O Esporte Clube Vitória sinalizou agora de forma clara o seu desejo de na temporada 2019 atuar na Arena Fonte Nova, Estádio do Governo do Estado que tem o Esporte Clube Bahia como único utilizador regular desde a reconstrução e modernização do antigo Octávio Mangabeira na gestão do hoje senador Jaques Wagner.
A intenção do Leão de certa forma surpreende já que sempre houve uma recusa expressa dos antigos dirigentes, além da não aprovação de significativa parcela da torcida rubro-negra.
O tema é antigo e por aqui muito dos amigos já colaboram expressando seus pontos de vistas acerca do assunto, uns favoráveis, outros nem tanto. Portanto, aproveitando o recesso do futebol dentro de campo neste final de ano, decidimos recuperar alguns desses artigos deste e de outros temas. Começamos neste domingo com a opinião de Alex Ribeiro que abrilhantou este espaço no já distante ano de 2012.
Veja abaixo o texto:
Inicialmente, gostaria de agradecer o convite para externar algumas questões importantes nesse decisivo processo que determinará o futuro do Esporte Clube Vitória.
Sinto-me confortável para falar sobre o assunto pois, assim como quase todos os Rubro Negros, sou apaixonado pelo Barradão, onde considero minha segunda casa. Enfrento todos os obstáculos (e enfrentaria muito mais, se mais houvesse) para chegar no estádio religiosamente em todas as partidas disputadas em Salvador. E reputo a existência do Barradão como um dos maiores fatores para a mudança na história do nosso Clube.
E, justamente por tudo isso, tenho certeza que se a decisão depender do emocional, da importância que damos ao estádio, será pura perda de tempo qualquer debate, pois a permanência vai ser vontade quase unânime. Da mesma forma, se a decisão for influenciada apenas pelos 8 mil Rubro Negros que comparecem a praticamente todos os jogos e estão acostumados as dificuldades de acesso, manter essa rotina não vai ser nenhum problema e o desejo da permanência será da maioria disparada.
Mas será que dessa forma estaremos tomando a melhor decisão para o Clube? Será que os 8 mil guerreiros representam todos os anseios dos cerca de 2 milhões de Rubro Negros Baianos? Seria, no mínimo, um egoísmo coletivo!
Portanto, nosso primeiro grande e importante desafio é nos despirmos das questões emocionais e tentarmos, através de analises minuciosas, projetando expectativas e utilizando parâmetros reais, identificar se:
– O Vitória poderá ter na Nova Fonte o desempenho em campo igual ou superior ao do Barradão?
– A torcida do Vitória poderá aumentar, principalmente em presença no estádio, com o conforto e acessibilidade da Nova Fonte?
– O Clube vai aumentar suas receitas, sejam as diretas (da bilheteria em função do aumento da torcida), e as indiretas (maior venda de material, melhores contratos de publicidade, etc) indo para a nova arena?
Pelo que se acompanha na imprensa, a proposta para o Vitória jogar na nova arena ainda não foi enviada e, portanto, não existem parâmetros seguros para que cheguemos em números comparáveis. E qualquer posição nesse momento será desprovida de coerência e dados abalizados.
Dizer que o Vitória deve continuar no Barradão porque foi muito sofrida sua conquista, e que passamos por muitos desafios e dificuldades para chegar até aqui, é ter um orgulho inconsequente. Será que se conseguirmos uma condição que garanta receitas maiores, que tragam benefícios aos torcedores através de conforto, e que permita um crescimento efetivo da torcida no estádio, a opção melhor vai ser permanecer no Barradão porque já sofremos muito? Vamos ter que nos contentar com um publico inferior a capacidade do Clube, e que sofre cada vez mais com o acesso, só porque já sofremos muito até agora? (pequena observação: A verdadeira emoção no futebol se vive no estádio. É lá que criamos o torcedor, é lá que aprendemos a amar nosso clube, e é de lá que saem os multiplicadores dessa paixão).
Imaginar que é mais fácil melhorar o acesso e a estrutura do Barradão do que ceder à nova arena, é criar uma falsa expectativa que já carregamos a pelo menos uma década e que, no fundo, sabemos que é quase impossível. O poder público não vai fazer via expressa nenhuma pelas bandas do Barradão!
A acessibilidade, por mais que tenhamos a boa vontade dos órgãos envolvidos (e nem sempre temos), tende a piorar cada vez mais com o crescimento do bairro, que não deixa de ter o Vitória como grande responsável social.
