Finalmente onde está o tão propalado legado da Copa?

Meus amigos, independentemente da complexidade e gravidade da situação, de quão difícil a realidade se apresente, exige-se de todos, ainda mais dos nossos líderes, fidelidade à verdade dos fatos, equilíbrio e bom senso, além de outros tantos fatores. Impõe-se a nossos líderes, em qualquer âmbito, a obrigatoriedade de um diálogo direto e transparente com a sociedade. Infelizmente, não foi este o panorama apresentado na copa do mundo de 2014.

Antes de adentrar no tema propriamente dito, peço licença aos amigos para contar uma breve história. Nos anos idos de 1995 (putz, tô ficando velho!) fiz um curso de pós-graduação em Engenharia de Software no Instituto de matemática da UFBA.

Curso este que foi feito em convênio com a UFRJ e que trouxe muitos Doutores desta universidade para lecionarem aqui. Durante o curso, o professor de Planejamento Estratégico de Sistemas de Informações deu a todos uma importante lição, que agora transcrevo: “As metodologias são importantes ferramentas. Mas, não substituem o bom senso e a sensibilidade de perceber se necessitam ser aplicadas e em que extensão”. Extrapolando a lição do professor, acredito que tanto as metodologias, quanto as teorias precisam passar pelo crivo da análise crítica quando implementadas. Aquele fine tunning, bom senso que permite a realização dos ajustes necessários.

Até hoje nunca conheci, pessoalmente, ninguém que se oponha à democracia. E, tão pouco, eu acho correto fazê-lo. No entanto, seguindo as lições do professor acima citado, procuro utilizar uma visão crítica para analisar suas apregoadas benesses e se elas são efetivamente implementadas na prática. De forma que, seja possível melhor contextualizá-la e reivindicar os ajustes necessários no decurso da sua utilização. Neste diapasão, todos nós podemos constatar o panorama não ideal da Democracia vivido nessa nossa Terra Brasilis. Acrescento que, em função da experiência adquirida nos anos vividos na Europa, temos um longo caminho pela frente no que diz respeito a aperfeiçoar nossa Democracia.

Claro que existem aqueles que amam as teorias, acreditam que elas sejam um fim nelas mesmas. Como diria o “filósofo”: “Ainda que as teorias sejam apaixonantes, nós não podemos correr o risco de nos apaixonar por elas”, sob pena de empanar nossa capacidade de sermos críticos. Mas, como diria aquele CD da Timbalada: “cada cabeça é um mundo”. Além disso, mesmo envolto nos redemoinhos da divergência, são subestimaria a opinião dos amigos, pois foge à minha natureza pensar que sou melhor que os outros. Até mesmo porque, plagiando agora uma música do Paralamas do Sucesso, “Eu sou Maguila, não sou Tyson”. Esta é uma ideia que se solidificou dentro de mim através dos muitos anos que sai nos Filhos de Gandhi, pois percebi o quão maravilhoso é ser “igual” e fazer parte de um todo.

Aos professores de plantão, meu apreço e admiração. Rogo a Deus que posso fazer com que um dia chegue perto da sapiência que eles têm e da humildade que eles demonstram.

Bom, como diria Chico Queiroz: “Agora vamos falar de tijolo que é pau que boia”… 

Acredito que muitos brasileiros, inicialmente, ficaram esfuziantes quando nosso país foi escolhido para sediar uma copa. No entanto, ao longo do processo começou a ficar claro que, quiçá, tratava-se de uma festa de luxo desvinculada da situação financeira e estrutural do país.

Mas uma vez, eu insisto na função de estraga-prazer-mor e pergunto: Será que não tínhamos outras prioridades? Será que poderíamos ter gasto tanto dinheiro? 

Sem contar os possíveis superfaturamentos, já parecia àquela época que tal descomunal gasto deveria ser reduzido ou, quiçá, eliminado para dar vazão a outras tantas prioridades que temos. Para completar, como economista e interessado pela matéria, lia em inúmeras publicações que as contas públicas já davam alguns sinais que ficariam insustentáveis se fosse mantido o mesmo ritmo de gasto e descontrole. 

No entanto, o discurso vindo das autoridades eram hiper otimistas. Milhões de turistas iriam nos visitar e essa seria “a copa das copas”. O legado seria um diferencial que modernizaria nossa infraestrutura e impulsionaria a qualidade de vida e o crescimento do Brasil. O que aconteceu durante o processo eu não preciso relatar aos amigos. Prefiro, agora, fazer as seguintes indagações: Como fica a credibilidade daqueles que nos fizeram embarcar nessa aventura? Quem paga a conta? Além disso, onde está o tão propalado legado? 

Em certo ponto, quando a pressão da opinião pública já era significativa, algumas autoridades admitiram que o grande legado se restringiria aos estádios…. 

Óbvio que fiquei, como muitos, maravilhado com a fonte Nova. Estádio moderno, de 1º mundo. Ainda mais porque sempre fui morador das redondezas. Pra vocês terem uma ideia, sempre fui a pé para a velha fonte. No entanto, a sociedade precisa funcionar dentro de um equilíbrio, as necessidades sociais da população não podem ser relegados a um nível inferior às de uma copa do mundo. Ainda mais quando sempre vivemos em uma situação de falta de infraestrutura, péssima qualidade dos serviços públicos e escassez de recursos governamentais.

Realizar ou não uma copa parece até não ser o ponto fulcral na história, mas quem pagaria por ela, sim. Se o setor público assume a responsabilidade, mostra a prioridade que tem e o nível de respeito que dispensa aos cidadãos.

Pude acompanhar atentamente toda a cobertura televisiva do período anterior a copa e me chamou a atenção o diametralmente oposto enfoque dado pela Globo/SportV comparado aos canais ESPN. Independentemente da motivação política e mercantilista de cada lado, acredito que ficou claro, pelo menos para mim, o grande engodo que significou todo o processo.

A lição que fica é que precisamos avançar muito e aperfeiçoar mais a nossa querida democracia. Pois o esforço de todos não pode beneficiar uns poucos privilegiados.

P.S. Caro Dalmo, perdoe-me por carregar nas tintas, correndo o risco de atingir frontalmente suas preferências políticas. Pois, a uma altura dessas do campeonato, das cores do manto tricolor, já imagino qual é a sua preferida. Kkk.

Sds, Rubro-negras.

Filba 

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

Deixe seu comentário