A banalidade do mal entre torcidas do Bahia e Vitória

A propósito, um estudo feito pela UFRJ coloca o Brasil como líder no ranking de violência no futebol. Algo, assim, no país do futebol, que se pensava um país de povo pacífico, agride a consciência nacional. Muitos, como nós, mal completamos 40 anos, mas ainda vimos o tempo da torcida mista. Torcida mista que depois que a Fonte desabou virou coisa de “estória de pescador”, como se fosse lenda. Entrávamos todos juntos, quando vindos do Colégio Central, ou quando vindos do dique também, torcedores do Bahia e do Vitória. Sem frescura nenhuma e com naturalidade íamos ao campo extravasar a rotina e o tédio da vida comum.

Mas, as coisas foram mudando com as torcidas organizadas. Elas começaram a querer intimidar o torcedor não só dentro do estádio como também fora dele, nas aglomerações em torno do estádio o torcedor desavisado poderia ser abordado, tal qual como se estivesse sendo assaltado ou coisa pior; forçado a tirar sua camisa, quando muitas vezes era vítima mesmo de furto.

É muito triste tudo isso, identidade de jovens em formação crescendo e aprendendo gestos de intolerância. Ana Arendt já advertia sobre a banalidade do mal do nosso tempo, que faz com que as pessoas não reflitam sobre suas ações. Os torcedores, antes das organizadas, achavam mais interesse na diferença, e ela era vista como a coisa mais natural do mundo, até na mesma família era natural uns optarem por times diferentes. Hoje, a moda gira em torno de identificações que não toleram a diferença, forma-se com os clubes uma identidade doentia, paralelamente ao desenvolvimento de uma sociedade excludente e competitiva.

Hoje, a esperança reside num projeto de lei prestes a ser sancionado pelo presidente. Essa lei fere de morte as torcidas organizadas com a responsabilização independentemente de culpa, a responsabilidade será objetiva. Agora, ocorrendo dolo e o nexo causal entre a conduta e o dano, punições terão o condão de infligir pesadas multas às organizadas, que responderão pela ação de seus integrantes. Sem dúvida um grande avanço para voltarmos a ver no sorriso de torcedores uma beleza que reflita em todos os corações de baianos tricolores ou rubro-negros.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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