Com um inédito cortejo literário, partindo “às 15h59” dos pés das estátuas dos caboclos, no Campo Grande, em direção ao Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), no Corredor da Vitória, acontece neste sábado, 9, o lançamento de Ingresia, primeiro livro do jornalista Franciel Cruz. O evento, que “vai abalar a Bahia e uma banda de Sergipe”, como define o autor, terá shows do DJ Barata e do cantor e compositor Mario Mukeka Cortizo, e tem tudo para se transformar numa grande festa, sem hora para acabar. Na ocasião, será também lançado o infanto-juvenil Sítio Caipora, da escritora e antropóloga Núbia Bento Rodrigues.
Ingresia tem noventa crônicas, escritas desde 2002, inicialmente em blogs e agora reunidas “por insistência dos amigos”. A obra conta com um posfácio póstumo do crítico de cinema André Setaro e é apresentada pelo também jornalista Claudio Leal, para quem Franciel é “um narrador empurrando as portas do mundo, (…) com sua verve sertaneja, exuberante nas provocações (…) num fluxo magnético de histórias”. Política, futebol, culturas e descrições do cotidiano, colhidas da atenta observação do estilo de viver baiano, sobretudo das pessoas simples da cidade, formam a matéria-prima do livro, cujas marcas registradas são o humor e a cortante ironia, características principais do baiano de Irecê, já muito conhecido nas redes sociais. A orelha é da pena do escritor Xico Sá.
Nas pouco mais de duzentos e cinquenta páginas de Ingresia, quase nada escapa à reflexão do jornalista. Homenagens a (poucos) ícones culturais, como os artistas Elomar, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil e Lazzo Matumbi, se misturam a estórias divertidas de sua vida, como quando largou o carnaval de Salvador para se arrepender nos frevos das ladeiras de Olinda ou os porquês de nunca ter tido um aparelho celular. Ou, ainda, quando passou a acompanhar os festejos da Independência da Bahia, “uma réplica de Sucupira, com (…) uma multidão de Nezinhos do Jegue a protestar e bajular os políticos, (…) fanfarras e bêbados que fazem zoadas”. Aliás, os carnavais, antigas festas de largo e as manifestações populares de Salvador ocupam várias páginas do livro, que aponta críticas sociais certeiras e não poupa nenhum autodenominado “dono da cidade”. Com alta dose de sarcasmo e usando neologismos, frutos das suas andanças nos becos e vielas soteropolitanos, Franciel desnuda autoridades – como quando entrevistou um famoso ex-presidente da República e o deixou desnorteado com apenas uma pergunta -, e populares (como a “cidadã, useira e vezeira” em fingir deficiência física para conseguir lugar sentada no “buzu” lotado, o amigo acometido de forte disenteria na primeira visita à casa da namorada ou o cobrador que conta suas estórias românticas no ônibus para quem quiser ouvir). Em Ingresia, o ireceense discorre ainda sobre políticos, injustiças e sua visão de mundo, passeando pela literatura, cinema e música. Sempre, porém, com muito humor e alta dose de baianidade.
O “repórter de perguntas sem afagos”, como é descrito na apresentação, é formado desde 1995 pela Faculdade de Comunicação da Ufba, e já trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia e no extinto Bahia Hoje. Organizador das crônicas do falecido comentarista esportivo Armando Oliveira – em conjunto com Olivia Soares, Claudio Leal e Wolney Sampaio – e colaborador de diversos jornais e revistas, o autor é servidor da Assembleia Legislativa da Bahia.
Para Setaro, “a sua pena é da galhofa, da ironia, exercitando sempre no que diz e no que fala, o seu pessoal sentido de ironia, de ver as coisas da vida com peculiar humor”. Torcedor do Vitória, o jornalista acumula, ainda, publicações que vêm renovando a crônica esportiva do Estado, através do site “Vitoria Quae Sera Tamen”.
SERVIÇO
O quê? Lançamento dos livros Ingresia, de Franciel Cruz, e Sítio Caipora, de Núbia Rodrigues
Quando? Sábado, 9 de junho, a partir de 17H
Onde? Haus Kaffee, pátio do ICBA, Corredor da Vitória