Mario Celso Petraglia: “Enriquecem os agentes e empobrecem os clubes”

Tais agentes atuam de forma parasita sobre os já combalidos cofres dos clubes brasileiros

Através de carta divulgada no site oficial do Atlético-PR, o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mario Celso Petraglia, explica os motivos para o fracasso das negociações para contratar o holandês Seedorf para o cargo de ‘manager’.

O dirigente culpou Bruno Paiva, representante de Seedorf, pela confusão e faz duras criticas aos chamados de “agentes” que segundo ele, atuam de forma parasita sobre os já combalidos cofres dos clubes brasileiros, que, na ânsia de obter bons resultados em campo, acabam cativos, compelidos a aceitar as exigências de valores absurdos de contratos de trabalho e comissões maiores ainda. Enriquecem os agentes e empobrecem os clubes, que são (e devem ser) os únicos e verdadeiros protagonistas do futebol.

Veja o texto de Petraglia, na íntegra:

“O Clube Atlético Paranaense vem a público, em especial perante a sua torcida, apresentar as principais razões que levaram à exclusão da alternativa Seedorf no planejamento técnico do futebol atleticano.

Com a saída de Paulo Autuori, o CAP foi ao mercado buscar um Coordenador e Técnico para a condução do futebol profissional. Várias opções se apresentaram ao Clube e, dentre elas, a oferta dos serviços de Clarence Seedorf, pelo intermediário do Sr. Bruno Paiva, representante da OTB Sports (empresa de gerenciamento de atletas e treinadores).

As tratativas caminhavam e Seedorf conheceu a estrutura e o projeto do CAP para as temporadas de 2018 e 2019, chegando até a definir as condições iniciais de sua contratação por intermédio do Sr. Paiva, com a confecção, inclusive, de minuta contratual. Porém, durante as negociações, o CAP deparou-se com a conduta negativa do referido agente, que passou a exigir uma exorbitante comissão pela intermediação.

Nessa ocasião, o CAP ainda tomou conhecimento de como o Sr. Paiva, também agente e procurador do nosso ex-goleiro Weverton, conduziu a não renovação de seu contrato, além das suas ações de impedir a profissionalização pelo Clube do garoto Marcos Antonio Silva Santos (o “Bahia”), que por conta da formação de excelência recebida, chegou até a Seleção Brasileira Sub-17. Próximo de alcançar os 18 anos de idade (em junho de 2018), Bahia, influenciado por seus agentes, muito provavelmente romperá sua formação desportiva e buscará subterfúgios para burlar a indenização nacional por formação estabelecida na Lei Pelé e fixar vínculo desportivo no mercado estrangeiro, objetivando tão somente pagar custos básicos de formação, (indenização externa) em prejuízo técnico, econômico e financeiro do Clube Formador!

Vale dizer que, além de Weverton e Bahia, Paiva também adquiriu procurações de outros atletas com formação no CAP — caso do lateral Sidcley Ferreira Pereira — possivelmente com o auxílio de um ex-funcionário, o Sr. Pedro Zalla, que atuou no Clube e hoje também pertence ao grupo OTB Sports.

Exige o tema uma nota de reflexão, tanto para o CAP como para todos os clubes do futebol brasileiro, bem como à CBF — que regulamenta a atuação dos intermediários perante seus filiados — sobre a inescrupulosa conduta de certos agentes que, além de explorarem economicamente atletas e treinadores, intervêm negativamente em suas carreiras, direcionando-os para aquilo que melhor atenda a seus interesses financeiros pessoais.

Tais agentes atuam de forma parasita sobre os já combalidos cofres dos clubes brasileiros, que, na ânsia de obter bons resultados em campo, acabam cativos, compelidos a aceitar as exigências de valores absurdos de contratos de trabalho e comissões maiores ainda. Enriquecem os agentes e empobrecem os clubes, que são (e devem ser) os únicos e verdadeiros protagonistas do futebol.

A Lei Pelé, de 1998, originou o fim do “passe” e criou o instrumento para o fim da “escravidão” no futebol. Porém, o que se apresenta hoje é que o “escravo” apenas mudou de “dono”.

A CBF registra em torno de 800 nomes de agentes que atuam no controle dos atletas desde seu início de carreira. Muitos meninos com 12 e 13 anos de idade já possuem agentes, com procurações “compradas” com o dinheiro dos próprios clubes. Atualmente, o mercado do futebol está centralizado em 5 ou 6 grandes grupos de empresários, que ditam as regras de mercado e dominam as relações entre clubes e atletas.

Algo deve ser feito!

Cabe aqui, o protesto formal do Clube Atlético Paranaense contra esse nefasto e prejudicial sistema mercadológico estabelecido pela ganância de quem nada contribui com o futebol — ao contrário, dele apenas se alimenta. Compete aos clubes, seus dirigentes e órgãos reguladores tomarem medidas urgentes a respeito do “Mal” representado por essas intermediações e dar um “Basta!”, para o bem do futuro do futebol.

Mario Celso Petraglia
Presidente do Conselho Deliberativo
Clube Atlético Paranaense”

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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