Torcedores do Bahia nascidos a partir de meados dos anos sessenta, só sabem ou só têm uma ideia de que, por pouco, o Esquadrão de Aço não construiu o seu estádio de futebol na década de 1970, se seus pais ou parentes mais velhos os tenha informado, haja vista que, provavelmente, nem nos anais do Google consta algum registro pertinente a esse assunto. Estávamos em 1970 – o atual presidente do Bahia ainda não estava nem no anteprojeto de vir ao mundo -, em pleno auge do regime dos governos discricionários, em decorrência do golpe militar de 1964, mas, apesar dos pesares, o futebol brasileiro nos presenteava com à conquista definitiva da Taça Jules Rimet, que representou para o Brasil, o título do tri-campeonato mundial de futebol, com a Seleção Brasileira repleta de super craques (Clodoaldo, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé & Cia. Ilimitada), jogando o supra-sumo do futebol, empolgando e contagiando todo o povo brasileiro, embalado pela trilha sonora, “Pra Frente Brasil.
Na época, o campo de treinamento do Esquadrão chamava-se Fazendinha, localizada na Pituba e o presidente do Clube era o Sr. Alfredo Saad, um empresário bem-sucedido, que além de possuir grande fortuna, se relacionava muito bem com ilustres figuras do futebol nacional, tendo amigos como o Sr. Edson Arantes do Nascimento, conhecido como o Rei Pelé, o saudoso radialista França Teixeira, João Havelange, o então presidente da Confederação Brasileira de Desportos-CBD, entidade que antecedeu à CBF. O fato é que, o Sr. Alfredo Saad, comprou um grande terreno nas proximidades da atual Estação Rodoviária, que começava a ser construída, em cujo terreno, foi colocada a seguinte placa, com letras garrafais: “Aqui será construído o futuro estádio do Esporte Clube Bahia”. Essa placa, ficou fincada no local por alguns meses, a promessa não foi cumprida e a área acabou sendo adquirida por um grande grupo empresarial que ergueu no local, o maior Shopping Center da Bahia.
Enquanto isso, o mandato desse presidente que iludiu o torcedor tricolor com tal promessa se encerrara em 1971, com o Clube permanecendo treinando na Fazendinha até 1979, quando o então Banco do Estado da Bahia S/A-Baneb, adquiriu à área para construção da sua sede recreativa, dinheiro que foi aplicado na compra do terreno do Fazendão em Itinga onde, graças à grana proveniente da venda de alguns atletas e a obstinação do “ex-eterno presidente” Paulo Maracajá, foram construídos Campos de treinamentos, instalações para alojamento, refeitório, concentração de atletas, prédios administrativos, enfim, toda uma estrutura administrativa e operacional para uma agremiação do porte do Bahia, equipamento que o clube utilizou durante quarenta anos.
E por falar em Paulo Maracajá, imagino que o grande equívoco durante os seus quinze anos de mandato, foi no período pós conquista do título do Bi-Campeonato Brasileiro pelo Esquadrão de Aço. Entendo que, na época, faltou ao mandatário tricolor lançar uma forte campanha associativa conscientizando o seu torcedor ao se associar ao Clube, além de lançamento de vários produtos da marca Bahia no sentido de explorar, ao máximo, a conquista de um grandioso título por um clube do Nordeste, incutindo e insinuando ao seu torcedor abraçar e aderir, em massa, aos apelos da sua diretoria na captação de recursos financeiros. Se isso tivesse sido feito, não tenho a menor dúvida de que o Clube não teria sofrido a crise técnica e financeira que sofreu no período de 2003 a 2013, estando hoje, com uma estrutura mais estável e consolidada.
No meu modesto entendimento, ainda que se fale muito mal da administração que antecedeu à intervenção judicial no Esquadrão, a verdade é que ela deixou um grande legado para o Clube que foi a “Cidade Tricolor”, a qual, foi dada como pronta pelo seu idealizador, devido à inesperada intervenção, além de demandas jurídicas e/ou judiciais sofridas pela construtora executora da obra, imbróglio que fez com que, o empreendimento ficasse sem ser utilizado por muitos anos, se deteriorando, obrigando que à atual gestão da instituição aplicasse vultosos recursos financeiros para recuperação física do empreendimento, colocando-o entre os melhores centros de treinamentos do País.
Assim sendo, se nos anos setenta o então presidente Alfredo Saad blefou diante da grande Nação Tricolor prometendo que construiria o Estádio do Esporte Clube Bahia e não honrou à palavra e, como diante da atual conjuntura do nosso futebol, no tocante à estádio, acho que a parceria do Esquadrão de Aço com a Arena Fonte Nova e vice-versa, é muito boa e favorável à ambas às partes, tornando desnecessária ao Clube, investir na construção de um estádio, parabenizo ao presidente Guilherme Bellintani e toda sua diretoria pela restauração da Cidade Tricolor que se tornou uma realidade e um relevante patrimônio para a agremiação, colocando o clube em outro patamar, nominando ou renomeando aquele centro de treinamento de excelência como Centro de Treinamento Mestre Evaristo de Macedo, como também, à homenagem prestada ao saudoso cronista e comentarista Armando Oliveira, o qual, atuou e brilhou por mais de três décadas na Crônica Esportiva da Bahia, ao colocar o seu nome na sala de imprensa daquela monumental obra.
José Antônio Reis, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.