ECPP x Bahia: O duelo do milhão contra o tostão

Se um time do futebol do interior do estado merece o título de Campeão Baiano, sem qualquer dúvida, este time é o Vitória da Conquista, afinal, além de ser o único invicto da competição, foi aquele que mais somou pontos entre todos os participantes. Mostra-se um clube organizado e mesmo com apenas 10 anos de fundação, vem dando indício que pode quebrar a mesmice da dupla Bahia e Vitória, que trocam de mão o caneco de campeão baiano desde da época de onde o arco-íris era em preto e branco, além de se consolidar como a terceira força do futebol do Estado.

A decisão de Domingo entre ECPP x Bahia, revela uma particularidade interessante: será a luta do milhão contra o tostão, com o Bahia com uma folha de pagamento estimada em 1,7 milhão, enquanto o ECPP com apenas R$ 150 mil por mês, que deve ser o que recebe no mínimo, dois atletas do Bahia.

Para falar sobre o jogo e as dificuldades enfrentada pelo Conquista, o valente Ederlane Amorim Silva concedeu entrevista ao site da Metrópole, onde mostrou toda a sua ambição, comprometimento, críticas, humildade, mas também fé que o time conquistense pode operar o milagre da conquista do titulo, que será inédito na história do clube.

Veja a entrevista

Metro1 – Como está sendo feita a preparação do Vitória da Conquista para a final do Campeonato Baiano?

Ederlane – Nos reapresentamos na terça-feira após jogo em Ilhéus. A semana será cheia por causa da partida. É a partida mais importante da história do clube. Era o do Palmeiras [pela Copa do Brasil], agora o do Bahia. Por tudo que representa para a cidade, para a região, para a instituição, para torcida. Estamos preocupados com todos os detalhes, quanto dentro, como fora de campo para evitar surpresas. Sabemos do abismo que nos sepera da equipe do Bahia, em todos os aspectos. Eles são os favoritos. Eles têm a obrigação de serem campeões por tudo que representa no Brasil, não só na Bahia. Estamos engatinhando ainda. Vamos usar o fator motivacional para tentar superar as dificuldades dentro de campo, como ter estratégia, equilíbrio e concentração para diminuir ou encurtar o abismo entre as duas equipes fora de campo. Dentro de campo, o futebol está equilibrado. A preparação está sendo a melhor possível, tanto psicologicamente, como tecnicamente. O trabalho de campo já foi feito. Agora só resta a manunteção mesmo, porque ninguém vai fazer nada diferente em duas semanas, principalmente na parte física. Quem está em condições já está. Vamos tentar surpreender o Bahia na questão estratégica, na parte tática e na parte técnica dentro de campo, sabendo das nossas deficiências, mas explorando as nossas virtudes. O momento é único, ímpar. Se tiver que perder, vamos perder, mas vamos deixar a vida ali dentro de campo. Dentro do que for possível para conseguir esse título que marcaria definitivamente a nossa história.

Metro1 – O time fez esforço para contratar alguns jogadores caros para a realidade do clube. Eles renderam o esperado?

Ederlane – Fizemos muito [esforço]. Esse elenco que montei se deve a participação do time na Copa do Brasil, se não fosse a participação na Copa do Brasil, não teríamos nunca a condição de contratar Paulo Almeida, Viáfara, Fausto, Tatu, no inicio com Brasão também. Ou seja, são jogadores vindo do mercado que tem salário muito mais alto que nós estamos acostumados a trabalhar. O investimento foi satisfatório porque o resultado apareceu. Claro que alguns jogadores não renderam o que rendiam nos outros clubes. A parte comportamental também surpreendeu de algumas pessoas, mas no futebol você tem que administrar a vaidade, é um esporte coletivo. Em linhas gerais, foi positivo. A dificuldade tem em qualquer empresa.

Metro1 – Você acredita no título do Campeonato Baiano? Por quê?

Ederlane – Acredito. Claro, sempre. O Bahia é favorito, tem obrigação de vencer, mas ali dentro pode ser secundário. O Bahia vem vindo de uma sequencia de jogos. Apesar de toda estrutura que tem, com elenco qualitativo e quantitativo, isso acaba interferindo, assim o time não treina, só joga. Vai ser o ponto favorável ao nosso clube, essa vantagem.

Metro1 – É a primeira vez que o Vitória da Conquista está numa decisão estadual da primeira divisão. Como você está se sentindo com isso?

