Técnico do Vitória sugere mudanças nas regras do Futebol

O técnico Vagner Mancini está em plena evidencia por méritos. Com sua chegada somada com outras medidas adotadas pela direção o Esporte Clube Vitória, Leão antes inserido dentro da zona de rebaixamento desde do primeiro momento de competição, se aprumou, pegou um rumo e no próximo Domingo, na hipótese provável e desejada de um triunfo em cima do Fluminense no Barradão, poderá alcançar a inimaginável 12ª colocação de um torneio que era visto como candidato nato ao rebaixamento. Além disso, tem defendido o futebol no Nordeste, atitude que vai lhe render o título de Cidadão Soteropolitano. Nesta sexta-feira, treinador foi alvo de entrevista na resenha do Leão onde contou como veio morar na Bahia. As mudanças na regras do Futebol. O retorno de Willian Farias e os episódios após o triunfo do Vitória contra o Corinthians na entrevista coletiva que gerou enorme repercussão e créditos positivo para o treinador.

Veja a entrevista   

O ribeirão-pretano Vagner Mancini já se sente um filho de Salvador?

Já me sinto sim. Lógico que depois da quarta ou quinta passagem pelo Vitória, há um laço muito estreito entre Mancini e Salvador. Entre Mancini e a Bahia, de uma maneira geral. Eu me sinto muito bem aqui, sempre fui bem tratado. E defendi não só a Bahia, o Nordeste, como todos os cantos deste Brasil enorme que nós temos, e que muitas vezes são discriminados de uma forma que a gente não concorda. Seja em São Paulo, no Rio ou em outra cidade, a gente não quer nem que o brasileiro seja discriminado aqui dentro, ou mesmo fora do Brasil. A gente quer igualdade, que as pessoas reconheçam aquilo de bom que é feito fora dos grandes centros. Salvador é um grande centro também. Por isso, eu fico muito feliz de receber este título, de poder fazer parte desta família soteropolitana, porque eu me sinto realmente já um baiano.

O que mudou na sua vida em relação à sua última passagem pelo Vitória? Algumas pessoas chegam a dizer que você se reinventou como treinador. A vida pessoal também contribuiu para isso?

A vida pessoal tá muito ligada, porque não tem como você dissociar uma coisa da outra. A vida profissional é reflexo daquilo que você vive na sua vida pessoal. E quando você tem uma vida social estável, segura, até certo ponto confortável, você consegue desempenhar bem o papel seja dentro do futebol ou em qualquer área. Então, hoje, eu me sinto feliz. Em todas as minhas passagens aqui pelo Vitória, eu tive números expressivos. Acho que o ser humano que se reinventa, nada mais é do que o cara que estuda, que se recicla, que vai atrás das informações, que tenta se modernizar, e o Mancini é exatamente isso dentro do futebol. Eu não sou o mesmo de 2016, de 2015 ou de 2009 e 2008. Eu sou um cara, hoje, diferente e, com certeza, para 2018 vão vir mudanças também.

Seu filho Matheus é zagueiro do Atlético-MG hoje. Quando você o enfrentou pelo primeiro turno, treinando a Chapeocense, perdeu por 1 a 0 lá em Chapecó. No próximo dia 24, deste mês, tem Galo x Leão, no Independência.

Meu Deus, vou ter que passar por isso de novo (risos)! Olha, foi um momento muito especial na minha vida, eu poder entrar em campo e ver o meu filho perfilado, ouvindo o Hino Nacional e depois entrando em campo para jogar. Mas eu espero que um dia ele esteja do meu lado. Assim como ele esteve sempre na minha vida. Mas que em termos profissionais, que ele possa ser meu atleta um dia. Eu acho que posso acrescentar muita coisa para ele. Seria uma satisfação enorme poder dirigi-lo. Neste jogo específico que você falou, ele acabou levando a melhor. Embora a gente tenha sido derrotado, eu saí de campo vitorioso em ver meu filho nascendo para o futebol numa grande equipe e isso é sempre motivo de alegria.

Você faz parte de um projeto de valorização do técnico de futebol e participa da Federação Brasileira de Técnicos de Futebol (FBTF). Acredita que as suas reivindicações serão atendidas pela CBF?