O Clube, que vem cada vez mais promovendo melhorias no estádio, não terá capacidade financeira a médio prazo para promover as mudanças estruturais que o torcedor Rubro Negro merece (cobertura, fechamento da outra lateral com arquibancada ou camarotes, instalações melhores, etc), ainda mais com a realidade do nosso futebol, onde os concorrentes recebem pelo menos 4 vezes mais e a diferença só faz aumentar…
Mas sem saber o que estamos discutindo, sem ter uma proposta real para analisarmos, dificilmente chegaremos a um debate produtivo, e os caminhos para as especulações ficam livres.
Tem gente que fala com absoluta convicção de que o valor do ingresso será proibitivo. Mas como assim? Temos que lembrar que a administração será privada, orientada por especialistas na área, e que tem como objetivo o lucro (assim como todas as empresas privadas). E como em qualquer setor, quem vai definir o preço será o mercado. Se por ventura o torcedor achar o estádio muito bom e sempre colocar mais de 40 mil pessoas a um custo de 50 reais, certamente a empresa tão logo vai passar o ingresso para 70 reais. Da mesma forma que se o custo for 30 reais, mas a média de público não passar de 8 mil, não tenho dúvidas que pouco tempo depois ele custará 20 reais. Ingresso caro é o ingresso que não tem público para pagar, podendo ser 10, 30, 50 ou 100 reais.
Da mesma forma, muita gente acredita que o custo do aluguel vai ser proibitivo, que vai ser muito caro, e dessa despesa no Barradão não temos. Mas poucas pessoas sabem que a CBF, através do RGC (Regulamento Geral das Competições), limita o valor do aluguel em cerca de 13% da renda bruta da partida. Não vejo motivos para que esse regulamento mude, e não vejo meios para que o administrador cobre mais do que isso (hoje os estádios cobram, em geral, entre 8 e 12% das receita bruta de bilheteria).
Outra coisa importante que temos que ter em mente é a desvinculação emocional com a velha fonte. Aquele estádio que trouxe alguns dissabores para o clube, principalmente por meios questionáveis, acabou! Sumiu! Foi literalmente implodido, e junto com essa implosão foi tudo de ruim que o futebol baiano já viveu!
Essa nova arena é um novo estádio e pode representar um novo ciclo para o Vitória, tão bom e até melhor do que o Barradão! E por que não?? E nada melhor do que exigir que nos jogos do Vitória a arena se chame NOVO BARRADÃO! Um novo ciclo onde poderemos manter a hegemonia local, estender para a região, e enfrentar novos desafios nacionais e internacionais. Um novo ciclo onde poderemos ver a torcida literalmente do lado do clube, crescendo e se consolidando como apaixonada e incentivadora! E tudo isso com crescimento também nas finanças.
A nova safra dos estádios brasileiros vai significar uma nova fase para o esporte no Brasil, e certamente veremos um crescimento substancial para os envolvidos, com provável duplicação do público em um horizonte de 5 a 10 anos.
Tenho certeza que podemos colocar em média entre 20 e 25 mil pessoas no estádio, e nas temporadas muito boas chegarmos a mais de 30 mil torcedores por jogo, realidade impossível, infelizmente, nas condições atuais do Barradão. Mas todo esse debate, todas essas opiniões, todas essas expectativas, só poderão ser verdadeiramente avaliadas quando houver uma proposta real.
Uma proposta que possa esclarecer, entre outros fatos: Qual o valor do aluguel? Qual o valor do quadro móvel do estádio? Qual será a participação do Vitória nas outras receitas (estacionamento, bares e restaurantes, venda de camarotes, publicidade, etc)? Como será a política de ingresso para sócios? É possível registrar a nova arena como NOVO BARRADÃO nos jogos do Vitória? Qual o prazo do contrato? O Vitória terá a liberdade de jogar no Barradão quando desejar?
Respondidas essas questões, aí sim teremos ferramentas suficientes para definir o que é o melhor para o Clube. Antes disso, antecipar decisões e apoio considero precipitação desnecessária e temerosa.
Volto a repetir que sou extremamente apaixonado pelo Barradão, mas amo mais o Esporte Clube Vitória, e o que for efetivamente melhor para ele eu apoiarei!!
Saudações Rubro Negras,