Jornalista acredita que chances de Talisca na Copa do Mundo são pequenas!

O técnico Tite anunciou na última segunda-feira, a lista dos 25 jogadores convocados para os amistosos contra a Rússia e a Alemanha, nos dias 23 e 27, respectivamente. E quem apostava em certa previsibilidade se surpreendeu com ao menos dois nomes: Anderson Talisca, meio-campista relevado pelo Bahia e hoje atuando pelo Besiktas. Outra surpresa foi o atacante Willian José do Real Sociedad. Os dois jogos serão os últimos testes da seleção brasileira antes da divulgação da lista final dos jogadores convocados.

“Talisca tem finalização de média distância, bola aérea, imposição física que pode emprestar virtude contra defesas com linha de cinco ou quatro” justificou o treinador para a convocação do baiano de Feira de Santana.

E ai? Quais são as chances do nome de Anderson Talisca cravado entre aqueles vão para a Copa do Mundo? Particularmente ainda que torça para que tal possibilidade se efetive, acho que as chances são reduzidas, beirando ao quase nada. No entanto, o futebol dos últimos tempos se transformou em um tema para especialistas pelo alto teor de complexidades que recebeu nos tempos chamados de modernos.

No último jogo, por exemplo, do Bahia pela Copa do Nordeste, o técnico Guto Ferreira do Bahia questionado em entrevista ao Canal Esporte Interativo  acerca da baixa performance do goleiro Jean ex-Bahia, hoje no São Paulo, foi claro em dizer, que um goleiro só entra no seu melhor estágio ao completar 28, 29 anos de idade, e Jean, só ter apenas 22 anos, logo, as falhas precisam ser entendidas como natural. Algo que confesso ser impossível aceitar e aperceber porque parece piada.

Portanto, incapaz de entender as mudanças do futebol, tomo emprestado do jornalista do ATARDE, Daniel Dória, que na sua coluna “Detalhes Tático” da qual sou leitor assíduo tratou com competência e propriedade das chances de Anderson Talisca na Copa do Mundo. Eu acho que não vai. Ele também, porém ele explica por quê.

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O que poderia estar agora passando na cabeça de um menino que cresceu num bairro pobre e perigoso, viu florescer há nove anos a ilusão de virar jogador de futebol profissional, tornou-se de fato um quatro anos depois, ganhou o mundo e, hoje, a três meses da Copa, ganha chance real de jogar o maior torneio do planeta com a camisa da mais vencedora seleção de todos os tempos?

Definitivamente, não me arrisco a adivinhar os sentimentos do menino Doda, que brincou, jogou bola e capoeira na Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana, virou Talisca ao ver escorregarem os meiões por suas canelas finas de adolescente, já nas divisões de base do Bahia, e foi vendido por 4 milhões de euros para repetir as estripulias dos babas em algumas das principais competições da Europa.

O que posso fazer aqui é tentar entender o que Tite pretende com a convocação de Anderson Talisca. O garoto de 24 anos, que parecia fora dos planos, entrou na lista dos importantes amistosos contra Rússia e Alemanha, às vésperas do Mundial. É provável que Talisca esteja entre os 23 da relação final? Neste momento, eu responderia não. Desconfio, infelizmente, que sua presença esteja condicionada a uma tragédia: Neymar não se recuperar a tempo.

Leque de opções

Não que os talentos possam se equiparar ou que a função exercidas pelos dois em campo sejam semelhantes. Muito longe disso. É que, sem Neymar, Tite precisaria de um leque maior de opções solucionadoras de problemas. E se o time estiver preso entre compactadas linhas defensivas europeias? E se faltar profundidade às jogadas? E se nada der certo e for preciso ter alguém que jogue tudo para o alto e tente um gol impossível? Talisca poderia ser a resposta a essas perguntas.

Para ser um atleta ‘top’, o feirense ainda tem de largar de vez a marra e admitir que necessita mudar de comportamento – fora e dentro de campo. Ele ganha inimizade de colegas, arruma rixas, não cumpre à risca funções táticas solicitadas, não mantém a regularidade que se espera. É o que faz um cara com tantos atributos estar jogando emprestado ao Besiktas pelo Benfica. Técnica de chute e passe espetacular, adaptação fácil a várias posições no setor ofensivo, criatividade e auto-confiança elevada. Todas essas notáveis compensações poderão estar à disposição da Amarelinha.

Jogo mais fluido

Além disso, Talisca apresenta-se como uma opção útil de jogo mais fluido entre linhas de defesa e meio-campo dos adversários. Além de Neymar, que constrói com arrancadas e passes agudos a partir dessa brecha, a Seleção conta com Philippe Coutinho, especialista em finalizações de média distância e também em passes infiltrantes ao receber bolas na intermediária ofensiva. Sem Neymar, Talisca torna-se outra alternativa. Com a desvantagem de não ser tão veloz e habilidoso, mas com a virtude de contar com o chute de longa distância e de se transformar, esporadicamente, num armador.

Foi o que vi no segundo tempo do jogo da última quarta-feira, no qual o Besiktas perdeu por 3 a 1 para o Bayern. Talisca começou no banco e entrou no início do segundo tempo. Variou bastante seu posicionamento no gramado. Ora buscou o jogo atrás das duas linhas de marcação bávaras, sempre tentando passes verticais (confira no infográfico as situações 1 e 2), ora se arriscava entre essas linhas (no lance 3, liberou-se da marcação ao se deslocar à ponta esquerda e, na jogada 4, fez até um trabalho de pivô).

Nenhuma de suas iniciativas resultou em real ameaça ao Bayern, mas isso poderia ter acontecido caso contasse com colegas mais qualificados e/ou inspirados. Veremos se esse detalhe fará diferença na próxima sexta, contra a Rússia – se ele entrar em campo, né?

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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