Bellintani diz que nunca foi cogitado cortar os salários do time feminino

Bellintani diz que nunca foi cogitado cortar os salários do time feminino

Jogadoras do Bahia recebem seus salários normalmente durante a pandemia

Foto: Reprodução

Após encerrar a parceria com o Lusaca, o Esporte Clube Bahia montou o seu próprio time do futebol feminino, e desde então, entende sua responsabilidade com a modalidade. Em abril, já durante a pandemia por Covid-19 que atingiu o Brasil, o clube negociou com os jogadores do masculino uma redução de 25% dos salários. As jogadoras foram preservadas desse corte nos valores. O dirigente comentou em entrevista ao “Dona do Campinho” que não foi sequer cogitado colocar o time feminino na linha de corte, por entender que as jogadoras já recebem um salário muito abaixo dos atletas do futebol masculino. É o que destaca a jornalista e comentarista Cíntia Barlem, em seu Blog no site Globoesporte. Veja abaixo a entrevista do presidente do Bahia:

 

“Para nós, é uma decisão muito natural. Ela acontece quase como uma coisa normal dentro do clube. Nunca cogitamos colocar o time feminino na linha de frente dos cortes. Não faz absolutamente nenhum sentido. Essa não é uma decisão sequer discutida dentro do clube. A gente não trata isso como um assunto que mereça qualquer discussão ou dúvida. Não é que o time feminino não vá ter dificuldades. Apenas eles terão as mesmas dificuldades que nosso time masculino. Nem mais, nem menos. Se a gente puder até diminuir a quantidade de dificuldades enfrentadas pelo time feminino é até melhor porque a gente entende que elas são mais fáceis de serem superadas. Os valores envolvidos são menores pela histórica relação de déficit entre salários das jogadoras e dos jogadores. Infelizmente isso também acontece ainda muito fortemente no Bahia porque o mercado do futebol feminino é um mercado de grande dificuldade de captação de recursos. A gente desloca recursos captados do masculino para o feminino e naturalmente a gente repete aqui ainda uma grande lacuna que encontra-se no futebol brasileiro e no futebol como um todo ainda mundial que é a remuneração do masculino e do feminino. Ainda é muito significativo. Eu encaro isso com algum grau de naturalidade . declarou.”

Bellintani comenta ainda que o futebol feminino precisa evoluir em termos econômicos, mas acredita que mesmo assim a diferença em relação ao masculino é muito maior do que deveria ser. E ele faz essa autocrítica dentro do próprio Bahia.

“O futebol feminino ainda tem que evoluir muito sob o ponto de vista econômico, lutar muito pelo seu espaço, mas por outro lado eu acho que o déficit é muito maior do que deveria ser. A diferença é muito maior do que deveria ser. Ela já deveria estar reduzida. Eu falo isso também inclusive ao Bahia como uma autocrítica aqui do nosso trabalho. Mas nunca passou pela nossa cabeça, sequer foi discutido um corte no futebol feminino de jeito nenhum. A gente entende que isso está dentro da cultura do clube, está dentro das normas de nossos princípios, metas que a gente estabeleceu. Naturalmente qualquer dificuldade que a gente tenha no futebol feminino, ela será inerente à própria circunstância, mas não será maior com o que a gente tem com o futebol masculino, por exemplo, em termos de cortes. De jeito nenhum”

Questionado se o time masculino poderia encarar de uma forma negativa a preservação dos valores das jogadoras, o presidente do Bahia garante que não. Partiu até mesmo dos atletas a preservação dos salários de alguns funcionários do clube. Ele diz que isso é parte da cultura do time, e cada novo atleta que chega já está inserido nesse propósito e modo de agir do time como um todo.

“A gente consegue fazer a coisa de uma maneira muito equilibrada. Quando as decisões elas não são pontuais, são frutos de uma cultura corporativa, cultura de existência do clube, o clube tem isso como seu propósito isso vai sendo aceito de uma maneira muito mais natural. O clube que tem um propósito definido ele faz com que cada jogador no momento que chegue aqui, cada novo jogador ou jogadora, aí indo para a sua pergunta do masculino no caso, como ele vê essa blindagem, ele vê desde o momento que ele chega. Tem uma cultura corporativa muito clara, um propósito de existência, uma linha de defesa de determinadas causas, projetos, onde o futebol feminino inclusive se inclui, que é muito clara. O estranho seria se a gente não fizesse isso. Da forma como o Bahia vem atuando os próprios jogadores do masculino talvez cobrassem isso de nós. Na discussão de redução de salários de jogadores, eles falaram: “olha, não vamos cortar de quem ganha até um salário mínimo e meio”. Ok, não vamos fazer isso. Esse tipo de blindagem é uma coisa provocada pelo próprio atleta porque ele vê isso e tem uma sintonia, sinergia já com o que o clube acredita”

Guilherme Bellintani explicou também como funciona em relação à unidade futebol feminino dentro do clube. O presidente coloca que são unidades de negócio dentro do Bahia. Entre elas, está a modalidade. Ela diz que hoje o projeto da modalidade é deficitário, mas entende que ele tem condição de ser superavitário. Ressalta que é preciso começar o processo para isso, assim como estão fazendo. O dirigente ainda revela um detalhe. Há um patrocínio que é exclusivo do time feminino e, através dele, o Bahia assegurou até uma economia para o masculino com a permuta por exames médicos.

“Essa é uma conquista necessária. A gente planeja isso tudo dentro do clube. A gente chama aqui de unidade de negócio. Temos um conceito de gestão dentro do Bahia que o conceito de unidade de negócio que é alocar custos e receitas dentro de grupos específicos, projetos específicos. E hoje o projeto do futebol feminino é um projeto que é deficitário, mas a gente entende que ele tem condição sim de ser superavitário, de sustentar seu próprio desenvolvimento. Não que isso seja condição. Importante dizer isso. As pessoas acham às vezes: “o futebol feminino é deficitário, vamos interromper o investimento”. Muito pelo contrário. A gente está aqui começando o processo. Querer que o futebol feminino seja superavitário, que ele dê resultado positivo não significa que isso seja uma condição para ele existir no clube. Muito pelo contrário. A gente entende que tudo é uma etapa. A gente primeiro planta a semente, aposta, investe e depois a gente entende que faz parte até da construção da autonomia do projeto que ele comece a ter mais receitas do que despesas. Mas isso virá no momento certo, na hora certa. Acredito demais nisso. A gente já tem hoje uma patrocinadora exclusiva do futebol feminino. Isso é muito positivo. E aqui a gente tem via futebol feminino o patrocínio de uma clínica especializada no atendimento a mulheres em Salvador que é a Cam. E a gente consegue por meio do futebol feminino reduzir despesas do masculino já que essa clima hoje também faz exames pro futebol masculino, exames que antes a gente pagava para fazer e hoje a gente faz como uma permuta de exibição no futebol feminino, na camisa do feminino. Reduzimos aí custo do masculino também. Isso é muito legal porque a gente consegue fazer assim uma parceria que é muito mais ampla e mostra como o ativo do futebol feminino também”

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Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com



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