Entrevista: Presidente do Bahia Fernando Schmidt

O presidente do Bahia, Fernando Roth Schmidt concedeu entrevista exclusiva para o Jornal Correio na sede do Mundo Plaza e comentou sobre assuntos polêmicos como: Cidade Tricolor, jabá e outros temas.

Neste mandato, existe justamente a questão do Fazendão e a Cidade Tricolor. O Bahia ficará com os dois equipamentos?

Acho que tem totais condições até porque foi muito mal conduzido pelo Bahia. As decisões sequer passaram pelo Conselho e Assembleia Geral. Muitos documentos são assinados exclusivamente pelo ex-presidente (Marcelo Filho). De início, era permuta de um pelo outro. Depois, os aditivos… Foi mal calculado, avaliado e o Bahia ficava endividado. Chegou a ponto de parar e fazer uma avaliação efetiva dos dois imóveis. Caminha para a solução de ficarmos com os dois imóveis.

O brasileiro tem o hábito de ser personalista. Quem resolve é presidente, governador e prefeito. E você é criticado por não se encaixar neste perfil.

O presidencialismo levado ao acesso desaparece outras figuras. Hoje, não há grande clube brasileiro sem a companhia de grandes executivos trabalhando ao seu setor. Ninguém trabalha sozinho, mas em cima de planejamento e com metas estratégicas. Em 2013, foi gestão emergencial para não cair. Em 2014, mudou. Começamos a planejar médio prazo, inclusive, no futebol, trazendo nova mentalidade que é disputar torneios buscando ser vencedor. Os jogadores não têm obrigação de ganhar todas as partidas, mas têm de demonstrar garra, empenho e foco.

Teve isso no Nordeste?

No Nordeste e no Baiano, tivemos situação complicada. Foram 24 dias de temporada com oito jogos. Isso é desculpa? Não. É realidade que tem que ser vista e entendida. A gente não pode pensar que as coisas vão ser feitas com passe de mágica. Aqui nesta cadeira ou ao meu redor não tem nenhum Mandrake. A época dos mandrakes acabou. Nós procuramos trabalhar da forma séria e abertos.

O calendário precisa mudar?

Precisa. Hoje, existem vários atores novos e todos precisam ser ouvidos. O futebol brasileiro não pode ser resolvido por CBF e FBF. Que atores são estes? As novas arenas, o governo no poder executivo e legislativo, os jogadores com o Bom Senso FC, os clubes: todos são atores novos que estão se consolidando no futebol brasileiro. Se pretende-se um legado da Copa e não se ouve todos os atores, o legado será muito pobre e vai mudar muito pouco. Ou, quem sabe, vai ser uma espécie de mudança para continuar tudo como está.

O Clube dos 13 faz falta?

Eu cheguei a ser da diretoria do Clube dos 13. Fui dirigente-fundador. Nós fomos pioneiros na tentativa, depois foi esvaziado e implodido. Na hora que foi implodido, não ficou nada. Só os grandes se beneficiam disso e só não se beneficiam mais porque passaram por processo de crise brutal de 2008 para cá.

E fragiliza o campeonato.

Isso. Nós somos o primeiro clube a apoiar o Bom Senso. Chegamos a ter reuniões aqui na Bahia e fora. Para que funcione, não pode ser só uma regra de conduta e direitos dos jogadores. Têm que receber em dia, ter calendário compatível com a atividade física, mas é preciso também que se olhe o teto salarial. E olhe também muito no que se refere ao direito de imagem e ao uso. O direito de imagem pode vir para o bem e para o mal. Tem que haver código de direitos e deveres entre clubes, federações e jogadores.

Aí futebol e outro setores se integram e haverá economia.

Exatamente. Aqui, pagamos aluguel e lá, não. Mas precisamos adaptar o Fazendão. Já começamos também a fazer a concentração dos atletas, recuperando tudo para o time se concentrar lá, com refeitórios e quartos. Também vamos reformar completamente a divisão de base. Não pode continuar como está. Hoje, por exemplo, tive reunião com presidente da Embasa para parcelar e pagar o que deve, com juros e correção. O poço da Embasa está fechado. Tem só o poço artesiano funcionando e a água só serve para molhar o campo. Isso desde 2004. Era essa gestão “fantástica” a do Bahia.

Nos últimos dias, o supervisor de futebol foi demitido, a base está mudando e o diretor administrativo-financeiro cogitou sair. Demoraram para mexer e já iniciar o ano modificado?

Eu acho. Demoramos de tomar atitudes de reformulação para substituir pessoas que visivelmente trabalhavam contra os propósitos desta diretoria como trabalharam contra a intervenção. Outras pessoas nem digo que trabalharam contra, mas não tinham perfil para as funções. Até mesmo para arejar. A gente não pode ficar com o regime de capitanias hereditárias descendo da presidência até a vigilância. Com relação a Reub (Celestino, o financeiro), não há nenhuma ressalva a fazer. Existem divergências dentro da diretoria? Claro e isso é altamente benéfico. Existem divergências dentro da família e até no casamento. Por que não vai existir na diretoria? A diferença é que não são para destruir, mas aperfeiçoar e corrigir problemas que tenham ocorrido e aperfeiçoar para unidade maior e mais sólida.

 Na pauta de arrumações, as doações para as organizadas acabaram e foram privilegiados torcedores e sócios. Agora existe o debate do jabá, dinheiro dado para algumas pessoas na imprensa defenderem a diretoria.

Está se fazendo uma confusão que não deve. Existem setores, felizmente minoritários da nossa imprensa, que aceitam receber recursos para defender, elogiar, permanentemente, ter uma posição de apoio à diretoria, quando não fazem pior e se tornam verdadeiros cúmplices, virando espécie de sócio das coisas que acontecem no Bahia. Isso será combatido sem temor, apesar de qualquer esperneio que venha ser feito, de qualquer ameaça. Outra é a imprensa. Quando uma empresa lança um produto ela não paga publicidade? Vamos lançar a campanha de associação em massa com filmetes, outdoor, spots para rádio, anúncio para jornal. Evidente alguns veículos vão aderir como colaboradores ou vão diminuir os preços e outros não. Isso é o que faz a imprensa ética e com a qual nós queremos ter a maior abertura e o melhor relacionamento. Isso não é jabá.

 Como torcedor, o que você acha do time? Tem jogador que gosta mais, menos… Que a torcida se identifique.

Antes, quando fui presidente, tinha Douglas, Baiaco, Roberto Rebouças, laterais como Ubaldo e Romero, Thyrso na ponta-direita, enfim… Tinha jogadores que considerava ídolos. Tem jogadores que não foram de meu tempo: Bobô é exemplo. Não só de jogador como homem de caráter e cidadão que deu e dá o maior amor ao Bahia. Honra o nosso Conselho. Atualmente, acho difícil ter outra pessoa que reúna as condições de ídolo que Marcelo Lomba, o nosso capitão. Ele encarna muito do espírito e garra de luta, como Titi, que não vou deixar de citá-lo. O ídolo se faz não somente pelo aquilo que joga, claro que é fundamental, mas pela capacidade de liderança que exerce sobre os companheiros. Na segunda-feira, tive conversa com eles e disse: ‘Deus nos deu duas orelhas e uma boca. Não foi à toa’. Para você ser líder, gestor e comandante, você precisa ter enorme capacidade de ouvir para cumprir a parte que sai da sua boca.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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