A CBF tem o poder de mexer nos seus campeonatos e muita gente não entendeu muito, mas a gente consegue fazer com que todo mundo realmente raciocine na direção do que nós, técnicos, queremos. A gente quer que todos os técnicos no Brasil possam assinar um contrato, pois 80% deles não assinam em 2017; que esses mesmos contratos possam ser registrados nas federações e na CBF, para que dê legitimidade ao treinador, ao trabalhador. Algumas outras coisas, como o curso obrigatório, para que todos possam se reciclar e requalificar, e também que o técnico, dentro do mesmo campeonato, só possa atuar em dois clubes. E dentro do mesmo campeonato, o clube só possa fazer duas mexidas no comando técnico. Isso faria com que, não havendo reserva de mercado pelos mesmos técnicos, o clube, de repente, tivesse que abrir a chance de buscar algum técnico na Série B, e vice-versa, técnicos da Série A que ingressassem na Série B. Que o clube entendesse que isso é jogar dinheiro fora e fizesse um bom planejamento, para que o mesmo não tivesse, no ano, quatro a cinco treinadores. A gente não pode admitir, até como torcedor e brasileiro, que os clubes joguem dinheiro fora, pois a gente vive do futebol. E se o treinador quiser sair, que ele pague a multa ao clube, que seja obrigatório isso também, respeitando o que ele assinou.

Quem estava no jogo contra o Avaí, no Barradão, viu que o Vitória, apesar de ter dominado quase o jogo todo, acabou perdendo por 1 a 0. Essa derrota fez você reavaliar alguma coisa na condução de seu trabalho?

Essa derrota acabou servindo para enxergarmos que, após a vitória lá diante do Flamengo, muita coisa ainda tinha que ser feita. Na sequência, nós enfrentamos duas partidas fora de casa, vencendo as duas em jogos dificílimos. E talvez, hoje, para a gente atuar diante de Fluminense e São Paulo, na sequência, a gente tenha um time mais maduro, que saiba muito bem o que é uma armadilha no futebol. Naquele jogo (contra o Avaí), embora a gente tenha perdido, nós tivemos um pênalti a favor no primeiro tempo e mais quatro ou cinco oportunidades reais de gol que não foram aproveitadas. E na situação que nós estamos no campeonato, a gente não pode perder estas oportunidades porque, com certeza, vai nos custar caro.

Na ausência do Willian Farias, o zagueiro Wallace assumiu o posto de capitão do time. E quando o volante voltar a jogar, como será? Você pensa em rodízio da tarjeta, como Tite faz na Seleção?

Olha, você agir desta forma lá na Seleção Brasileira, é até uma maneira que você tem de valorizar todos aqueles que lá estão. Num clube de futebol, eu já penso um pouquinho diferente. Quando você inicia a temporada, e eu fiz isso na Chapecoense, a faixa de capitão passou na mão de todos os jogadores. Mas aqui no Vitória, especificamente, nós temos um capitão já há dois anos que é o Willian Farias. Então, quando ele retornar, a faixa de capitão volta para ele. E por quê? Porque Wallace, Fernando Miguel, Kieza, Uillian Correia, eles também se consideram, assim como Willian Farias, um capitão. É importante que você não tenha esta liderança em apenas um jogador. Importante que todos eles, mesmo não usando a tarjeta, se sintam desta forma, orientando, cobrando dos atletas. Então, por uma questão de merecimento, a faixa vai voltar para o Willian Farias. Mas eu espero a mesma maneira de proceder de todos estes jogadores citados e dos outros mais jovens também que tenham uma certa liderança demonstrada.

Quando o capita voltar, volta com a braçadeira.Você tem o respeito de todos os funcionários do Vitória. Nesta quarta passagem, o que Mancini encontrou de diferente na Toca do Leão?

Olha, sinceramente, eu não encontrei muita coisa diferente, até porque desde que eu passei aqui na primeira vez, lá em 2008, nós sempre tivemos um excelente ambiente. E eu posso dizer que eu não tenho funcionários aqui dentro, eu tenho amigos dentro de nove anos de convivência. E são pessoas que, no meu convívio diário, acrescentam muito, cada um dentro de sua função, até porque eu valorizo todos eles. Costumo dizer aos massagistas, roupeiros, faxineiros, que eles sejam os melhores dentro da área deles. A gente também tem o hábito de fazer uns babas de vez em quando para que todo mundo interaja e que haja integração. Acho isso importante porque todos nós sofremos juntos na hora que o time está em campo. Que também nos momentos saudáveis, de prazer, a gente tenha um dia a dia dessa forma.

Qual é a praia de Mancini na Bahia?

Sou nascido em Ribeirão Preto, mas sou filho de mineiro. Meu pai é de Guaxupé, no sul de Minas, que é um estado que não tem praia. São Paulo tem praia e eu, na minha infância, adolescência, me acostumei a ir para o litoral norte, para Caraguatatuba, Ubatuba. Mas desde que eu vim para Salvador, a minha praia é a do Flamengo. A Praia do Forte eu adotei como a minha praia quando quero sair de Salvador, ir para um lugar mais distante. Tenho alguns lugares que eu ainda não visitei, como Morro de São Paulo, Maraú, que me disseram que é maravilhoso.

