“É preciso entender que eu não fui para o Bahia roubar”, diz Paulo Carneiro

Candidato no Vitória, PC diz que se arrepende de ter ido para o Bahia

Dando sequência as entrevistas dos candidatos que vão concorrer as eleições do Esporte Clube Vitória na próxima quarta-feira (24), o Jornal A Tarde através do jornalista Rafael Teles conversou nesta sexta-feira com Paulo Carneiro, candidato visto e dito como provável vencedor do pleito com uma expressiva margem de votos. Polêmico como sempre, destemido e sem meias palavras, aliás, uma característica marcante do dirigente, já avisou que jogará a Série B na Arena Fonte Nova e já adiantou que as meninas do futebol feminino terão que encontrar outro lugar para treinar, já que, para ele, “o Barradão é lugar do futebol masculino”.

“A CBF obriga [os clubes a terem equipe feminina]. Ele está misturado com o futebol profissional do Vitória, e isso não vai acontecer. Podem se preparar as meninas para arranjar onde treinar, lá não vai acontecer. Na fisioterapia, na maca que tem uma mulher, tem um homem. Me chamem de tudo, mas lá não vai acontecer. Ali é lugar do futebol masculino. Isso é uma das primeiras providências que eu vou tomar. Vou ver se treinam na sede náutica, lá na Ribeira.”

Paulo Carneiro também falou sobre sua passagem pelo Esporte Clube Bahia que muitos veem como traição, porém, ele frisa que não foi para o clube roubar e sim porque achou que era conveniente. “É preciso entender que eu não fui para o Bahia roubar, eu fiz um contrato e servi ao Bahia enquanto achei que era conveniente, depois eu pedi para sair. As pessoas ficam com aquele sentimento de traição, e eu me arrependo por isso.”

Veja a entrevista completa abaixo:

 

Qual sua motivação para voltar a ser presidente, e o que Paulo Carneiro tem de diferente daquele de 2005?

Não mudei muita coisa. Estou mais experiente, ouço mais, falo menos. Mas o perfil é o mesmo, mesma agressividade, mesma vontade de inovar, mesmo sentimento de empreendedorismo que tem que mover o clube. Voltei pelo amor que tenho ao Vitória. Minha motivação maior é tentar devolver ao Vitória a capacidade de sonhar.

Por que o sócio deve votar em você? Qual o seu diferencial?

Currículo. Se o torcedor errou nas escolhas de pessoas sem experiência, ele agora tem uma pessoa ultra-experiente que, com certeza, vai errar menos. O Vitória tem dois anos que só erra.

Até que ponto sua passagem pelo Bahia prejudicou sua imagem com o torcedor?

É preciso entender que eu não fui para o Bahia roubar, eu fiz um contrato e servi ao Bahia enquanto achei que era conveniente, depois eu pedi para sair. As pessoas ficam com aquele sentimento de traição, e eu me arrependo por isso.

Qual a sua principal proposta para o clube?

A prioridade número um será o sócio. Nada será feito sem pensarmos nele. Vamos lotar aquele estádio de sócios. No dia que isso acontecer, o Vitória estará entre os maiores do Brasil. A base também será carro-chefe. Temos que retomar a fórmula de sucesso que já tivemos. Um clube como o nosso, com dificuldade financeira, precisa ter pelo menos 2/3 de atletas da base no elenco principal.

Como você avalia a situação financeira do clube, e como recuperar isso?

Esse é um problema que o Vitória precisava ter se preocupado antes de cair. Se o presidente não fosse tão incompetente, ele deveria ir à CBF para descobrir o que iria acontecer com o time. O time foi pego de surpresa, não deveria. O time não pode sair de R$ 50 milhões para R$ 7 milhões. (…) Sempre temos projetos, mas agora o foco é subir.

O clube não divulga balanços patrimoniais do Vitória S.A. desde 2012. Também não divulgou o balanço contábil de 2017. Como você pretende lidar com o problema da falta de transparência?

Desleixo. Não é transparência. Ricardo não é ladrão, ele não está fazendo isso de propósito, é falta de competência mesmo.

O Vitória S.A. surgiu sob seu comando, nos anos 1990. É algo que você se arrepende?

