Vitória é responsável por 59 dos 89 milhões de déficit dos clubes do Nordeste

Por lei os clubes de futebol brasileiros tiveram até o ultimo dia 29 para apresentar seus balanços financeiros, não afirmo, mas acredito que o Fluminense do Rio de Janeiro o fez com atraso. A obrigatoriedade está prevista em duas leis. A primeira é a Lei Pelé, de 1998, que estabelece, em seu artigo 46, que os clubes são obrigados a divulgarem os resultados financeiros para permitir o acesso a recursos e patrocínios estatais. Outra lei que regulamenta o tema integra o Estatuto do Torcedor, que estabelece “mecanismos de transparência financeira da entidade, inclusive com disposições relativas à realização de auditorias independentes”.

O Esporte Clube Bahia bem antes do prazo publicou seus balanços, o Esporte Clube Vitória bem perto do limite. Depois de divulgados, o jornalista Amapaense  Cassio Zirpoli, porém que milita o jornalismo de Pernambuco, se debruçou e jogou uma luz clara sob os números dos principais clubes do Nordeste, notadamente para os setes clubes de maior expressão da nossa região: Ceará e Fortaleza; Sport, Náutico e Santa Cruz; Bahia e Vitória.

No raio X pode ser lido que o Esporte Clube Bahia é o que apresentou o balanço mais transparente e que o Esporte Clube Vitória é o responsável por R$ 59 mi do déficit acumulado de R$ 89,4 milhões de toda a região, e entre eles, apenas o Ceará recentemente promovido para primeira divisão não registrou prejuízo. Além disso, aponta que o Náutico deve a 15 ex-dirigentes e a 51 jogadores que movem ações trabalhistas. Outra constatação é a disparidade em relação ao Flamengo, apenas um exemplo, o time carioca supera em faturamento todos os grandes do Nordeste mesmo quando somados e juntos.

Bom, o artigo segue abaixo e aqui no meio, fica os parabéns ao jornalista Cassio Zirpoli,



Os sete maiores clubes do Nordeste, concentrados nas cidades de Salvador, Recife e Fortaleza, arrecadaram R$ 393.063.964 em 2017. Num primeiro olhar o valor pode até impressionar, mas na verdade o faturamento caiu bastante de 2016 para 2017. De forma precisa, R$ 83.776.808 a menos no caixa, o que corresponde a uma redução de 17,5%. A explicação se deve às luvas contratuais recebidas há dois anos por Bahia, Sport e Vitória, os ‘cotistas da TV’ na região. Assim, os adicionais turbinaram os relatórios anteriores. Sem esse aporte, o cenário atual é mais próximo do ‘normal’, considerando o crescimento paulatino.

Essa queda também expõe a distância para outros centros. Como comparação, o clube de maior torcida do país, o Flamengo, que teve o maior faturamento de sua história em 2017, chegando a R$ 649 mi – ou seja, a soma de Bahia, Ceará, Fortaleza, Náutico, Santa, Sport e Vitória representa 60% do clube carioca. Haja distância. Para completar, as despesas são quase sempre maiores.

Não por acaso, o déficit acumulado foi de R$ 89,4 milhões, com incríveis 59 mi apenas com o Vitória. No caso baiano, a explicação deve-se ao processo de reconhecimento de dívidas antigas, num ajuste contábil necessário para Profut e certidões negativas (= patrocínio da Caixa). No Recife, Náutico (44 mi) e Sport (98 mi) passaram pelo mesmo nos últimos anos. Ah, sobre o déficit vale uma justa ressalva: o vozão foi o único a registrar superávit.

Eis a participação nas receitas dentro de cada cenário local, com equilíbrio nas cidades com cotistas (Salvador) e não cotistas (Fortaleza) e disparidade na única cidade com três clubes (um cotista).

Apesar do exemplo do Fla, a disparidade econômico já é interna também. Bahia e Sport são os únicos com faturamento acima de R$ 100 mi/ano – há dois anos, diga-se. Depois vem o Vitória, terceiro e o último a virar a ‘cotista da tv’, em 1999. Este trio representa 2/3 do faturamento do G7. Já vem sendo assim há tempos, com 73% em 2015, 77% em 2016 e 76% em 2017.

