E.C Vitória: depois do acesso e festa, o novo projeto

No grupo de Whatsapp da Torcida do Vitória Candango, o sábado, 14 de novembro, foi aberto com o lacônico vaticínio de Gilmar Duarte: “Ceará é favorito”. Foi como se aquilo explodisse como uma bomba no colo dos otimistas, à frente o líder do grupo, Tiago Bittencourt, que reagiu, implacável, com a previsão que adiantou para todas as partidas do returno: “Hoje vai ser 8 x 0! Apostei uma grade de cerveja com um sardinha da minha quadra”.

O grupo é uma autêntica sala de debates, em que os rubro-negros de Brasília se dividem claramente em alguns grupos: otimistas, pessimistas e oscilantes,indo da euforia à depressão conforme o entusiasmo da equipe e preferindo se definir como realistas. Há ainda uma facção (em que alguns preferem ver apenas uma atitude de provocação) que coloca o próprio sucesso do Vitória em plano secundário, considerando mais importante a frustração do rival. Chegaram a antecipar, rodadas atrás, que cobrariam uma derrota contra o Santa Cruz se isso servisse para eliminar o Bahia. “É mais importante o Vitória ser campeão ou os sardinhas ficarem na segunda?”

Não faltou quem duvidasse da sinceridade de Gilmar, mas o pessimismo ficou patente até perto dos momentos que antecederam o jogo com os cearenses. De resto, ele não ficou sozinho. Alguns comentários lembravam que não seria a primeira vez a ver o time morrer na praia.

Exagero! O Vitória trouxera um resultado positivo de Fortaleza no primeiro turno. O Ceará havia reagido nas últimas rodadas e vinha de cinco resultados positivos, mas estava muito abaixo do rubro-negro baiano. Ainda alimentávamos a chance de ganhar o título e eles lutavam contra o rebaixamento.

Nesta semana, outros tantos torcedores chegaram a pôr em dúvida que o Vitória viesse a se classificar, mesmo faltando só um ponto para conquistar nas duas partidas seguintes.

O sábado permitiu que todos se encontrassem. Após um primeiro tempo apático, que parecia dar razão aos pessimistas, o grupo voltou cheios de brios para o campo e submeteu o Luverdense, mostrando quem manda na Fonte Nova. Ou Fonte Nossa.

O olhar deprimido para o time já não resistira aos momentos que precederam o jogo, tanto que não foi só no estádio que se constatou recorde de público. Ninguém conseguiu contar quantos torcedores havia no Chopptime, até porque meros espectadores acabaram aderindo ao ver a explosão da Torcida. Mas o grupo não era inferior a 70 inflamados rubro-negros, com a casa inteiramente ornamentada, repetindo ou antecipando as palavras de ordem entoadas em Salvador.

Não foi somente o acesso. É preciso lembrar que isso se dá com uma rodada de antecedência. Ou seja, o Vitória só não estará apenas cumprindo tabela contra o Santa Cruz porque estará em jogo quem será o vice. Isso mesmo, ser vice, uma colocação que todo tricolor baiano gostaria para o seu time neste ano. 

Mas não é só isso, até aqueles torcedores da facção “antissardinha” (não confundir com aquele antigo produto para a pele) têm muito pra comemorar. Viram o desmantelamento das últimas esperanças de acesso do Bahia com duas rodadas de antecipação. Nem precisam mais torcer para o Santa Cruz no sábado que vem.

NOVO MOMENTO

Agora, começam as reflexões que precisam suceder a festa do sábado e do domingo. Afinal, chega-se à segunda (perdão, quem chega à segunda é o nosso rival…), chega-se à semana seguinte como um time de Primeira Divisão.

Mas não se pode deixar de reconhecer que a Série B deste ano deu todas as condições para que o Vitória fosse campeão, o que só não aconteceu por falta de atitude, da determinação que teve o Botafogo. Entrou no campeonato com a obrigação de ganhar o título. E isso faltou ao Vitória.

Mas, cá pra nós, não faltou entrega apenas aos atletas. 

O que tinha essa partida com o Luverdense, um dos mais despretensiosos participantes da competição, para reunir 41.379 torcedores? Já incluídos os 31 “não pagantes” (alguém acredita nisso, menos da metade do grupo que se reuniu em Brasília para ver o jogo pela TV?) e excluído um monte de gente que teve de pular a catraca que não funcionava para os torcedores do SMV. Foi o que houve com Franklin Brito (do Vitória Candango) e um grupo de amigos.

Além da quase certeza de classificação, o que fazia do evento mais uma festa que uma disputa, havia o apelo do técnico Mancini e os chamamentos de ídolos como o Wagner Moura, Compadre Washington, Elkenson, Bebeto, Gabriel Paulista, Vitor Ramos e outros.

No restante da competição, a torcida do Vitória ficou como a quinta que mais compareceu aos jogos, com quase um quarto do público deste sábado.

Deixe que desfiem os argumentos. “O time foi instável”, “os horários não favoreceram”, “é difícil chegar ao Barradão”.

Se tudo isso é verdade, as desculpas se aplicariam também à Torcida do Vitória Candango. O grupo se reúne em uma choparia de Águas Claras, distante 20 km de Brasília, sendo preciso vencer a via de maior congestionamento de tráfego do Distrito Federal no horário aproximado das partidas de meio de semana, nas terças e sextas-feiras. 

Embora em número variável, a turma não deixou sequer marcar presença nas partidas do Sub 20 e do Sub 17, assim como organizou delegações para as partidas jogadas em Anápolis (Copa do Brasil) e Goiânia (Série B).

O Vitória vai chegar à Série A na companhia do Santa Cruz, que tem a tradição de lotar o estádio, tendo surpreendido o Brasil com públicos recordes mesmo quando disputava a Série D.


Ninguém se engane: uma coisa é o time fazer uma partida diante de 4 mil torcedores; outra é se sentir pressionado pelo grito e pela cobrança de 40 mil vozes, como neste sábado. Além das orientações do vestiário, não tenho dúvida de que isso foi o tônico para a exibição do segundo tempo.

Para o time cumprir um grande papel no Brasileirão de 2016, a Diretoria tem que sinalizar com investimentos, montando um time com estrelas e peças equivalentes de substituição. Mas é preciso a torcida se acostumar a encher o estádio. Afinal, não sei o que está na cabeça dos outros rubro-negros, mas eu não abro mão de ver o Vitória campeão brasileiro de 2016.

Fernando Tolentino

www.vitoriacandango.com.br

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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