Fonte Nova completa 59 anos à espera da ressurreição

Foto do estádio da Fonte NovaMeu Rei, sou louco pela Fonte Nova. Foi lá que fui apresentado a uma das festas mais bonitas da minha terra: o BaxVi. Ela sempre se apresentou tão convidativa como os olhos de uma mulher deslumbrante aos olhos da lua e do dique do Tororó ao fundo. À noite, as torres de iluminação iluminavam nossa paixão com bandeiras e mais bandeiras, que enchiam de alegria o Estádio de concreto. Pessoas se misturavam para acompanhar juntos o crescimento do futebol na Bahia e escapar da frieza do trabalho formal. A Fonte foi palco também de espetáculos musicais como o de Ivete Sangalo. Em breve, ficaremos sem a Fonte dos velhos palcos e de identidade com as festas populares de Salvador. O futebol perdeu a inocência, e a Fonte perdeu para o tempo. Confira matéira do Jornal ATARDE

Esqueça os cânticos de incentivo e os batuques dos torcedores da dupla Ba-Vi, até mesmo as jogadas de ídolos como Bobô, Mário Sérgio, Beijoca e Osni. Interditada desde o dia 25 de novembro de 2007, quando sete torcedores perderam a vida na maior tragédia da história do futebol nacional, o Estádio Octávio Mangabeira, carinhosamente conhecido como Fonte Nova, hoje é a imagem da melancolia e do abandono.

No lugar dos craques, mendigos tomaram conta da praça, que, entre entulhos e treinamentos de novos motoristas em busca da carteira de habilitação, escora-se na história de 59 anos do local – comemorados ontem, pela última vez.

Em breve, a atual Fonte Nova será 100% demolida para dar lugar a uma nova arena, com vistas à Copa do Mundo de 2014. De acordo com o cronograma estipulado pelo governo estadual, a intervenção terá início em fevereiro – embora o consórcio OAS/Odebrecht, responsável pelas obras, afirme que ela começará apenas no final de abril. Reconstrução? Só a partir de meados de junho.

A previsão é de que o estádio fique pronto até dezembro de 2012, totalizando um investimento de R$ 591,07 milhões. Ontem, o Esporte Clube visitou a área externa, já que a Sudesb – autarquia engarregada pelo palco –, não autorizou a entrada nas suas dependências.

O estacionamento do Dique, onde a célebre Kombi do Reggae fez história, serve atualmente como palco para vistoria de trios elétricos para o Carnaval. No portão 4, próximo ao ginásio Antônio Balbino, apesar das grades de proteção, cerca de 10 famílias passaram a ali morar. A recepção, diga-se de passagem, não foi das melhores. Com pedras e paus em mãos, tentaram intimidar a reportagem. Sobre o assunto, a Sudesb afirma já ter tentado todas as providências possíveis.

“O que a gente já fez foi isolar a área do estádio. Mesmo assim, eles [os sem-teto] invadem. A solução seria transferir esse pessoal, mas os próprios não têm interesse. A prefeitura, que devia tomar essa atitude, ainda não assumiu a missão”, alega o chefe de gabinete do órgão, Aécio Pamponet. A utilização do parque aquático para ações de incentivo à prática esportiva ao menos impede que o local receba a alcunha pejorativa de ‘elefante branco’.

Histórico – Inaugurada em 28 de janeiro de 1951, a Fonte nasceu em um domingo, seis meses depois de o Brasil perder a Copa de 1950 para o Uruguai, no Maracanã – tivesse acontecido antes, tiraria da Ilha do Retiro, em Pernambuco, a honra de sediar as partidas do Nordeste no certame.

Na ocasião, houve um festival de jogos de curta duração – o saudoso Torneio Início –, envolvendo os principais participantes do Baianão. O Bahia ganhou a disputa, mas o primeiro jogo envolveu as equipes do Botafogo e do Guarany.

O autor do primeiro gol no novo estádio foi o meia Nélson. Mais tarde, em 1971, a Fonte ganhou o anel superior. O maior público foi no duelo entre o Bahia e o Fluminense, pelas semifinais do Brasileiro de 1988, com 110.438 pagantes e lotação máxima com 120 mil presentes. Em 2007, no último ano de funcionamento, o estádio teve a maior média do futebol brasileiro. Em plena Série C, o Bahia levou 40,4 mil por jogo.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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