Diretor de marketing fala sobre o futuro do Bahia

Há dois meses no cargo, o diretor de mercado do Bahia, Jorge Avancini, concedeu desta quarta-feira, uma longa e esclarecedora entrevista ao jornal A Tarde onde fala em diversos assuntos relativos ao Bahia, como reformulação do plano e, sobretudo o novo contrato celebrado com a Fonte Nova há poucos dias.

Veja a entrevista

Como o novo contrato com a Fonte Nova influencia no plano de sócios?
Sempre defendi que o sucesso do plano de sócios dependia, além dos resultados em campo, de ter um estádio onde o torcedor se sinta em casa. Uma das coisas que identifiquei quando cheguei aqui é que o torcedor do Bahia estava um pouco perdido quanto a isso, por toda essa relação da construção da nova Fonte Nova e por ter ido jogar em Pituaçu. Com essa renovação de contrato, a gente pode fazer o torcedor perceber que a Fonte voltará a ser sua casa. A gente poderá atrelar a história da Fonte Nova do passado à história da Fonte Nova moderna. Vamos trabalhar para que o torcedor lembre de jogos e títulos.

Com quais ações o Bahia pretende transformar a arena na ‘sua casa’, como você diz?
A gente já fez algumas intervenções visuais no jogo passado, como por exemplo colocar um escudo dentro do gramado. São várias as ações que a gente pleiteou para transformar a Fonte numa grande arena azul, vermelha e branca. Temos como vantagem que a Fonte Nova, apesar de ser um estádio todo novo, foi construído no lugar do antigo e manteve a mesma arquitetura. As pessoas identificam a entrada pela ladeira, o Dique ao fundo, o lado da ferradura… São características que foram mantidas e com elas a relação fica muito mais afetiva.

Pode adiantar alguma ação?
Vou pedir para não falar porque senão perde o impacto. Eu gostaria de ter toda a parte externa da arena decorada, como foi na Copa, com aqueles bandeirões, só que de imagens de grandes atletas do Bahia. Mas isso aí tem um custo, e temos que buscar os investidores. Hoje tem fotos dos jogos da Copa, mas não tem nenhuma foto de um jogo histórico ou de um grande título do Bahia.

A loja e o memorial são desejos antigos do torcedor. Tem prazo para serem lançados?
A loja só deve ser inaugurada a partir do segundo semestre de 2016. Tem que ter um projeto, avaliar o local, abrir para o mercado, chamar fornecedores… E tudo isso será feito junto com a arena. Entendo a expectativa do torcedor, mas você não bota uma loja e um memorial em dois, três dias. Depende de investimento, e o clube vem fazendo uma recuperação financeira junto com a montagem de uma equipe competitiva. O importante agora é que temos uma casa, temos um contrato bom para os dois lados. Cabe ao Bahia saber gerir isso para tirar o máximo proveito possível.

Qual será o principal ganho, em termos financeiros, do novo contrato?
Primeiro: o Bahia não ganha tanto com os jogos como ganha com o sócio. É importante fazer o torcedor entender que ele precisa se associar para ajudar o clube. Esse é meu desafio mais difícil. Há uma relação como se o Bahia, enquanto clube, tivesse obrigação com o torcedor, e não que ele, como torcedor, tem uma obrigação com o seu clube. Foi isso que a gente fez nesses últimos 15 anos no Sul, mostrar que a contribuição do torcedor é a única maneira de diminuir a diferença de investimento para os clubes que estão no eixo Rio-São Paulo, e é o que tem acontecido. Só assim é possível montar uma equipe competitiva. Resultado de campo é fundamental, mas a concepção de que, se o resultado vai mal ele vai parar de pagar a mensalidade, tem que começar a mudar.

Mas, além dos R$ 6 milhões anuais, como o Bahia vai lucrar com a arena?
A partir de números pré-estabelecidos, teremos ganhos em cima de bilheteria, alimentação… Em alguns casos, o próprio Bahia poderá fazer negócio. No contrato anterior, por exemplo, se o Bahia vendesse um camarote, não ganharia nada. Hoje, o Bahia começa a ser remunerado se fizer esse agenciamento. E a experiência nos mostra que o torcedor prefere comprar um produto ligado ao clube.

Esse último jogo contra o Sport, que deu mais de 40 mil pagantes, já rendeu uma quantia significativa?
Nossa parceria não é por jogo, é por períodos. A cada 90 dias, a gente avalia o que foi arrecadado. Claro que esse jogo vai somar. Para quem vinha colocando jogos com mil e poucas pessoas e de repente coloca 42 mil, com certeza, favorece. E teremos esses três próximos jogos que a torcida também tem que comparecer, porque isso vai respingar nos nossos cofres.

Contra o Sport, tivemos o primeiro jogo do novo contrato. A experiência foi boa?
No jogo de domingo já tivemos uma série de privilégios para o sócio, que estão longe ainda do que a gente quer. Mas mexemos, em 15 dias, em coisas que não aconteciam. O jogo teve uma cogestão do Bahia com a Arena, enquanto antes nos sentíamos inquilinos. Domingo não, foi diferente, o sucesso ou fracasso do evento ia respingar também no Bahia. Hoje, um problema no estádio prejudica a Fonte, mas também prejudica o Bahia.

