Nenhum grande homem precisa se dizer grande – e quando o diz, talvez seja sinal de que não o é. A grandeza de um homem, sob o olhar de terceiros, é medida pelos seus atos, suas palavras, seus pensamentos. Isso também vale para um partido político, um sindicato, um clube de futebol, enfim, isto também vale para uma instituição.
O atual presidente do Bahia, Marcelo Pereira Sant’Ana, parece não concordar com isso, pelo que fala repetidas vezes – e logo depois diz que “errou” para deixar tudo por isso mesmo.
Sant’Ana é o presidente de menor idade entre os clubes das séries A e B do futebol brasileiro. Talvez o problema seja este: a menor idade, pois o jovem muitas vezes tem a necessidade de autoafirmação.
Mesmo não sendo perguntado, o cartola sempre diz e repete que o “Bahia é time grande”. Enquanto estiver nos arroubos de grandeza, tudo bem, é estranha essa obsessão, mas faz parte do espetáculo.
O problema é quando ele, sem-quê-nem-praquê, o faz para criar animosidade com o arquirrival Vitória, sempre com provocações que ofendem a cultura do respeito mútuo e da paz no esporte.
Querendo ou não, os pontapés que o pequeno príncipe solta pela boca (sem ninguém ter perguntado) só fazem exaltar os ânimos, incitar a violência, chamar o rival para a briga em baixo nível.
Fazer o que esse rapaz vem fazendo reiteradamente é piorar a situação que já não é das melhores, pois os clássicos já estão condenados a ter apenas uma torcida no estádio, medida que nunca se imaginou que acontecesse na Bahia.
Sejamos sinceros, sem paixão, e admitamos o óbvio ululante: no Brasil, os clubes chamados e tratados como “grandes” são 12, sendo 4 do RJ, 4 de SP, 2 de MG e 2 do RS.
A verdade nua e crua é que os outros clubes são meros atores coadjuvantes do espetáculo chamado Série A, com chance zero de serem campeões e remotas possibilidades de classificação para a Taça Libertadores.
Na prática, os chamados “grandes” são aqueles que recebem grandes receitas de patrocínio, grandes cotas de TV, aqueles que possuem grandes estruturas, grandes estádios próprios, grandes folhas de pagamento, grandes craques, grandes salários.
O Bahia e o Vitória, assim com o Sport, o Guarani, o Furacão, o Coritiba não figuram entre os chamados “grandes” (tendo ou não tendo títulos nacionais).
Todo nós temos o melhor pai do mundo. Todos nós temos a melhor mãe do mundo. Todos nós moramos na melhor cidade do mundo. Então, como diz um canal de TV, o melhor (e maior) time do mundo é o seu. E morreu Maria Preá.
O Vitória, para estar no coração dos seus torcedores, para ganhar títulos pequenos ou grandes (até em cima do Bahia), não precisa da opinião do megalomaníaco mandatário do Fazendão.
Da mesma forma é o Bahia. Com seu hino, seus canecos nacionais e a maioria dos títulos estaduais, para ser gigante no coração de seus torcedores não precisa da opinião de Abel Braga ou de Joel Santana, que fizeram piada sobre o clube em rede nacional.
Para responder a Marcelo Pereira Sant’Ana, eu poderia fazer desse espaço público uma arquibancada e relembrar o apelido que Joel Santana (funcionário do Bahia quatro vezes) colocou no clube. Mas não vou fazê-lo, pois quem quer ser respeitado precisa se dar ao respeito – e nós precisamos trabalhar pela cultura da paz.
O futebol não merece esses atos, essas palavras do pequeno príncipe Marcelo Pereira Sant’Ana. O futebol não merece presidentes que, mesmo sendo jovens na idade, falam como se fossem vetustos cartolas.
Marcelo Torres, jornalista, servidor público federal, baiano, mora em Brasília e amigo do BLOG