Treze horas na capital baiana. Saí da Vasco da Gama para ir ao Matatu. Engarrafamento em toda cidade e 14:30h chegava em casa. Bati o feijão e desci by bus para Fonte Nova. Na descida dos Galés camisas vermelhas e Tricolores faziam a festa, mas não era Bahia x Inter. Era França e Suíça.
Antes do estádio, entre muitos branquelos de caras pintadas, olhei a velha Fonte Nova, palco de tantas alegrias e ícone máximo do futebol baiano. Agora, era um ícone mundial. Na entrada muito gritos de guerra incompreensíveis e outros nem tanto. Meu pai, o mais francês dos brasileiros, chegava junto a um grupo cantando a Marselhesa. Na subida das escadarias, do lado do Dique de Tororó, a certeza de estarmos indo ver um evento histórico, muito além de um jogo.
Entramos correndo, afinal, não poderíamos perder o hino francês na Fonte Nova! Ao som do Thunderstruck, do AC/DC, víamos torcidas separadas, misturadas, fantasiadas, mascaradas, pintadas. Mulheres suíças e francesas, padrão FIFA, lindas, pareciam ter saído dos filmes estrangeiros. Na minha frente duas negonas, padrão Bahia, ainda mais lindas. Durante o jogo descobri que eram sul-africanas e estavam participando da segunda Copa em 4 anos, afinal, a outra tinha sido lá na casa dela.
E eis que começa a tocar o hino da FIFA. A cerimônia que acostumei a ver pela televisão desde a remota Copa da Espanha, em 1982, estava para começar. Muitas fotos, câmeras, festas, gritos e as seleções perfiladas. Começa o hino do time de vermelho, pouca gente cantando. Aplausos. Aí entrou a Marselhesa… confesso que me senti em Paris. A Fonte virou o Stade de France! Sabia da emoção que seria pro velho professor de francês Ruy Cerqueira, assistir o hino da França, cantado numa Copa do Mundo e dentro do estádio que sempre foi palco de suas alegrias no futebol. Fiz questão de registrar em vídeo. Le jour de gloire est arrivé! 😉
E começa o jogo. Escanteio na área e Giroud abre o placar. Allez les Bleus!
Sissoko dispara e bate cruzado! Allez les Bleus! Allez les Bleus!
Pênalti pra França e Benzema bate mal. O goleiro pega e um outro lance belíssimo da partida. Cabaye acerta um voleio na trave. E tome festa nas arquibancadas, agora, dos dois lados.
Contra ataque francês fulminante, e em oito toques na bola Valbuena broca novamente! Allez les Bleus, Allez les Bleu, Allez les Bleu!
Intervalo e saímos pra comprar uma Coca-Cola de R$ 8 e uma pipoca de R$ 10. Tudo padrão FIFA. Caro pra porra! Mas a Coca vinha com copinho personalizado com os nomes das seleções da partida, o local e o dia… ah, tá valendo. Dispensamos a pipoca e pegamos uma água de R$ 6 e o refrigerante.
Voltamos para o segundo tempo e Benzema deixa livre pra Matuidi chutar cruzado e deixar os suíços de 4. Allez les Bleu, Allez les Bleu, Allez les Bleu, Allez les Bleu! Do meu lado, um Tricolor com a camisa do Bahia faz a pergunta célebre: que porra é alê lê blê?
Mas faltava o de Benzema. E veio em grande estilo. Passe fantástico e o craque francês se estica todo pra fazer o dele. O hino da França era entoado de tempos em tempos no meio da partida. 5×0 e começamos a torcer por gols da pobre da Suíça. E eles vieram, dois deles.
No fim Benzema fecha a goleada e faz o 6º.
Saímos do estádio cantando o hino do Bahia, gritando Allez Les Bleus Minha Porra, tirando fotos e falando francês, inglês e enrolês até em casa. Só nos Barris descobri que o gol de Benzema não valeu. Mas aí a festa já tava feita.
Allez Les Bleus Minha Porra! Se você não foi a Copa, e puder ir, vá! Assista Irã e Bosnia, vista a camisa do seu time, ou leve sua bandeira. É um momento inusitado, uma festa fantástica e única. Claro que é caro, mas pode ser mais barato que um show no TCA. Faça um esforço. Meu pai, de 61 anos, nunca tinha visto. Eu não sei se verei de novo! Mas como é bom poder dizer: eu fui pra melhor Copa de todos os tempos.