A ansiedade do torcedor pode ser um problema?
Todo mundo achou que eu ia chegar com uma varinha mágica e transformar tudo. O Inter demorou 15 anos para construir isso: a gente começou em 2002, quando o clube tinha uma situação semelhante à do Bahia, foi quase rebaixado e não ganhava um título nacional havia mais de 20 anos. É uma busca de favorecer o sócio em tudo, porque esse é o cara que vai botar, todo mês, R$ 40 lá e gerar investimento. Mas tem que ter calma.

Como convencer o torcedor a pagar mensalmente?
Isso foi o que a gente mais trabalhou no Sul. Que o torcedor deixe de pagar aquela gasolina, deixe de tomar uma cervejinha no final de semana, mas não deixe de pagar a mensalidade. E a vantagem vem através dos descontos. Agora com o Bahia, por exemplo, são quatro jogos importantes em sequência, e o sócio verá, com as prioridades e vantagens, que, nesse período de quase um mês, esses R$ 40 saíram quase de graça.

Quantos sócios estão em dia e quais as novidades do plano que você pretende criar?
O Bahia tem 25 mil pessoas que já foram sócios. Desses, temos 5 mil adimplentes. Todo mundo acha que eu vou criar um plano mirabolante, mas não vou criar nada. O plano que está aí, que dá direito a 50% de desconto nos ingressos e uma série de descontos em outras áreas, além de votar para presidente, é igual a qualquer plano de sucesso no Brasil. Mas temos que pensar nos potenciais sócios que vivem a vários quilômetros da arena e que dificilmente virão num jogo em casa. Surpreendeu também a baixa presença de mulheres, que não chega a 2%. Mas o plano que está aí possui um modelo vencedor.

Então não haverá um novo plano de sócios?
Precisamos divulgar as vantagens de ser sócio, fazer uma unificação, porque a própria arena tinha um plano que concorria com o nosso. Também temos que fortalecer as vantagens fora do jogo. Se tiver um show na arena, os sócios do Bahia devem ter prioridade, por exemplo. Estamos analisando que tipo de benefícios atrairia mais pessoas, mulheres, gente de fora. O que tem de diferente nos outros planos são os benefícios, e aí cabe a cada clube montar seu pacote. O sócio quer vir ao Fazendão, ver o treino, conversar com o presidente, ser sorteado e viajar com a equipe para a final em Fortaleza. Isso, sim, é um barato. Temos de dar vantagens para que o cara fique conosco na boa ou na (fase) ruim.

O que acha das reclamações sobre o preço do ingresso?
Todo mundo quer ingresso barato, mas quer Neymar no Bahia. Como é que fecha essa conta? Todo mundo quer ingresso barato mas quer jogar no melhor estádio do mundo. Essas coisas têm que mudar na cabeça de todo mundo, seja torcedor, entidades ou imprensa. Como ter um equipamento que foi eleito um dos melhores da Copa do Mundo vendendo ingressos a R$ 5 e R$ 10? Se eu fizer ingresso barato, vou afugentar a família dos estádios por conta da violência que aparece. O custo de operação de um estádio desses é altíssimo. Quem cobra ingresso barato é o primeiro a cobrar por não ter montado um time bom ou porque vendeu uma revelação da base. Não precisa ingresso mais barato. A gente manteve tudo igual aos últimos jogos no último jogo e deu público cheio. Então fez o que? Mudou o modelo. Privilegiou o sócio e melhorou o atendimento. Isso que faz a diferença.

A crise que o país atravessa inviabilizaria o projeto?
Não inviabiliza, torna mais difícil e talvez mais demorado. Isso vai levar o torcedor a ficar mais reticente. Mas vamos pensar nos modelos de sócios que deram certo: nenhum está perdendo sócios por causa da crise. A relação do torcedor é tão forte que, independentemente da crise, ele vai escolher outras áreas onde economizar para ajudar o clube por causa dos descontos. A gente tem parcerias com universidades, escolas, academias, são mais de 200 serviços. Essa é a conta que o torcedor tem que fazer.

O Bahia tem quatro patrocínios, mas nenhum é master. Ainda assim ajudam?
Ajudam financeiramente. Não são o patrocínio master, mas estão adequados ao momento econômico e ao momento que o clube está vivendo. A dificuldade de conseguir patrocinador master é do futebol nacional. Ano passado, oito times da Série A jogaram sem ele. Cruzeiro, Flamengo, Palmeiras… Precisamos parar de achar que os órgãos de governo têm que botar patrocínio nos times. Todo mundo fala da Caixa, mas os clubes também precisam se organizar, procurar fontes alternativas. Em quatro meses de gestão, nós renovamos com dois patrocinadores grandes, e entraram dois.

Mas o Bahia continua em busca de um patrocínio master, até da própria Caixa?
Negociamos em várias frentes, inclusive com a Caixa. Mas, para isso, temos que acertar as dívidas, o programa de Refis do Governo Federal… E se isso tomar tempo? E se a lei tiver contratempos? Então, não pode ficar esperando. Eu larguei várias iscas no mar e, se alguém morder, nós vamos pescar. Já acertamos com um patrocinador master para esses jogos finais do Baianão e da Copa do Nordeste. E batalhamos por mais.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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