Entrevista com “Yaya Talisca”, meia do Bahia

Com a fama de mascarado no início de carreira no Bahia, o meia Anderson Talisca foi ganhando espaço no tricolor e hoje, figura entre as principais peças do time e ainda que não atravessasse um bom momento, sempre seria lembrado pelo gol salvador que marcou contra o Cruzeiro, no ano passado, que mais tarde veio garantir a presença do Bahia na primeira divisão. O jogador foi alvo de entrevista ao site Terra, onde conta suas expectativa para o restante de temporada no Esporte Clube Bahia. 

O meia também elogiou a atual gestão do Bahia e comentou a exclusão do grupo da seleção olímpica para o Torneio de Toulon, que marcará o início da preparação olímpica para Rio 2016.

Confira a entrevista na íntegra

– Você sempre assiste aos jogos que fez? Por quê?

Talisca –  Sim,
sempre assisto. Eu gosto. É importante para saber o que a gente fez em
campo. Sempre assisto aos jogos que faço, principalmente para saber o
que errei e o que posso corrigir.

– Já que você analisa bastante o seu trabalho, no que você acha que precisa evoluir no seu futebol? 

Talisca – Acho que preciso evoluir mais na marcação, que é
um dos meus defeitos. Mas acho que com o tempo a gente vai adquirindo. Na base
não me deram tanto a obrigação de marcar, exploraram pouco essa parte. No
profissional é diferente e a gente sente um pouco. Mas tem um bom tempo que
estou melhorando. Também acho que preciso melhorar a parte física e tenho feito
um trabalho específico na academia. Até porque muitas vezes jogo de costas para
o ataque, a marcação chega e tenho que segurar a bola para me posicionar. Estou
trabalhando nisso.

 – Seus esforços parecem estar agradando ao técnico
Marquinhos Santos. Hoje você é titular do time e ontem, contra o América-MG,
teve de sair carregado do gramado ao fim do jogo.

Talisca – Tenho feito uma sequência de jogos grande. Desde o
Estadual, eu joguei todos os jogos, e a partir da metade eu atuei em todas as
partidas, não fui substituído em nenhuma. Senti cãibras, mas precisávamos da
vitória e o jogo estava no final. As pernas cansam, a mente fica sobrecarregada,
mas o importante é que nos classificamos.


 Essa mudança de relação com a torcida fez com que os
tricolores começassem até a te chamar de “Yaya Talisca”, em
referência ao Yaya Touré, meia do Manchester City e da Costa do Marfim. Você se
espelha nele?

Talisca – Eu jogo muito com ele no vídeogame, cara. Sempre
escolho o Manchester City. Ele é um jogador de alto nível. É alto que nem eu,
joga em uma posição parecida com a minha. Mas me espelhar, não. Gosto do
futebol dele, mas não é o caso de me espelhar.

– Tem algum jogador em que você se inspira?

Talisca – Paulinho. O Paulinho é um jogador de alto nível.
Na minha visão, ele é completo, marca e ataca, tem qualidade na saída de bola,
faz gols. É um jogador que sigo muito.


– Você tem jogado mais avançado hoje. No futuro, como
você se espelha no Paulinho, você pensa em jogar mais atrás, mas com a mesma
versatilidade que o jogador da Seleção?

Talisca – Sim. Eu gosto da posição que estou jogando, estou
feliz, fazendo gols. Mas pretendo jogar mais atrás, porque tenho estatura para
jogar na Europa, e às vezes fico pensando que vou sentir dificuldades se for
jogar lá como estou jogando aqui no Brasil. Lá é outro tipo de marcação, outro
tipo de jogo. Acho que meu futebol, jogando mais de frente para o ataque, vai
render mais. Vai me favorecer.

– Quais seus planos? Ficar mais tempo no Bahia e se
consolidar como um ídolo, se transferir para um outro time brasileiro ou
europeu, ou está deixando tudo correr naturalment
e?

– Me sinto bem no Bahia. Por tudo o que passei e
estou vivendo no clube. Estou tranquilo, acho que estou fazendo as coisas
certas e é só dar continuidade. Penso em ficar no Bahia e se puder terminar o
meu contrato, que vai até 2017, ótimo. Mas a vida de jogador é curta, várias
coisas acontecem e só Deus que sabe. Todos os jogadores pensam em jogar fora do
país um dia. Especialmente na minha vida, a gente trabalha para isso.

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Exclusivo: Talisca elogia Bahia e sonha com futebol europeu

– Antes de renovar o seu contrato até 2017, você teve
problemas com a antiga gestão do clube, do ex-presidente Marcelo Guimarães
Filho, e divergências sobre o salário. A divisão dos seus direitos econômicos
também é um pouco confusa. Isso não te atrapalha?

Talisca – Agora está tudo tranquilo com o meu contrato. Mas,
sinceramente, não me interesso muito em saber quem são os donos dos meus
direitos e quanto cada um tem. Me foco no campo.

 – Muitos jogadores do Bahia têm comentado sobre as
diferenças entre a atual gestão do clube, comandada por Fernando Schmidt, e da
anterior, de Guimarães Filho. Você também vê diferenças? Quais?