A decisão de morar em Salvador veio antes de você voltar para o Vitória. O que fez com que você se apaixonasse pela Boa Terra?

Então, é exatamente por isso. Diante daquilo que sempre vivi no futebol, eu cheguei num momento da minha vida onde eu achei que deveria morar numa outra cidade, num centro um pouco maior, que tivesse uma facilidade maior para voos e tudo mais. Eu fui juntando tudo aquilo que o futebol me deu chance de ver, de morar, cidades belíssimas. Acabei juntando praia, com uma cidade rica em cultura, bons restaurantes, e achei que deveria ser Salvador.

Você já entrou na história do clube como o técnico que mais dirigiu o Vitória em Brasileiros. Agora, levou o Leão a um triunfo inédito na competição, em São Paulo, contra o Corinthians. Outros tabus serão quebrados até o final da competição nacional?

Eu espero que sim. Sou muito feliz sempre que eu lembro que sou o técnico que mais dirigiu o Vitória na história dos Campeonatos Brasileiros. Tem alguns recordes que já foram batidos e espero que até o final do ano a gente consiga bater outros. O Vitória estava numa situação muito difícil, péssima, e hoje ela é ruim. Então, nós já melhoramos bastante, mas ainda faltam 20 pontos (antes do Coritiba) para a gente realmente poder chegar no final do ano e considerar como um título ganho essa fuga desta zona incômoda.

O que você mudaria nas regras atuais do futebol?

Eu acho que nas substituições. Você poder levar 11 jogadores para o banco de reservas e mexer apenas em três, eu acho que poderia dar um gás novo se você tivesse o direito de fazer cinco a seis alterações. Já tem gente dizendo que poderia ser duas ao mesmo tempo, duas no intervalo, que a cada mexida você fizesse duas. E acho também que para que o futebol fique mais correto, o ponto eletrônico na bola seria importante. A hora que você faz um gol, que ninguém vê, a bola entra e o juiz não dá, e gera uma série de coisas na sequência, você acaba, de certa forma, atrapalhando essa equipe, os torcedores, o campeonato. A FIFA deveria entender que a tecnologia é uma coisa que vem para ajudar o futebol.

Qual é a música que Mancini gosta de ouvir?

Lá em Ribeirão Preto tem muito sertanejo. Mas eu gosto de todos os tipos de música, de todos os gêneros, escuto tudo. Agora, depende do momento, de onde estou. Então se eu vou em uma festa de peão, tem que ser sertanejo; se vou para o Carnaval, tem que ser axé; se eu for para o Rio de Janeiro, tem que ser samba, e assim acho que da mesma forma que falei aquela frase na entrevista de que o Brasil é muito grande, ele também é muito grande para a música, as nossas raízes, a cultura. Tem espaço para tudo, desde que seja bem feito.

Você se arrepende de alguma coisa que falou na polêmica entrevista em São Paulo?

Não me arrependo de nada, falaria tudo de novo. Acho que a partir do momento que você tem argumentos para ir lá e discutir, ninguém é dono da verdade. Assim como o jornalista da Rádio Bandeirantes deu os números dele, eu dei os meus porque também acompanhei o jogo. Ali foi um choque de ideias, nada desrespeitoso. Mas acima de tudo, eu fiz valer a minha opinião, porque eu achei que, no momento, cabia. Importante quando há este tipo de diálogo, sem que você seja mal educado, grosso, respeitando a instituição, a rádio dele, a pessoa dele, mas você tem o direito de argumentar, de ponderar, e de falar não, se achar que aquilo está certo.

O Vitória tem dois jogos seguidos agora em casa, contra Fluminense e São Paulo. Qual o recado de Mancini para a nação rubro-negra?

A gente conta muito com o torcedor, pois nós sabemos que é um momento ímpar na competição. É o melhor momento do Vitória na Série A do Brasileiro de 2017. Então, é importante que a gente jogue com 12 contra o Fluminense e da mesma forma diante do São Paulo. Que este décimo segundo jogador seja a torcida do Vitória. Que venha, que lote o Barradão, que cante e jogue junto com o time. Serão dois jogos dificílimos, até porque o Vitória não vem bem dentro de casa neste campeonato e a gente quer reverter isto. E para isso a gente precisa do torcedor do nosso lado.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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