O futebol brasileiro se transformou em um esporte das mediocridades

O futebol brasileiro se transformou em um esporte das mediocridades

No mundo em arrumação, não há como ser omisso por todo o tempo.

O futebol brasileiro se transformou em um esporte das mediocridades

O futebol está completamente inserido na cultura brasileira, aliás, somos conhecidos com o reduto oficial do futebol, neste embalo, alguns dos seus personagens utilizam sua popularidade para impulsionar campanha política, o exemplo de Felipe Melo, volante do Palmeiras, que se transformou em cabo eleitoral do atual presidente Jair Bolsonaro, posição legítima se não estivesse envergando a camisa do empregador. Já o Clube Atlético Paranaense foi além quando usou as dependências da agremiação como uma espécie de sucursal avançada dos interesses do candidato eleito, isto sem o aval de sócios e torcedores. Cartolas, alguns medíocres, após suas gestões viraram vereadores ou deputados, em ambas as casas e até senadores da república, no entanto, a via contrária também é verdadeira. Mesmo com sua força e popularidade, o futebol é omisso nas grandes causas nacionais. Essa é a visão de Moisés Mendes no seu BLOG pessoal.

 

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O futebol no Brasil virou o esporte das mediocridades. Branquearam os estádios, correram o povo das arquibancadas. Jogamos futebol hoje como os europeus jogavam até os anos 50.

O Brasil retrocedeu, os europeus evoluíram e os brasileiros tentaram copiar os europeus. E o que se vê é a ditadura dos métodos e da burocracia.

Os esquemas mataram o futebol, porque o jogador se acovardou diante dos ditadores de sistemas de jogo e dos sistemas dos empresários, das federações, dos interesses da televisão, dos políticos e dos mafiosos.

A coisa mais interessante no futebol brasileiro hoje é o VAR, o equipamento eletrônico de repetição das jogadas. Nada emociona mais do que um gol assinalado cinco ou mais minutos depois de ter acontecido. O resto é previsível e tedioso.

Mas há saídas para o futebol. Uma delas é politizar-se descaradamente, sem medos. Que grupos progressistas se oponham publicamente aos grupos de reacionários que já se manifestam e matam o futebol.

Que a extrema direita tenha um contraponto à altura e que o futebol seja mais do que entretenimento a serviço dos medíocres. Que o futebol se assuma como espaço público de confronto de ideias em momento graves, que volte a improvisar, a afrontar e a romper com seus esquemas corruptos.

O futebol não pode se dar ao luxo de se considerar um reduto de falsas neutralidades. O imobilismo não é neutro.

Atletas de todo o mundo, não só negros, manifestam-se contra o assassinato de George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos.

Mas não há uma voz, nunca houve, de um atleta do futebol brasileiro que expresse dor ou indignação pelos assassinatos de negros por policiais no Rio, em São Paulo e outras grandes cidades.

Os jogadores de futebol nasceram nos subúrbios onde a polícia mata seus amigos pobres e negros. Os policiais matam seis jovens por dia no Rio.

Um jogador de futebol que nasceu na favela não pode ser tão indiferente e alienado diante dessa matança. Um empresário não pode manietar a consciência de um atleta negro.

Em momento graves, o esporte assumiu posições fortes e inspiradoras contra o racismo, como fizeram os corredores negros John Carlos e Tommie Smith ao erguerem o punho fechado no pódio da Olimpíada de 1968 no México, ou como fez Muhammad Ali em 1967 ao se negar a lutar no Vietnã.

Mas não precisa ser um gesto grandioso, basta a resistência cotidiana. O futebol tem de ser inspirador de atitudes.

O Brasil já teve grandes atletas democratas valentes no tempo da ditadura. Repolitizar o futebol é salvá-lo da resignação alienadora. É fazê-lo voltar a pensar.

Espertalhões dizem que o futebol é apenas paixão e irracionalidade. Não é. O futebol é o antro da racionalidade do reacionarismo. As torcidas brancas nos estádios são formadas por uma maioria de reacionários.

Os clubes são dirigidos por gente da direita e da extrema direita. Os times são treinados por bolsonaristas e pinochetistas.

Não falem das exceções e da bravura das minorias das torcidas antifascistas, de exemplos como o Bahia e poucos outros. Não precisamos relembrar de novo de Sócrates, nem falar de Luxemburgo, de Juninho Pernambucano ou de Casagrande.

Falemos das maiorias, das máfias do futebol e das marcas que dele tiram proveito. Todos os que detêm o controle do esporte como negócio gostariam que o futebol fosse politicamente inodoro e incolor. Mas o futebol é mais do que isso, é politicamente covarde.

No mundo em arrumação, não há como ser omisso por todo o tempo. Mirem-no no exemplo dos craques espanhóis. Quando os líderes separatistas da Catalunha foram presos, o Barcelona e seus principais jogadores de manifestaram.

O zagueiro Gerard Piqué escreveu no Twitter, em apoio ao time a que serve: orgulhoso de fazer parte deste clube.

Jogadores consagrados assumiram em clubes da Europa a liderança no enfrentamento de torcidas nazistas. Clubes têm posição radical explicitada antifascismo. No Brasil, o fascismo é idolatrado por muita gente conhecida no futebol, inclusive dentro dos vestiários.

Agora, o francês Kylian Mbappé, que mora em Paris, é uma das celebridades mundiais do esporte que se manifestam cobrando justiça pelo assassinato de George Floyd. Outros, como Colin Kaepernick, ex-astro do futebol americano, oferecem advogados aos manifestantes que vão às ruas.

Não li uma frase, uma só, de brasileiros que jogam futebol nos Estados Unidos a respeito das ruas em chamas. Nem de negro, nem de branco. Não li e tenho certeza de que não vou ler.

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Autor(a)

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Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com



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