A mais nova campanha publicitária do Esporte Clube Bahia, rendeu excelente repercussão nas redes sociais e na imprensa nacional. Chamar à atenção para o, possivelmente, maior desastre ambiental e marítimo do Nordeste. Outras peças com viés social renderam justos elogios pelo país, só não maiores que o notável momento em campo, sendo, supostamente, reflexo daquela que pode ser a melhor gestão administrativa do século vigente. Com um cenário tão positivo, seria alguém capaz de tecer críticas à administração do atual mandatário, eleito por mais de 80% dos sócios votantes no último pleito? Parece algo difícil de assimilar, até mesmo por quem não acreditou no político que abdicou, temporariamente, da carreira pública para usar o clube como, provavelmente, trampolim.
Com o maior orçamento da história, 143 milhões de reais, o Esquadrão rifou Eric Ramires, num contrato de altíssimo risco com um dos principais clubes da Suíça. O próprio treinador, Roger Machado, gostaria de continuar com Ramires como opção de jogo. Não é primeira vez que uma joia da casa é negociado, precocemente. Daniel Alves e Anderson Talisca foram as peças mais notáveis da necessidade de recursos adicionais para equacionar as receitas orçamentárias.
Enquanto a ciência da administração faz contraponto à necessidade de vender jogadores para complementar o orçamento ordinário, o Bahia faz exatamente o que quase todos os demais clubes fazem, o constante hábito de vender jogadores, precocemente.
Ora, o talento, muitas vezes, precisa ser lapidado, potencializado, executado, para depois ser vendido por um valor extraordinário. Bem isso tem feito o Grêmio, ao segurar, com muito esforço, o Everton Cebolinha, mesmo com propostas multimilionárias de grandes clubes europeus.
No que tange as receitas, nem mesmo todo o destaque nacional na atual temporada foi capaz de trazer contratos com empresas nacionais e recursos condizentes com o real valor de expor suas marcas no manto azul, vermelho e branco. O tricolor da boa terra continua sendo visto com indiferença pelas empresas nacionais. Diante do exporto, nada tem sido feito que tão somente aceitar cotas de patrocínio pífias para o tamanho da marca Bahia.
Se o orçamento é bom em relação aos anos anteriores, poderia ser muito maior se métricas estratégicas fossem utilizadas com base científica. A maior mobilização do departamento de marketing tem sido em função de aumentar o quadro societário.
O Gigante de Aço tem cerca 40 mil sócios, a maioria deles são sócios da Arena Fonte Nova, ao indexar um generoso desconto em cima dos valores de bilheteria em relação aos torcedores comuns, sem vínculos societários. Essa é uma forma de forçar o torcedor que frequenta o estádio a se associar, mas com ticket médio baixo, gerando próximo dos 20 reais.
Longe da cultura sociativista, a maioria dos baianos tem ignorado o modelo apresentado pelo futebol brasileiro. Raros os clubes tupiniquins que possuem uma taxa realmente elevada de sócios, capazes de apresentar uma receita significativa dentro do orçamento anual.
Os aspectos relacionados a não governança, contemplam, o conselho deliberativo, diferente do que prega a literatura, no que tange a exclusão do conselho de administração, se aproximando muito do parlamentarismo que, por sinal, não funciona no Brasil. A escassez de canal de denúncia, reformulação do estatuto com base nas relações societárias e, por última, ouvidoria, implementada, mas que muitas vezes não funciona.
Como não bastassem as brigas nos estádios, não demérito apenas do Bahia, mas do futebol brasileiro como um todo. Encabeçadas por torcidas organizadas, a rivalidade virou uma arena de horrores, xingamentos, jogos, predominantemente, de uma torcida só, violência, conflitos armados, até homicídios, que a institucionalidade clubista tem se provado incapaz de solucionar. Enquanto política e futebol se misturarem, teremos o nosso mais popular esporte sucumbindo diante do que já foi um dia.
Luigi Bispo, Tecnólogo em Processos Gerenciais, Especialista em Gestão Esportiva e MBA em Gestão Executiva e Liderança Estratégica. Autor do primeiro estudo científico sobre Governança Corporativa do futebol baiano, em 2015.