Ederlane – Já fomos campeões baiano, em 2006, da Segunda Divisão. Após isso, fizemos seis finais consecutivas da Copa Governador do Estado. Existe um sentimento de impotência, de tristeza, pois o Bahia nos tirou, praticamente, da final de 2008 — vou chamar de final, pois era um quadrangular, mas se gente vencesse aquela partida, seríamos campeões. Perdemos de 5 a 0. Não fomos nem vice. Em 2012, faltando dois minutos, estávamos com a mão na final, tomamos o gol do [zagueiro] Rafael Donato. Então fica isso. Sem olhar para trás.

Metro1 – Você vai encarar essa final então como uma revanche?

Ederlane – Não encaro como revanche, como falei, se jogar 100 vezes contra o Bahia é obrigação dele ganhar. Mas a gente quer vencer também. Se a gente tiver na série A, com o poder de orçamento igual a do Bahia, vou dizer que quero ganhar, pois terei condições plenas de ganhar, mas hoje a diferença é muito grande. Nunca consegui vencer o Bahia em Salvador. O máximo foi empatar. Quero ter essa possibilidade, pois vários times do interior vencem. Quem sabe pode ser agora. Se não vencer, pelo menos ser campeão.


Metro1 – Com 10 anos de existencia, o Vitória da Conquista está caminhando para se tornar a terceira força do futebol baiano?

Ederlane – A gente vem tentando, mas é difícil se tornar a terceira força sem um calendário. Você precisa ter calendário para representar bem seu estado. Agora, por exemplo, no regulamento posso ser campeão baiano, mas não posso disputar nada no segundo semestre. Como você pode ser a terceira força se não tem representatividade? Culpa nossa também, já que a gente não vem conseguido se classificar para as competições. Para ser a terceira força, você precisa dar continuidade. É difícil. O Bahia de Feira foi campeão baiano e, praticamente, terceirizou a equipe. O Colo-Colo caiu para a segunda divisão do Baianão, voltou agora. Justamente por essa dificuldade de não ter sequência no seu calendário. Isso precisa ser revisto, as pessoas responsáveis precisam procurar mecanismos para que essa situação não se repita.


Metro1 – Quais as maiores dificuldades que você enfrenta para gerir um clube como o Vitória da Conquista?

Ederlane – Falta de investimento, principalmente no segundo semestre, e da falta de recursos para manter o trabalho. Trabalho com orçamento “x” no primeiro semestre e “y” no segundo semestre. É muito difícil. Esse elenco só conseguir formar agora. Disputei quatro anos na Série D, representando a Bahia, de 2011 a 2014, com um cenário totalmente adverso a uma relaidade de acesso. Não conseguir formar elenco, não tinha recurso. O torcedor, no segundo semestre, acaba não acompanhando o time por diversas razões. Pela qualidade do elenco, qualidade dos adversários, questão da televisão, pelo frio. Então, existe essas coisas que acabam atrapalhando.


Metro1 – A Prefeitura de Vitória da Conquista ajuda o clube?

Ederlane – Não. Nunca tivemos. Fundamos em 2005, desde 2007 estamos na primeira divisão. Disputamos oito compeitções nacionais. Praticamente, uma competição nacional por ano e nunca tivemos apoio financeiro da prefeitura. Apenas, a questão física, decoração no estádio, mas investimento de ajudar o time numa viagem, na formação de elenco, num gênero mais alto, nunca tivemos e acho diifcil ter pela cultura que é empregada no sistema municipal.


Metro1 – Desta forma, você acha que a Prefeitura deve ao clube ou essa é uma situação tranquila?

Ederlane – Eu acho que está em falta pelo que o clube vem representando na cidade. Hoje, o Vitória da Conquista tem levado o nome da cidade. Não se faz futebol só com estrutura. O que move o futebol é investimento financeiro. Ninguém tem que dizer que a prefeitura tem que bancar o time, mas existe possibilidades, ações paliativas que são relevantes e que podem ajudar, sim. Como vejo que existe ajuda a todos os times do interior. Só aqui, tecnicamente, nós temos encontrado dificuldade com a Procuradoria do Município, que não aprova as ações que a gente tenta em parceria com a Prefeitura, mas quem sabe não vai mudando com os resultados que vem acontecendo. A gente vai criando uma motivação maior para eles possam entender que é importante o apoio, pois estamos levando o nome da cidade para todas as competições que estamos disputando.


Foto – Jessica Santana 

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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