Em geral estou online nas madrugadas, mas não foi o caso ontem. Andava lendo Manuel Zapata Olivella com o computador desligado. Como li até quase de manhã, acordei tarde e, só depois de ler os jornais do dia (todos os três “grandes”), vi os tuítes de Franciel Cruz, anunciando a morte de Ederaldo Gentil, ocorrida no começo da noite de ontem. Estupefato, voltei aos jornais. Com certeza, deveria ter sido alguma distração minha. Eu não vira nenhuma linha registrando a morte do gigante que, reitero, acontecera no início da noite. Nada. Fiz uma busca detalhada, desta vez nos grandes portais noticiosos destes mesmos diários, para ver as notícias que saem em tempo real. Já eram 16h de Brasília, quase 24 depois do falecimento de um dos nossos maiores sambistas. Nada.
Minha identidade
Minimo salário é o meu ordenado
12 horas de trabalho
Que felicidade, que felicidade.
Também no disco de 1975, Ederaldo gravou “O ouro e a madeira”, pérola cantada em inúmeras rodas de samba na Bahia, e cujo refrão é uma das minhas coleções de metáforas favoritas da língua portuguesa: O Ouro afunda no mar
Madeira fica por cima
Ostra nasce do lodo
Gerando pérolas finas.
Graças ao amigo Franciel, pude conversar com Denise Gentil, irmã de Ederaldo. Suas dores no abdômen começaram na quarta-feira. Foi medicado e cuidado pela família, mas não resistiu. A morte aconteceu um pouco depois das 15h de sexta-feira. Apesar da ausência da imprensa e dos representantes dos governos municipal, estadual e federal, o povo não esqueceu seu grande poeta e entoou os sambas de Ederaldo. No lindo depoimento de César Rasec, dá para se ter uma ideia da importância de Ederaldo para a música brasileira. Nesta foto, da jornalista Olivia Soares, você vê o povo reunido cantando as obras de Ederaldo no velório:. .Este obituário não é o que Ederaldo merece, mas é o que consegui escrever, devido à minha raiva pela forma como o Brasil trata seus poetas e sua memória. Mas aqui está registrado. A grande imprensa do Sul Maravilha ignorou, mas na Revista Fórum ele não foi esquecido. Vai na fé, Ederaldo!