Clássico BA-VI com torcida mista é melhor que torcida única, que é infinitamente melhor que portões fechados. Cabe as duas torcidas tomarem vergonha e não agirem como animais irracionais. Não podemos agir como vândalos, afinal, esporte é lazer e não disputa de sangue. Temos, é óbvio, as nossas paixões, mas isso não pode sair do âmbito da diversão, da brincadeira. Somos racionais, maduros, e depois dos jogos somos pais, mães, filhos, colegas, trabalhadores que precisamos seguir com a vida como se não houvera esportes.
O meu irmão, o meu vizinho não pode ser meu inimigo por conta de não torcer pelo meu time. Independente de qualquer circunstância ele continuará a ser meu irmão, meu vizinho. Não podemos nos pautar na hipótese não civilizada de que o torcedor do time adversário não deva ter direitos. Ele tem, como nós também temos.
Precisamos nos reeducar, mostrar a este país que não somos povo de submundo. Lembro-me dos velhos tempos da antiga Fonte Nova, tempos onde ainda não existia o Barradão, onde íamos assistir a um BA-VI, e tínhamos uma parte do hoje lado sul, onde se concentrava a torcida do Bahia, e outra no lado norte que ficava a torcida do Vitória, o resto do estádio, aproximadamente 60 ou 70% pertencia a torcida mista, onde vivíamos em harmonia.
Um gol acontecia e a parte da mista comemorava e outra ficava na tristeza, as brincadeiras eram frequentes, mas não passavam de brincadeiras, ao final da partida, saíamos juntos uns eufóricos outros lamentando uma bola na trave, um chute pra fora, mas havia respeito pelo outro, independente de ser Bahia ou Vitória, era o meu amigo que estava ao meu lado, ser tricolor ou rubro-negro era secundário.
Temos que lembrar que o seu time não te conhece, não participa da sua vida, das suas alegrias, das suas tristezas, mas o seu amigo não tem cor, não tem time, não tem sexo, não tem partido. Ele é simplesmente o seu amigo.
Juscelino Santiago dos Santos, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.