Esporte Clube Bahia: Uma perigosa paixão

Antonio PithonMal de Parkinson, separação da mulher, esquecimento da sociedade, falência econômica e financeira e, até mesmo, o nome retirado da sede de praia. Foi isto que sobrou para o arquiteto Antonio Pithon. Fruto de uma paixão irrefutável pelo Esporte Clube Bahia e, como ele próprio definiu, “extrema boa fé”.

Antônio Pedreira Pithon iniciou cedo sua trajetória no Bahia. No ano de 69 foi chamado para assumir o cargo de diretor social e comandar a campanha “Sou Bahia, estou em dia”. Desde então não saiu mais da vida tricolor. Trabalhou em todas as diretorias a partir daí. Projetou e construiu o Centro de Treinamentos do Fazendão e a sede de praia da Boca do Rio. Até que se tornou presidente. Foram apenas 17 meses de gestão, mas o suficiente para transformar a vida.

Pithon repetiu o erro de muitos dirigentes da fase romântica do futebol. Deixou o amor pelo clube superar a vida pessoal. Até mesmo quando presidente da Federação Bahiana de Futebol (FBF) lutou pelos diretos tricolores e foi um dos responsáveis pela inclusão do Bahia na fundação do Clube dos Treze.

Como presidente, a paixão gerou atos inconseqüentes. Assim como muitos dirigentes e até alguns torcedores fariam, misturou a vida pessoal com o clube. Na tentativa de sanar dívidas, pegou um empréstimo pessoal de R$ 150 mil com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para pagar contas do Bahia.

O ato extremado não resolveu. A renúncia foi a solução encontrada. “No dia do aniversario de meu pai, saí de casa, fiz uma oração e disse: ‘meu pai, se o senhor estivesse vivo, o senhor iria aplaudir a minha atitude. Estou me afastando definitivamente do futebol’”, comentou Pithon.

Os problemas, no entanto, só aumentaram. O grupo que assumiu o tricolor passou a culpá-lo pelos fracassos. Seu nome foi retirado do ginásio de esportes que recuperou quanto presidente, mas, apesar de tudo isso, o amor impede que ele critique o clube. “Não foi o Bahia que me fez mal. Fui eu mesmo”.

Há 12 anos afastado do futebol, Pithon garante não ter voltado a pisar os pés na Fonte Nova ou Pituaçu para assistir uma partida de futebol. Os jogos, acompanha apenas pela televisão, sempre ao lado da atual esposa, a artista plástica Laila, e com a companhia de dois gatos.

Mãos trêmulas, fala arrastada e memória falha. Quem acompanhou o arquiteto Antonio Pithon nos 16 meses em que lutou pelos direitos do Bahia, pode se espantar com a trajetória dele ao deixar o clube. Homem rico, acostumado a viagens ao exterior, viu sua empresa falir, terminou o casamento e chegou a morar por seis meses na Casa de Retiro São Francisco.

Crucificado por muitos como o responsável pelo início da pior fase na história do clube, com a queda para a 2ª Divisão em 97, ele sentencia: “Sofri muito. Se não fosse minha capacidade para exercer a minha atividade de arquiteto, se não fosse a minha querida companheira (atual) que hoje está ao meu lado, eu não iria sobreviver”.

Pithon recebeu a reportagem da Tribuna da Bahia, há 15 dias em sua casa na Pituba, para aquela que considerou a primeira entrevista em que abriu o jogo sobre sua vida. Por mais de uma hora e meia contou histórias de quando era presidente da Federação Bahiana de Futebol (FBF), como diretor e presidente do Bahia e resistiu, mesmo quando as lágrimas ameaçaram rolar pelo rosto.

Arquiteto renomado no Estado, com mais de 500 obras realizadas, ele viu sua vida ruir em questão de meses. Deixou o Bahia em novembro de 1997. No ano seguinte, a renomada empresa de arquitetura fechou as portas. O casamento que rendeu três filhos, também não resistiu. Muito menos a sua própria saúde.

As mãos, que já elaboraram projetos linearmente, já não têm a mesma precisão. Dificuldade até mesmo na hora de apontar anotações em um livro. “Você desculpe esse negócio, eu estou com Parkinson, viu!?”, afirmou pouco antes de fracassar na tentativa de segurar um copo com limonada.

As causas da doença não são diagnosticadas. Mas, tudo indica que o Parkinson tenha origem no stress e decepções gerados ao deixar o clube. “Quando diziam que eu tirei dinheiro do Bahia, aquilo me atravessava o coração de um jeito…”, lembrou.

Os problemas na saúde foram acompanhados de mudanças drásticas na vida pessoal. O fim da empresa e a única renda gerada pela aposentadoria fizeram com que o arquiteto tivesse de recorrer à Casa de Retiro São Francisco. Depois de seis meses, foi morar em um apartamento na Ilha de Itaparica e viveu uma das piores fases de sua vida. “Fui até para algumas sessões espíritas”, revelou.

A volta por cima aconteceu somente depois que conheceu a atual companheira, a artista plástica Laila. “Estava na casa de uns amigos e falei para eles: ‘preciso conhecer alguém. Não aguento mais essa solidão”.

Hoje, Pithon já se considera recuperado. Os pedidos por projetos voltaram a aparecer. O cinema se tornou especialidade, com desenhos em Salvador e Angola. Aos 68 anos, depois de tudo pelo que passou, dá um perfeito exemplo de grandeza.

“Não tenho mágoa de ninguém. Isso não melhoraria em nada o que eu vivi”. Com informações de Raphael Carneiro da Tribuna Online

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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