Sobre os balanços oficiais divulgados, há algo a ser comemorado: mais transparência – no último ano o Bahia foi o único a apresentar um relatório mais detalhado, enquanto o Sport, o mais recluso, divulgou um balanço com dados aglutinados. Como exemplo em 2017, as pendências (confirmadas e em discussão). O Náutico deve a 15 ex-dirigentes, a 4 clubes (incluindo R$ 12 mil a um rival, o Santa) e a 51 jogadores. O Fortaleza também listou os atletas com débitos trabalhistas, assim como o seu percentual sobre os direitos econômicos de 22 jogadores – 100% de Marcelo Boeck, por exemplo. O Vitória fez o mesmo, tendo o triplo, 66 – 100% de Cleiton Xavier, pouco utilizado, e 100% do goleiro Caíque.

Já o Ceará enumerou as receitas competição por competição, com as rendas do Estadual (847 mil), Copa Fares Lopes (80 mil), Primeira Liga (410 mil) e Série B (6,7 milhões), além das cotas de televisão no Estadual (513 mil), Nordestão (315 mil), Copa do Brasil (250 mil) e Série B (6,2 milhões). Que o detalhamento siga assim, pois esta uniformidade nas informações possibilitou o rankeamento de cenários como renda de campeonato (bilheteria e premiações), cota de tevê (soma das competições na coluna), patrocínio e receita com sócios adimplentes.

Na televisão, o Bahia aparece disparado à frente, com 10,8 milhões de reais mais que o Sport, o segundo colocado – em termos percentuais, tem 20% a mais. Por sinal, esta primeira coluna é didática para quem ainda tem dúvida sobre a expressão ‘cotista da TV’, com os três primeiros colocados muito à frente, num cenário cuja disparidade não se repete neste porte nos comparativos seguintes. O primeiro time sem essa benesse, o Ceará, aparece com boa vantagem sobre os demais devido ao recebimento das luvas de participação na elite nacional em 2018, num aporte de 5,4 milhões com a Rede Globo, imediato ao acesso.

Mensalidade de sócios
Em relação à receita oriunda dos sócios, é a vez do Sport disparar, com 6,3 milhões a mais que ou Bahia (ou 97% a mais). Consequência do quadro com 28 mil titulares adimplentes, o maior da região. Aqui, surpreendeu negativamente o dado do vozão, com 1/3 do rival Fortaleza. Já no cenário pernambucano, o Náutico ultrapassou o Santa e escancarou a queda nas mensalidades no Arruda – cuja torcida, segundo as pesquisas, é muito maior que a do timbu.

Renda de campeonatos
Seguindo a análise para a coluna sobre ‘renda’, o rubro-negro pernambucano, novamente na liderança, se aproveitou do desempenho nos torneios de mata-mata, recebendo várias cotas de participação (vice no Nordestão, 5ª fase da Copa do Brasil e quartas da Sul-Americana). Enquanto isso, a terceira posição do Náutico sinaliza um ponto fora da curva – afinal, o ano futebolístico do clube foi péssimo, resultando no rebaixamento à Série C. Ocorre que, pelo balanço alvirrubro, entrou um aporte de 9,6 milhões referente à presença na Arena Pernambuco – logo, considerei o valor para a coluna de ‘renda’.

Patrocinadores
Encerrando com o ranking de patrocínios, vemos uma disputa acirrada entre Bahia e Sport, com o tricolor da Boa Terra tendo uma vantagem de 239 mil – portanto, nas quatro colunas, empate em 2 x 2. O último lugar do Fortaleza em termos de patrocínio é proporcional à posição na cota de tevê, uma vez que o time foi o único, em 2017, a disputar a terceira divisão, com visibilidade muito menor (não tem sequer pay-per-view, por exemplo).

Abaixo, os dados do G7, considerando receita e passivo – a soma dos passivos circulante e não circulante, com dívidas de curto e longo prazo, entre outros débitos e financiamentos. O gráfico vai 2014 a 2017, com dados divulgados pelos próprios clubes. lembrando que a divulgação pública desses balanços, com pareceres de auditores independentes, está prevista no artigo 46-A da Lei 9.615, de 24 de março de 1998. Mais conhecida como Lei Pelé. O primeiro a divulgar a demonstração contábil nesta temporada foi o Bahia, em 12 de março, enquanto o último foi o Náutico, às 20h50 de 30 de abril, no fim do prazo – os documentos estão presentes nos sites oficias dos clubes e/ou das federações estaduais.

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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