Se existe uma unidade que pode representar a solução para o futuro do Vitória, ela se chama Vitória S.A. Vamos regularizar toda a vida do Vitória S.A. e cuidar daquilo, reestruturar e deixar pronto para ser usado a qualquer momento. Quando você cria uma S.A., está sujeito a leis federais, com sócios, tem que prestar contas. O Vitória fez S.A. porque como instituição sem fins lucrativos eu não conseguia atrair investidor. Ninguém quer colocar dinheiro onde não pode tirar. Eu não posso me arrepender de um negócio que regula o futebol mundial.

Existe algum projeto específico para o Barradão?

Comecei esse projeto de arena em 2000. Eu não consigo enxergar um clube grande sem ter uma arena. Existe um projeto, mas eu não posso comentar. Não é para agora, é impossível, mas já temos a ideia de como fazer, não posso falar muito.

E a Arena Fonte Nova?

A Fonte Nova é nosso estádio, nós precisamos ter uma reunião rápida com a direção do consórcio, porque uma de nossas propostas é justamente garantir nossos direitos sobre a Fonte Nova. Não sei se na primeira rodada, pela situação de proximidade, mas se depender do que eu estou imaginando, eu pretendo jogar na Fonte Nova o Campeonato Brasileiro da Série B todo. Neste momento a geração de caixa é prioridade.

Quais suas propostas para os esportes olímpicos?

Eu era contra esporte olímpico no Vitória, nisso eu evoluí. Quanto ao basquete, eu tenho a ideia de não mexer muito nisso agora. O Vitória precisa ter o foco no futebol. Penso em pegar o ginásio para mim, reformar, migrar esse amor do futebol para o basquete, mas a turma estragou tudo e deixou escapar. Espero que a gente possa recuperar o Vitória para poder também ajudar o basquete.

E o futebol feminino?

A CBF obriga [os clubes a terem equipe feminina]. Ele está misturado com o futebol profissional do Vitória, e isso não vai acontecer. Podem se preparar as meninas para arranjar onde treinar, lá não vai acontecer. Na fisioterapia, na maca que tem uma mulher, tem um homem. Me chamem de tudo, mas lá não vai acontecer. Ali é lugar do futebol masculino. Isso é uma das primeiras providências que eu vou tomar. Vou ver se treinam na sede náutica, lá na Ribeira.

A estreia na Série B acontece três dias após a eleição. O que precisa ser mudado de imediato?

Não tem o que fazer até a estreia, a não ser passar confiança para o grupo. Mas que vamos com outro espírito, nós vamos. A atitude vai mudar, sem dúvida vai mudar.

Qual sua avaliação da comissão técnica? Pretende manter Cláudio Tencati?

Não tenho avaliação nenhuma. Não vou mudar, não pretendo bagunçar o que já está bagunçado, mas arrumar.

Já existe alguma conversa para chegada de reforços?

Já temos conversas. Hoje de manhã mesmo eu estava atrás de um meia-atacante e um goleiro. Só não posso falar quem são.

Nas eleições democráticas, os presidentes não conseguiram bons trabalhos. Esse é o melhor caminho para o Vitória?

Será que eleição direta é democracia? Será que esse é o caminho? Eu não sou contra, estou deixando a dúvida. O que para mim é muito claro é o seguinte: a continuidade é importante. Eu acho que quando você troca a cada três anos, o risco aumenta.

A chapa de Walter Seijo faz parte de uma estratégia de sua campanha?

Eu acho que você devia perguntar a ele, que é o candidato. Ele não quis falar? Não sei porque ele está assim, mas não posso falar por ele. É meu amigo, não posso negar, foi um dos grandes construtores da minha época no Vitória. Está preparadíssimo para assumir, tão ou mais do que eu. Espero que ele possa ter sucesso. Ele diz também que, se for presidente, quer me contratar.

Você disputa o pleito amparado por uma liminar. Pode explicar o motivo ao torcedor?

Eu fui presidente do clube três vezes, virei conselheiro nato. Ninguém pode ser conselheiro sem ser sócio, então durante todo esse tempo eu fui sócio. Houve uma manobra política. Aí, tive que ir para a Justiça fazer valer meu direito, mas não tenho que falar publicamente de minhas estratégias.

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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