Desde 19-2-89, Bi Campeão Brasileiro!

O dia começou com muita expectativa. Acordamos em Salvador com a cabeça em Porto Alegre. Minha família, os Cerqueiras (dos Barris), é inteiramente composta por torcedores Tricolores. Logo, estava tudo certo, o jogo seria na casa de meu avô, o famoso “Seu Ruy” (apelido do Sr. Lupicínio Cerqueira, pela sua admiração a Ruy Barbosa).

Nas TVs, flashes da festa que a torcida do Inter fazia nas ruas porto-alegrenses. Torcedores colorados com faixas de Campeão da Copa União de 88 apareciam nos programas de esportes sulistas. O Tetra era uma certeza para eles, afinal, o Inter jamais havia perdido um título brasileiro em casa. Até macumba fizeram no vestiário do Tricolor Baiano. Mas nada tirou o foco do Bahia.

Nos Barris, a Torcida se acomodava na casa de Dona Dedé (minha vó). Eu no sofá, meu pai e meus tios nas cadeiras, primos e amigos sentados no chão, debaixo da mesa. O almoço sendo retirado da mesa e… apita Dulcídio Wanderley Boschilla.

Começa a batalha do Beira Rio.

O Inter vinha com um jovem goleiro chamado Taffarel. Luiz Carlos Winck, Aguirregaray, Norton e Casemiro, na zaga. Norberto, Luís Fernando, Luís Carlos Martins, Maurício (Hélder). E na frente, Nílson e Edu formavam o time de Abel Braga.

Do outro lado, o Esquadrão de Aço era formado por Ronaldo, Tarantini, João Marcelo, Claudir e Paulo Róbson. Paulo Rodrigues, Bobô, Zé Carlos e Gil. Charles e Marquinhos. Evaristo de Macedo comandava o Tricolor.

A guerra começa com Paulo Robson apanhando e sangrando muito. Depois disso, um zagueiro colorado dá uma cotovelada no rosto de Paulo Rodrigues e absurdamente não foi expulso. Depois o “5” do Bahia descontou a porrada. Em campo dois times nervosos e o primeiro tempo foi bem equilibrado. Galvão Bueno nem sabia, mas ali começaria a gritar um nome que marcaria a carreira dele. Rrrrrrrronaldo! O arqueiro Tricolor foi um gigante no Beira Rio. Defesas incríveis asseguraram o 0x0 no primeiro tempo, com um Inter um pouco mais ofensivo.

Intervalo de jogo e, ufa… Apenas 45 minutos separavam a gente do título. Na resenha do intervalo uma coisa era certa: dá pra segurar o Inter mais um pouco! Recomeça o jogo e o Bahia começa a descobrir o “caminho das pedras”. Contra-ataques rápidos pegavam a defesa colorada aberta e desarrumada.

Bobô enlouquecia os volantes adversários. Deixou Charles e Marquinhos em condições claras de gol. E nada. Bobô arrisca de dentro da pequena área e acerta a trave do goleiro que seria Tetra Campeão pelo Brasil. Marquinhos lança de cabeça pra Charles. Ele perde. Finalzinho de jogo, Bobô lança de “três dedos“ pra Charles. O centroavante dribla Taffarel (algo raro na carreira do goleiro), perde o tempo da bola, e mesmo com o gol livre, não fecha o caixão. A essa altura, o desespero já havia passado pra o time gaucho.

Falta para o Bahia na entrada da área. Taffareeeeeel vai no cantinho esquerdo e tira.

Apita o árbitro. Fim de jogo. Começo de um segundo carnaval na Bahia, em 19 de fevereiro de 1989. O Esporte Clube Bahia sagrava-se Campeão Brasileiro de 1988. Único time do Norte-Nordeste a conquistar dois títulos nacionais. No Farol da Barra a TORCIDA começava a fazer festa com Trio Elétrico. Na casa de Sr. Ruy, abraços e comemorações. O Hino tocava em todas as casas. Gritos de ”É Campeão !” ecoavam de todos os cantos naquele instante. A festa era completa.

Éramos o time que mais havia vencido no Campeonato. O Fla de Zico-Bebeto-Zinho, o Vasco de Bismarck, o Inter do artilheiro Nilson, o Flu de Washington, o Grêmio de Cuca, o Palmeiras de Zanata, o Santos de Sócrates, o São Paulo de Raí-Muller, nada. Ninguém foi páreo para o Baêa de Bobô!

Tínhamos a maior renda da competição, batemos recorde de público da Fonte Nova, a segunda maior média de público e havíamos virados dois jogos incríveis contra Flu e Inter nas rodadas finais. Um título que veio por puro merecimento.

Além dos titulares alguns jogadores merecem destaque. Sidmar, Rogério, Maílson, Newmar, Edinho, Pereira, Sales, Osmar, Renato, Dico e Sandro. A esses heróis, fica registrada a minha homenagem. Aliás, minha não, de TODA A NAÇÃO TRICOLOR .

Bora Baêa Minha Porra! Desde 1988, o único BI CAMPEÃO BRASILEIRO de todo Norte/Nordeste.

Ps. Não vivo de passado, mas como é bom ter um passado pra viver.

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