E vem aí o Campeonato Baiano 2020, competição que ano após ano perde relevância e vai ter como maiores representantes principais as equipes Sub-23 de Bahia e Vitória duelando contra as bravas equipes do interior que realizam verdadeiros milagres para participar do deficitário campeonato. Em 2020, contará com a participação além dos clubes da capital, Atlético de Alagoinhas, Bahia de Feira, Doce Mel, Fluminense de Feira, Jacobina, Jacuipense, Juazeirense e Vitória da Conquista. Nesse ano, as cotas recebidas pelos clubes se dividirão assim, cotas de Bahia e Vitória gira em torno de R$ 900 mil os demais participantes aproximadamente R$ 100 mil. A fórmula de disputa é a mesma adotada em 2019 com sistema de pontos corridos na fase classificatória, em turno único e os quatro primeiros colocados seguirão para a segunda fase. O lanterna dessa fase será rebaixado, com as semifinais disputadas em jogos de ida e volta, e os mandos de campo serão dos times com melhor campanha na segunda partida.
O primeiro colocado da fase classificatória enfrenta o quarto. Na outra partida, o segundo duela com o terceiro trivial. Afinal, será em dois jogos e o jogo final será na casa do clube de melhor campanha. O que se pode ganhar com o Baianão: vagas na Copa do Brasil, Copa do Nordeste, acesso a Série D do Brasileiro, garantindo às equipes, em especial um calendário completo para o ano, que não ocorre para a maioria delas.
Passados os dados informativos, o interesse dessa matéria é mostrar como está distante o campeonato regional dos tempos dourados, onde equipes do interior e equipes menores da capital revelavam jogadores e proporcionava, ao menos um mínimo de interesse no certame. Ainda que houvesse uma normal supremacia de times com maior investimento, no caso dos grandes da capital, nos últimos 20 anos apenas o Colo Colo de Ilhéus e o Bahia de feira conseguiram o título estadual, em 2006 e 2011, respectivamente. O uso do Sub-23 é uma mostra como o Baianão não é referência técnica, hoje apenas serve de teste, experiência, ainda que eu mesmo aguardo que, em caso de insucesso das equipes da capital, haja uma repercussão negativa, afinal, torcedor é torcedor.
O que quero mostrar aqui também é a distância da Federação, cuja participação é meramente arrecadatória e sazonal, visto que faz parte de uma gama viciada e gerida por gestões oriundas da corrupção de Ricardo Teixeira e seus aliados e que possui estrutura inquisitória, onde a reeleição é ilimitada e os clubes são meros acessórios, já que o voto de qualquer federação vale mais que o dos clubes. A federação é ativa politicamente quanto aos seus interesses, mas durante o ano, não faz inspeções nos estádios dos times que compõe o Baiano A e B, não procuram vender o campeonato da maneira correta, não tem um plano de marketing atraente para os consumidores do futebol, muito menos, parcerias frutuosas com as transmissoras do seu maior produto. No interior, não sacramenta parcerias sólidas com as prefeituras para investir nos estádios, somente há 2 meses do começo do Baianão e a segunda divisão é praticamente um campeonato amador e nem buscam saber como andam as instalações, mostrando-se superado, muitas vezes pelo Campeonato Intermunicipal em público e repercussão.
Eu não posso deixar de mostrar o abismo entre o principal campeonato estadual do país, tanto na sua venda, ainda que os clubes do eixo sul sudeste tenham sejam os principais do país. No Campeonato Paulista, por exemplo, os 4 grandes recebem R$ 26 milhões, os demais participantes R$ 6 milhões, além disso, a premiação para o campeão é 5 milhões de reais, o vice embolsa 1,5 milhão e mais 11,5 milhões distribuídos em premiações. Isso acontece porque é vendido ao Brasil inteiro, resultado da “colonização” feita pelos interiores do Brasil que torna baixa a aceitação dos campeonatos regionais de outras praças. Ou seja, os interiores pagam o “pay per view” para os clubes de outros estados e simplesmente ignoram a tv aberta quando mostram campeonatos regionais, gerando inclusive uma certa revolta. Observa-se que nos interiores se chateiam por não está sendo veiculado o jogo dos clubes Sul/Sudeste.
O vitimismo não é minha linha, mas a esperança de que esse cenário irá melhorar muito menos. A FBF está deitada em berço esplêndido, não é nada transparente nas suas negociações, nada sabemos dos confins dessa entidade, que é tão arcaica no sentido de promover o futebol da Bahia como um todo e tão antagônica na gestão dos seus escusos interesses, federação que completou 105 anos e não atua no vermelho. O Campeonato Baiano tende ao fracasso de público porque é mal vendido, pois pouco se espera do nível técnico dos atletas que dele participa, financeiramente deficitário há muitos anos e sem perspectiva de algo novo não só em 2020, muito menos nos anos que virão.
Estamos distantes dos grande confrontos que encantavam, que fez grandes nomes ficarem evidentes e criaram ídolos, por vezes daquele momento, como Raudinei do histórico gol de 94 no Bahia e Índio com as flechadas no vitória numa história mais recente, mas como nomes mais lendários, num outro contexto mais romântico, onde o Estadual era notícia e fazia a cidade parar, pelo Vitoria: Detinho, Rodrigo, Romenil, Nelinho ou Tinho; França, Bigu, Ramon Menezes, Petkovic, Ricky, André Catimba e Mário Sérgio, seleção escolhida por jornalistas especialistas sobre o clube em 2019. Pelo lado do Bahia: Nadinho, Leone, Sapatão, Roberto Rebouças, Henrique e Romero; Baiaco e Mário; Marito, Beijoca, Douglas e Jésum, Rodolfo Rodriguez, Juvenal Amarijo e Serginho; Paulo Rodrigues, Luiz Henrique e Bobô; Osni, San Fillipo e Charles. (tem muitos mais não citados).
A história feita com glamour e relevância dificilmente se repetirá e agora é esperar o que vai ser o Campeonato Baiano 2020 e o que realmente poderá ser aproveitado dele, enquanto existir essa ausência de profissionalismo navegaremos no limbo, com um campeonato sem premiação para o campeão e sem prêmios para a torcida, afinal, queremos um produto de qualidade em campo sempre, mas definitivamente é esperar que algum diferenciado surja no campeonato e que dê frutos as suas respectivas equipes.
Diego Campos, torcedor do Bahia e colaborador do Futebol Bahiano.