Tá na hora de parar e pensar se é esse mesmo o caminho. - Por Erick Cerqueira

Tá na hora de parar e pensar se é esse mesmo o caminho. – Por Erick Cerqueira

Sou do tempo da Torcida Mista, quando a gente subia os Barris, com uns 20 a 30 torcedores do Bahia e do Vitória

Meus textos sempre foram coloridos. Mas precisamos falar sobre cenas tristes e cinzas que vi assustado no domingo. Escrevo há 11 anos pra esse site, sempre abusando a torcida do Vitória e sempre levando com bom humor as gozações. Mas precisamos falar sério dessa vez.

 

Sou do tempo da Torcida Mista, quando a gente subia os Barris, com uns 20 a 30 torcedores do Bahia e do Vitória juntos, andando pela Av. Joana Angelica, conversando e abusando um ao outro. As grandes Torcidas da época eram a BAMOR e a Leões da Fiel, e ambos possuíam integrantes nos Barris. A gente ia pra se divertir.

Na chegada da Fonte, parte ia pra direita, parte virava pra esquerda, mas a grande maioria ficava atrás do gol da Ladeira, no anel intermediário. Era a nossa Torcida Mista. A gente comia rolete, tomava limonada gelada no balde de lata, abusava das vendedoras de pipoca, comemorava os gols e abusava o rival, que estava ali, do nosso lado. Às vezes com esposa, com filhos pequenos, crianças dormindo, E quando era o lado rubro-negro que ‘achava’ o gol, a gente respeitava a sacanagem bem calado e murcho.  

Saíamos juntos e voltávamos juntos, sempre com o vencedor sacaneando o perdedor. Subia a ladeira da Fonte, parava no churrasco de gato na frente do Unimar. Comentava do jogo, ria das falhas dos nossos times e voltava todo mundo pra casa de boas. 

O tempo passa e chega a história da foto desse texto. A imagem foi tirada em 2014, um dia especial. Indo pro Bavi com meu amigo Emerson Silva, meu “filho adotivo” de Camaçari. A gente fez a festa antes do jogo, na Subway do Dique. Era tanta gozação um com o outro que a galera falou que tava melhor que Jair e Vicentino. Depois foi cada um pro seu lado porque já existia Torcida Mista. E era essa a imagem que encantava todo o Brasil. Que fazia com que o Craque Neto elogiasse as nossas Torcidas pela civilidade com a qual nos respeitávamos. 

As cenas que assisti nesse fatídico domingo, 4 de setembro, não foram somente assustadoras. Foi como um tiro de misericórdia numa tradição de paz e alegria que sempre esteve presente na rivalidade entre os dois maiores clubes da Bahia. Além da briga entre torcedores, três seres humanos foram atropelados e, mesmo no chão, sofreram pedradas e pauladas. Não satisfeitos, os agressores ainda filmaram e riram das cenas absurdas que presenciaram. Chegaram a postar nas redes sociais como se fosse um troféu de guerra.

O que explica isso? Não tem nada a ver com futebol. Não tem a ver com amor ao Bahia ou ao Vitória. 

Que essa selvageria merece nosso repúdio e seus culpados merecem cadeia, isso é o mínimo. Mas precisamos que os Dirigentes das Torcidas Organizadas parem, pensem e conversem entre si: está valendo a pena? 

Uma perna quebrada, fratura exposta de um crânio, cirurgia na pálpebra, braço quebrado e 53 detidos com a camisa do clube que vocês amam, aparecendo em rede nacional, não assistiram ao jogo do seu time e a polícia debatendo se vocês poderão voltar a entrar em estádios. Tá valendo a pena?

As pessoas ligando pra mim, desesperadas, porque sabem que só ando com camisa do Bahia. Estavam temendo pela minha vida. Imaginem a que ponto chegamos. Não é possível que isso possa continuar.

Que os culpados sejam exemplarmente punidos e que possamos voltar a torcer por nossos times, com a alegria dos estádios e não com a barbárie das ruas. Somos muito maiores que isso. Não nos deixemos abalar e sigamos na torcida por dias de menos intolerância. Reflitamos.

 

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Autor(a)

Erick Cerqueira

Resenheiro extra-oficial do Único TIME BI CAMPEÃO BRASILEIRO entre Minas Gerais e o pólo Norte. Pós graduado em Gestão Esportiva, publicitário, parcial, Torcedor do Bahia e pai de Thor! Twitter: https://twitter.com/ericksc_



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