimento”, conta Roger.
Tadeu de Paula, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa Egbé, falou sobre o projeto.
“Menos 10% dos livros publicados no Brasil são de autores não brancos e isso é um reflexo da exclusão no espaço acadêmico. Com a chegada de mais negros à universidade, fruto das cotas socioraciais, a gente está tendo maior produção sobre racismo, lutas contra desigualdade social, e a gente entendeu que era importante ter um fomento de produção editorial desse espaço”, conta
De acordo com De Paula, que é doutor em Saúde Coletiva, a iniciativa de Roger de financiar uma coleção que abre espaço no mercado editorial para autores normalmente segregados surpreendeu outros acadêmicos que atuam nesse campo. “O nosso conselho editorial tem 13 pesquisadores de diferentes áreas e de federais de todo o país. Ninguém conhecia recurso vir dessa fonte, do futebol. E é um lugar que tem muito dinheiro”, diz.
Os livros serão lançados pela Hucitec Editora, especializada em humanismo, ciência e tecnologia. O conselho editorial fará a curadoria para escolher, todo ano, ao longo de cinco anos, 10 obras preferencialmente de escritores negros e indígenas, nas mais diversas áreas acadêmicas: Antropologia, Sociologia, Psicologia, Urbanismo, Direito, Filosofia, Letras, Pedagogia, Comunicação, Arte, etc. A coleção também vai incluir literatura de ficção, poesia e saberes tradicionais, que são os conhecimentos que são produzidos fora da academia. Aí se encaixam mestres griôs, religiosos e das artes.
Os trabalhos pré-selecionados serão avaliados por um ou mais componentes do Conselho Editorial. A partir do banco de obras pré-selecionadas, os coordenadores (um tripé formado pelo Canela Preta, a editora e o Grupo de Pesquisa Egbé) selecionarão os 10 livros de cada coleção, com base em quatro critérios: diversidade de temas, de áreas de conhecimento, de gênero de autores/autoras e de regiões do Brasil.