Talisca – Sim, muita diferença. Os “caras” são bem
organizados, fazem as coisas certas. Se preocupam em fazer tudo corretamente,
brigam pelo Bahia e por nós jogadores. São muito decentes, também,
respeitadores, falam com todo mundo. Os caras cumprem o que prometem. Acho que
uma coisa importante é essa. O que você fala, você tem de cumprir. O ambiente
está mais tranquilo do que antes. O clube está se ajeitando, está mais
arrumado. Acho que a diretoria está fazendo o papel dela bem feito.


 – E como você vê a sua nova relação com a torcida do
Bahia, que antes pegava muito no seu pé, talvez até de forma exagerada, e hoje
te considera um dos destaques do time?

Talisca – Isso acontece na vida de todos
os jogadores e temos de estar preparados não só para as glórias. É normal. Os
torcedores às vezes criticam e depois aplaudem, a gente tem de entender isso.
No meu caso, que sou um jogador jovem, tenho de acreditar que as coisas vão
melhorar na frente, por isso procuro ficar tranquilo.


– Acha que faltou paciência da torcida não só com
você, mas com outros jogadores da base, como o Madson, que acabou sendo
emprestado ao ABC-RN? Os resultados ruins do time nos anos anteriores
influenciaram nisso?

Talisca – No meu modo de ver, sim. O jogador que vem da base
não pode ser tão cobrado como acontece aqui. Quando um atleta vem da base, ele
tem que se sentir à vontade para demonstrar o seu futebol. Porque, senão, como
não tem experiência, vai se sentir preso para fazer as coisas. No meu ponto de
vista, Madson vai ser um grande jogador. Ele tem velocidade, marca, chega bem
na frente. Acho que precisava sair daqui, respirar novos ares. Às vezes o
jogador necessita disso para evoluir. Acho importante.

 – E a boa fase atual tem ajudado Pará, revelação da
lateral esquerda?

Talisca – Fico feliz pelo Pará, mas ele está no começo, não
tem nem 15 jogos como profissional. Está entrando num momento bom, isso ajuda
bastante. Eu não entrei em um momento bom. Entrei em uma fase conturbada no
Campeonato Baiano, com o Bahia levando goleada do Vitória na final. Joel
Santana me colocou como titular em um Bahia desacreditado e aí muita gente
achou que eu entrei para resolver, entendeu? Muita gente não vê isso. Ali ainda
era o começo da minha carreira e ainda estava muito imaturo, muito verde, longe
de como estou hoje. Passei por muitas situações no Bahia e está tudo escrito
para eu não esquecer de nada.

 – Mas, apesar das críticas, você nunca pareceu se
sentir muito abalado, e às vezes a torcida perdia ainda mais a paciência com
você, nas partidas.

Talisca – No meu caso, tenho muita personalidade, não tenho
medo de nada, e faço as coisas. Tem hora que é para finalizar, tem hora que é
para passar. Dentro de campo eu gosto de jogar com alegria, só fora é que eu
sou tímido mesmo. Às vezes falo com uma moça que trabalha na Fonte Nova, a
chamo de “senhora” e ela não gosta (risos). Mas sou assim mesmo, é o
meu jeito.

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– Muita gente diz que a sua mulher colocou você nos
eixos, trouxe mais tranquilidade e você focou mais no futebol. Como era antes
dela e como é agora?

Talisca – Não, eu sempre fui focado. Até porque, se não
fosse, não chegaria no profissional. Não foi por acaso. Não bebo nem fumo, sou
um cara tranquilo. E quem é jogador de futebol e trabalha com o corpo precisa
se cuidar. Mas ela me ajudou bastante, até em casa. É bom chegar em casa e
encontrar com ela. Dá mais gosto de jogar. Me ajuda bastante, todos os dias,
está sempre do meu lado, assim como o pessoal da minha família e da família
dela.

 – Como foi a sua formação até chegar ao profissional?

Talisca – Em Feira de Santana, me formei no astro, clube da
Fazenda do Menor, um projeto social da cidade. Eu ia para a escola, mas nunca
me interessei muito. Colégio era uma “coisa pequena”. Meu vício
sempre foi a bola. Meu pai me levava para os lugares e eu levava uma bola
junto. Eu queria jogar bola de manhã, de tarde, de noite. Não tinha horário.
Nunca trabalhei antes de chegar ao Bahia, me dedicava só ao futebol. No futuro
penso em terminar os estudos, já conversei com minha mulher, ela vai me ajudar.

– Sua ausência foi uma surpresa na convocação de
Alexandre Gallo para o Torneio de Toulon, com a seleção olímpica. Você acha que
esse seu comportamento antigo pesou nisso? 

Talisca – Se ele não chamou porque talvez tenha opções
melhores. Estou tranquilo. Das vezes que joguei na seleção, fui bem, não só com
o Gallo mas com o Emerson Ávila (técnico anterior). Todo mundo me conhece, sabe
o futebol que jogo. Não guardo rancor nem mágoas, até porque não briguei, não
discuti com ninguém. Foi a opção dele. Mas estou tranquilo, porque nem sempre o
jogador que está na seleção de base chega aonde ele quer, na seleção principal.


 – O Bahia começou o Brasileiro com uma campanha
segura. Quais são os sonhos e limites do time na temporada? 

Talisca – Dá para esperar um Bahia forte. Humilde, com os
pés no chão, mas vamos chegar fazendo as coisas certas, que o professor
Marquinhos está pedindo. A gente tá com o planejamento de não perder nenhum
jogo até a Copa do Mundo e estamos buscando algo maior lá na frente.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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